Tudo sobre o plástico nos oceanos: de onde vem, quais as consequências, o que falta fazer e mais
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Quanto à decomposição natural deste material, esta depende sempre do produto em que está inserido. No entanto, a espera é sempre elevada. As pontas de cigarro, por exemplo, demoram entre um ano e meio até 10 anos para se degradarem. As garrafas de plástico demoram 70, no mínimo, e podem chegar aos 450 anos. Mas há exemplos ainda mais drásticos, como as linhas de pesca (monofilamento) e o esferovite (isopor). Cada um destes produtos pode demorar mais de 500 anos até se degradar e, no caso do esferovite, a degradação pode nunca acontecer.
A ameaça ao nosso ecossistema e ao planeta Terra é absolutamente real, assustadora e tem que ser travada agora. Perceba o porquê.
Como é que o plástico vai parar aos oceanos?
Quais as principais consequências?
Além de representar 70% da superfície do planeta, é do oceano que surge mais de metade do ar que respiramos. Trata-se do verdadeiro pulmão do mundo, porque é lá que estão os pequenos vegetais que absorvem o dióxido de carbono da atmosfera e fazem fotossíntese. Isto significa, nada mais, nada menos, que não sobrevivemos se os oceanos não estiverem saudáveis.
Os ecossistemas marinhos têm como base alimentar uns pequenos organismos chamados plânctones; 80% da vida do planeta vive nos oceanos e depende diretamente dos mesmos. Quase metade da população mundial vive em áreas costeiras e alimenta-se por meio do que o oceano fornece. Todo este ciclo está ameaçado, ou seja, todos os ecossistemas estão em risco.
As principais consequências da poluição marítima ameaçam todo o nosso planeta. O impacto que esta tem na vida marinha e no ecossistema é estrondoso. As correntes marítimas formam autênticas manchas plásticas, fruto da acumulação do material ao longo do tempo, e os microplásticos são confundidos por alimento por algumas espécies. Muitas vezes, estas acabam mortas como vítimas deste flagelo: morrem mais de um milhão de aves e 100 mil mamíferos marinhos anualmente, como consequência da ingestão de plástico ou do entrelaçamento em utensílios descartados feitos do mesmo material.
Os peixes estão contaminados?
Plástico nos oceanos e as alterações climáticas
Nem todas as pessoas pensam na ligação entre a poluição dos oceanos e as alterações climáticas como algo óbvio, mas a verdade é que estes conceitos andam de mão dada. Para esclarecer esta questão, a Conexão Lusófona falou com Gil Penha-Lopes, licenciado em Biologia Marinha, investigador da área e professor no programa de Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Lisboa.
Em conversa connosco, Penha-Lopes explicou que, “de uma forma simplificada”, as alterações climáticas têm duas grandes causas: a emissão de gases de efeito de estufa e a destruição dos ecossistemas que realizam fotossíntese e capturam o carbono atmosférico, ou seja, as florestas e as algas oceânicas. “A contaminação por plástico em todo o sistema terrestre tem impactos significativos para a promoção das alterações climáticas, assim como para a capacidade da Vida se adaptar e evoluir”, clarificou o investigador. Da mesma forma, a degradação deste material envia mais gases de efeito de estufa — como o metano e o etileno — para a atmosfera.
Quanto às consequências do plástico nos oceanos, o especialista não tem dúvidas de que o futuro continuará problemático. “Os impactos da disrupção endócrina específica, de cada indivíduo de uma espécie, e ecosistémica — dado que afeta a cadeira trófica e funcional no seu todo — que o plástico tem e poderá ter, considerando os cenários climáticos, vão além da nossa capacidade atual (do ponto de vista científico) e deverão ter consequências severas para a manutenção de condições propícias à Vida, especialmente ao que sustem o ser humano neste planeta”, esclareceu Gil Penha-Lopes.
Quais os países que mais deitam plástico nos oceanos?
Um estudo publicado na revista Science, referente a 2010, liderado pela engenheira ambiental Jenna Jambeck, apurou quais os países que mais geram poluição nos oceanos, nomeadamente no que toca ao plástico. Conheça as posições do ranking e a quantidade assustadora que é gerada por cada um.
África do Sul; Índia; Argélia; Turquia; Paquistão; Brasil; Bruma; Marrocos; Coreia do Norte e os Estados Unidos da América são a restante metade dos 20 países que, por ordem, mais poluem os oceanos com plástico. É importante realçar que, se somada em conjunto, a União Europeia ocuparia o 18.º lugar, em vez de Marrocos.
