Um policial à moda moçambicana
“O Último Vôo do Flamingo”, baseado no livro homónimo de Mia Couto conta a fantástica história de uma série de crimes numa vila em Moçambique.
Tudo começa em Tizangara, no interior de Moçambique, quando misteriosamente cinco explosões matam soldados da Missão de Paz das Nações Unidas e o major Massimo Risi é chamado ao local para esclarecer os crimes.
De todas as explosões, restam apenas os pénis dos malogrados e os seus capacetes azuis.
Dirigido por João Ribeiro, cineasta moçambicano formado em Cuba, o filme mistura o discurso poético e cómico de Mia Couto com as superstições e lendas típicas da cultura moçambicana.
Temos por um lado o enviado das Nações Unidas, Massimo Risi como cabeça da investigação: metódico, neutro e objectivo, e por outro Joaquim, o seu tradutor, sensível e atento como ligação entre Massimo e o mundo que ele procura entender, de modo a distinguir os factos dos mitos.
Massimo Risi vê-se numa encruzilhada na busca pela verdade e tem de decidir se se deixa levar ,mergulhando no mundo fantástico de Tizangara ou se ignora todos os sinais e regressa para o conforto dos seus privilégios no Ocidente.
Em busca pelo autor do crime, Risi como um verdadeiro detective é em parte também antropólogo. Através dele somos obrigados a questionar a nossa realidade e a separar a vida do sonho.
Com o tempo, mergulhamos nos sonhos, memórias e lendas que se misturam com factos e crimes. São todos estes fenómenos que compõem o imaginário colectivo de Tizangara e por isso, fazem parte da trama também os feiticeiros e antepassados, tal como o fazem os corruptos e prostitutas.
Deste modo, em “O Último Vôo do Flamingo” exploram-se temas como a legitimidade da guerra, as intenções dos estrangeiros e as consequências do Colonialismo no mundo actual.
Um projecto ambicioso que nos traz Mia Couto entre a poesia, a prosa e a imagem, num enredo emocionante e equilibrado.
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