(Imagem: Reprodução Vulture)
O Tidal é um serviço de streaming que foi relançado ontem nos Estados Unidos. A plataforma, que já existe desde 2014 e foi reformulada pelo rapper Jay-Z, promete “preservar a importância da música em nossas vidas“.
Entre as armas do Tidal para competir com serviços do gênero, como Spotify, estão um acervo de 25 milhões de músicas e 75 mil vídeos e entrevistas exclusivas com artistas. O aplicativo para iOS e Android terá as funções de identificar canções que estejam tocando no ambiente, a exemplo do que faz o Shazam, e a de executar músicas mesmo sem conexão à internet.
Na apresentação da plataforma, Jay-Z se fez acompanhar de estrelas do Pop. A seu lado na conferência estiveram Rihanna, Kanye West, Madonna, Nicki Minaj, Jack White, Jason Aldean, Daft Punk, Win Butler e Régine Chassagne (dos Arcade Fire), Usher, J. Cole, Beyoncé e Alicia Keys, todos apresentados como co-proprietários do Tidal, que deverá fornecer maior qualidade de áudio nos arquivos (ficheiros) que disponibiliza.
No vídeo projetado durante a cerimônia de lançamento da plataforma, a promessa: “Tidal põe o poder de novo nas mãos dos artistas“.
A intenção é mudar a forma como se consome música e, além disso, desenhar o futuro da música digital. Uma plataforma criadas por e para os artistas. Será?
No Twitter, a cantora britânica Lily Allen soltou o verbo sobre o Tider: “hospedar conteúdo exclusivo das maiores estrelas do planeta em uma plataforma paga (eu concordo com a intenção), me dá medo de mandar as pessoas de volta para a pirataria e os sites de torrent”, publicou.
O raciocínio da cantora britânica é simples: além de não ser um serviço barato – pode-se adquirir planos de $9,95 e $19,95, a serem pagos mensalmente – , o Tidal tem contratos com as maiores estrelas da cena Pop atual. Se são contratos exclusivos, suas músicas só estarão disponíveis ali, e isso permite que ponha o preço que queiram. E pensando por esse lado, as pessoas que não podem ou não estão dispostas a pagar recorreriam a outros meios.
Segundo o Tidal, 75% do dinheiro arrecadado com as assinaturas será repassado para as gravadoras, que redistribuirão o montante entre artistas e compositores. Sobre isso Lily Allen diz: “se você é um artista co-proprietário, você vê 25% dos lucros, e, vamos encarar os fatos, e provavelmente uma parte maior do que 75% que os outros artistas. Vamos dizer que Jay Z botou 60 mil no site, ele provavelmente tem boas intenções, e é um homem de negócios. Ele conseguiu encontrar algumas pessoas importantes e desiludidas o suficiente para esse blábláblá de ‘pelos artistas’ enquanto tira um dinheiro”.
Em termos práticos, tudo indica que a plataforma propõe remunerar mais os artistas do que o Spotify, atual líder de mercado. Exemplo disso é a cantora norte-americana Taylor Swift, que em novembro do ano passado retirou todos os seus álbuns disponíveis em serviços de streaming musical como protesto pela forma como os artistas são remunerados, mas já disponibilizou a sua discografia na nova ferramenta (Tidal).
Segundo a revista TIME, o Spotify paga em números absolutos entre $0,006 e $0,0084 por execução. O valor a pagar é calculado através de diferentes variáveis: parte é a percentagem de royalties negociada pelo artista, parte vai para o seu editor, tendo em conta o país onde a canção é escutada e se o utilizador paga ou não mensalidade.
Veja abaixo quanto recebem os cinco principais artistas do Spotify:
Também na lusofonia a plataforma foi questionada. Na crônica “The revolution will not be tindalized“, publicada no portal Rede Angola, a cantora Aline Frazão relembra o grande gap da nova ferramenta:
“O Tidal não será diferente do Spotify numa coisa: nenhum deles protege financeiramente os projetos musicais pequenos ou os que estão a arrancar. Porque para conseguir que o Tidal nos pague as contas da luz e da água, precisamos que um número elevadíssimo de pessoas oiça as nossas músicas. Para que um número elevadíssimo de pessoas oiça a nossa música, precisamos de uma grande máquina de promoção atrás que leve o nosso trabalho ao grande público. A máquina pertence aos artistas de massas, como o Jay-Z. Conclusão: as dinâmicas viciadas não se invertem, antes pelo contrário” – escreve.
O que vai acontecer, não sabemos. Mas a oferta de produtos exclusivos promete aumentar, para quem decidir pagar por eles. Melhoria da qualidade também, é o que promete o Tidal. Mas se a nova plataforma vai realmente revolucionar a forma como hoje funciona o mercado da música, só o tempo dirá.