Reciclagem resolve?
O plástico que é reciclado também acaba no oceano, infelizmente. Pode demorar mais a chegar, mas, eventualmente, é lá que vai parar. Isto não significa, de todo, que a reciclagem é inútil — bem pelo contrário. Um bom sistema de reciclagem pode fazer uma grande diferença. Conseguimos facilmente perceber isso através do exemplo norueguês. Neste modelo, citado pela BBC Brasil como o melhor do mundo no que toca à reciclagem de garrafas plásticas, há uma lógica de recompensa que faz com que as pessoas não descurarem a prática. Graças a este sistema, a taxa de reciclagem chegou aos 97% no país nórdico. Impressionante, não é? Trata-se de uma percentagem duas vezes maior que a brasileira.
Mesmo assim, é importante referir que a sociedade norueguesa não espelha o mundo. O plástico chega mais rápido e mais vezes às pessoas do que a hipótese de reciclar, com tanta facilidade, alguma vez chegará. Talvez seja mais eficaz arranjar materiais mais sustentáveis que o substituam, do que garantir que toda a população mundial o recicla. Isto porque, mesmo que a taxa de reciclagem do plástico subisse a pique, é muito mais seguro para o futuro do planeta que os materiais utilizados no quotidiano das pessoas sejam biodegradáveis e amigos do ambiente.
Mas, afinal, vale a pena reciclar? Claro, indubitavelmente. A reciclagem é uma prática cívica que deve ser incentivada, que ajuda o planeta no meio deste caos ambiental. O que fazer com o plástico se não reciclá-lo? Essa é a única maneira atual de atrasar a sua penetração nos locais indevidos — como os oceanos. No entanto, a resolução do problema não passa apenas por aí. Os danos já se tornaram demasiado grandes e o chamado single-use plastic — aqueles produtos de plástico que só se usam uma vez e que demoram meio milénio a desaparecer do planeta — não deveria sequer continuar a ser produzido.
A resposta é, portanto, negativa: a reciclagem não resolve. Deve ser praticada, não só com o plástico mas, também, com absolutamente todos os materiais recicláveis. No entanto, a resolução passa por medidas mais drásticas, que ataquem a fonte do problema. É necessário eliminar muitos dos produtos de plástico que existem atualmente, não só das nossas vidas como do mercado, e limpar os oceanos para salvar os ecossistemas e a vida animal. É um problema demasiado grande e tem que ser encarado com seriedade, através da implementação de medidas políticas que despromovam o lixo, o plástico e a economia do mesmo — e, claro, que responsabilizem e controlem as grandes corporações.
O que posso fazer para colaborar?
Reciclar é uma ajuda, claro, mas o melhor caminho para fazer verdadeiramente a diferença, individualmente, é ter consciência ambiental. Tudo o que produzimos acaba no oceano, de uma maneira ou de outra. Por isso, não basta ter cuidado com os sítios onde depositamos os nossos resíduos — temos que ir mais longe. O cuidado começa no momento em que escolhemos o que comprar.
Não comprar plástico é a melhor forma de o evitar. Na realidade, o grande objetivo da humanidade deveria ser (infelizmente, ainda a longo prazo) a extinção de todos os materiais que são tão ou mais insustentáveis que o plástico. No entanto, como o mercado funciona com base em intenções comerciais, e cada indústria desenha a sua estratégia de forma a gerar lucro, a transição não se adivinha fácil. O plástico continua a ser muito lucrativo e está presente em inúmeros produtos que já se entranharam no quotidiano das pessoas. Daí que são os/as consumidores que vão fazer a diferença, mudando a direção do mercado para outro foco: o dos materiais sustentáveis.
É essencial que se informe sobre o que compra e que faça a transição o quanto antes. Deve sempre preferir materiais de rápida degradação, que não infetem o nosso planeta e não prejudiquem outras espécies. A Conexão Lusófona tem deixado várias dicas sobre opções não plastificadas de, por exemplo, embalagens, palhinhas (canudos) e calçado. Também apresentamos sugestões para celebrar as épocas festivas de uma maneira mais ecológica — como o Natal e o Carnaval. Ainda assim, não cesse a sua procura, porque há cada vez mais marcas sustentáveis no mercado. Se todos prestarmos mais atenção, podemos ajudar a manter o nosso planeta vivo e saudável.
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