Conexão Lusófona

Sou contra o impeachment pelo possível efeito nefasto na democracia

(Imagem: Reprodução Veja)

 

Talvez seja um pouco tarde. Quem sabe os senadores do turno da tarde ainda consigam ler esta tão significativa tomada de lado antes de fecharem suas posições.

 

Pois bem: sou contra o impeachment.

 

Não é por julgar a presidente Dilma Rousseff uma boa governante e nem por achar que ela é completamente inocente nas imoralidades do seu partido e dos seus aliados. Há, no mínimo, forte conivência ou resignação de Dilma diante de um cenário escabroso de corrupção.

 

Sou contra o impeachment pelo possível efeito nefasto no cenário democrático brasileiro.

 

Em 2014, Dilma se reelegeu mesmo cheia de rachaduras. Fez um governo que não soube reagir a uma crise econômica, apenas maquiá-la. Sua campanha foi baixa, cara e coligada a partidos infiéis que já não lhe davam sustentação política alguma. Reeleger-se nessas condições, como se vê agora, é quase uma irresponsabilidade.

 

Dilma, portanto, não deveria ter vencido as eleições de 2014. Mas venceu porque não concorria sozinha. Venceu porque a oposição no Brasil passou os oito anos do governo Lula e os quatro de Dilma sem apresentar aos eleitores um candidato e um projeto de Brasil melhor e mais identificável com os anseios do eleitorado.

 

Aí entra o erro do impeachment.

 

Um impeachment agora desobriga a oposição a costurar ao longo de mais quatro anos um caminho melhor para o Brasil pela via democrática. Em vez de enfiar a viola no saco e refletir sobre como conseguiu perder mesmo para uma candidata em frangalhos como era Dilma, a oposição resolveu pedir tapetão.

 

É ingenuidade do PSDB acreditar que o impeachment para ele é uma boa.

 

A maioria da população brasileira está menos identificada do que nunca com os setores da sociedade com os quais o partido se aliou, e nada indica que mudará de ideia até 2018. Vamos ver quão longe o PSDB chegará em uma eleição presidencial enquanto seguir vinculado a Kim Kataguiris, pixulecos e camisa da Seleção na Paulista.

 

Uma boa mesmo o impeachment só é para o PMDB. Um mastodonte sem votos.

 

Não consigo ver o que de bom pode sair em dar poder a quem não tem voto. Observando reportagens sobre a composição do governo Michel Temer, percebe-se que o modus operandi de Temer será apenas o que de pior havia no governo Dilma. Em vez de um troca-troca descarado entre partidos corruptos da base amparado pelas urnas por falta de coisa melhor, será apenas um troca-troca descarado entre partidos corruptos da base.

 

Outro efeito nefasto do impeachment no cenário democrático já está em curso, dentro do PT.

 

O partido passará os próximos dois anos e meio discursando ter sofrido um golpe, no que não está de todo sem razão. Da mesma forma que o impeachment desobriga o PSDB de fazer reflexões, o mesmo ocorrerá com o PT. O discurso já comprado pelo seu eleitorado mais ingênuo será: “os ricos tiraram os pobres do poder. Nos ajudem a voltar para lá.”

 

Para haver uma reflexão sobre Operação Lava-Jato, por exemplo, seria fundamental que o PT perdesse uma eleição. E para um candidato mais íntegro do que os petistas apresentam.

 

Temo ainda que, uma vez eleito em 2018, o PT lide com a democracia com o mesmo desrespeito com que seus pares estão lidando agora, mas no sentido contrário. Passaria a justificar atos antidemocráticos como atos preventivos a um novo golpe.

 

Na Venezuela, por exemplo, bastou uma tentativa de deposição de Hugo Chávez no início de seu governo para dar ao presidente justificativas para sucessivamente violar as instituições do país de modo a não sair do poder nem depois de morto.

 

Tente imaginar um presidente petista em 2019, por exemplo, escolhendo um ministro do Supremo Tribunal Federal.

 

O quanto de republicanismo terá de ter esse presidente para não empossar um pelego completo? A nomeação de Dias Toffoli, ex-advogado do PT, no apagar de luzes do governo Lula, pré-julgamento do Mensalão, é um bom indicativo.

 

Se o impedimento de Dilma viesse por meio de um processo de cassação sério no Tribunal Superior Eleitoral ao analisar vínculo entre propinas e campanha eleitoral, provavelmente minha opinião seria outra. Mas o fato de o PT ser hoje um partido tomado pela corrupção e pela soberba não muda que ele será deposto em um processo torto, baseado em traição, vendeta pessoal e inconformidade com o resultado eleitoral.

 

Resumindo, o impeachment até pode ser merecido, mas não é justo. E não antevejo nada de bom vindo dele. Os meios não justificam o fim, e tampouco este fim será bom.

 

Sou contra o impeachment em 2016 por que ele nos coloca no rumo de um 2018 pior.

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