Os símbolos de Angola: mistérios, significados e superstições
5 minSe aprofundarmos o significado de emblemas nacionais, chegamos à conclusão de que estes servem, essencialmente, para unir uma comunidade, através de representações visuais e verbais. Além disso, ajudam a sintetizar os valores e objetivos de um povo, bem como a história nacional. São frequentemente mobilizados em celebrações de patriotismo, nas quais respiram as aspirações nacionalistas. Cada nação possui os seus e o território angolano não é exceção. Os símbolos de Angola podem ser encarados como inclusivos e representativos do (vasto) património cultural.
Graças ao valor que representam, algumas das insígnias são elevadas à categoria de entidade materna. Umas quantas estão expostas em museus, devido à relevância histórica que retratam; outras são usadas/mencionadas somente em cerimónias — fúnebres ou de celebração — e em ocasiões especiais. Ainda assim, todas sobreviveram ao tempo, alcançando o epíteto de (quase) eternas. Os símbolos de Angola são sinónimos de raridade e exclusividade. Têm a nobre tarefa de personificar a essência do território, conferindo-lhe um quê de singularidade.
Perseguindo o objetivo de os catalogar, reunimos informações sobre alguns dos ícones mais importantes do país. Todos surgiram em Angola e cumprem a mesma importante missão: integrar a comunidade etnocultural, através da celebração da sua representação.
Símbolos de Angola: os nacionalistas
A bandeira
Este símbolo angolano foi adotado em 1975, durante a proclamação da independência do território. Apresenta duas cores predominantes, dispostas em duas faixas horizontais. A superior apresenta uma tonalidade vermelho-rubra, em representação do sangue do povo angolano, derramado durante a opressão colonial, a luta de libertação nacional e a defesa da pátria. Já a inferior, de cor preta, personifica o Continente Africano.
No centro da bandeira, figura uma composição constituída por uma roda dentada — símbolo da solidariedade internacional e do progresso. Além desta, estão representadas uma catana e uma estrela — ambas de cor amarela, simbolizando a riqueza do país.
A insígnia da República de Angola
Formada por uma secção de uma roda dentada e por uma ramagem de milho, café e algodão, a insígnia da República aparece em representação dos trabalhadores angolanos, da produção industrial, dos camponeses e da produção agrícola, respetivamente.
Na base, está um livro aberto — símbolo da cultura e da educação —, bem como um sol nascente, que significa o surgimento de um novo país.
No centro da insígnia, estão representadas a catana e a enxada, simbolizando o trabalho e o início da luta armada. Na parte superior, figura uma estrela — símbolo da solidariedade internacional e do progresso. Na parte inferior, está presente uma faixa dourada com a inscrição “República de Angola”, que abraça os restantes elementos.
O hino nacional
Intitulado “Angola Avante!”, o hino nacional foi adaptado em 1975, depois da conquista da independência do país ao domínio colonial português. A letra é da autoria de Manuel Rui Monteiro e a música foi composta por Rui Vieira Dias Mingas.
Refrão:
(…)
Angola, avante!
Revolução, pelo Poder Popular!
Pátria Unida, Liberdade,
Um só povo, uma só Nação!
(…)
Símbolos de Angola: os naturais
A palanca-negra-gigante
É uma subespécie rara de antílope, exclusiva de Angola. Pode ser avistada em Malanje — de onde é originária —, na Reserva Natural e Integral do Luando e no Parque Nacional da Cangadala.
A palanca-negra-gigante é muito respeitada pelo povo angolano, que a considera símbolo de vivacidade, velocidade e beleza. Durante muito tempo, pensou-se que estava extinta, mas uma recente investigação científica corroborou a sua existência. Ainda assim, encontra-se catalogada como uma subespécie em perigo crítico de extinção, integrando a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. Foi alvo sucessivo da caça furtiva, principalmente durante a guerra civil angolana, ficando reduzida a cerca de 100 exemplares.
A sua imagem é utilizada como marca da Transportadora Aérea de Angola (TAAG). Além disso, batiza a Seleção Angolana de Futebol, frequentemente apelidada de “palancas-negras”.
A welwitschia mirabilis
É reconhecida como o “polvo do deserto” devido ao comprimento das suas folhas, que se assemelham a tentáculos. Apesar do seu aspeto desgrenhado, incolor e seco, a welwitschia mirabilis é considerada uma planta singular. Além de ser a mais famosa do território angolano, possui uma característica invejável: a longevidade. Segundo as informações recolhidas pelos especialistas, pode ultrapassar os mil anos e o seu único habitat é o vasto deserto do Namibe, localizado no sul de Angola, que se estende até à Namíbia.
É vista, pelos angolanos, como um símbolo de resistência, tenacidade e sobrevivência, devido à sua (grande) capacidade de resiliência: aguenta temperaturas superiores a 60 graus e até cinco anos sem chuva. Por estes motivos, é também encarada como um emblema que eterniza a força do país.
Os baobás
Calabaceiras, imbondeiros ou embondeiros (como são frequentemente denominados em Angola) e, ainda, baobás são alguns dos nomes mais comuns da “árvore garrafa” africana. Esta pode armazenar no seu tronco mais de 100 mil litros de água e, até hoje, continua a servir de inspiração para poesias, ritos e lendas. Na comunidade angolana, há quem acredite que a alma de uma pessoa que seja sepultada debaixo desta árvore viverá enquanto esta existir — e existem exemplares que atingem os seis milénios.
É considerada, segundo alguns estudos científicos, a maior e mais antiga árvore de fruto do planeta. As suas folhas são ricas em cálcio, ferro e lípidos, podendo ser utilizadas como medicamento eficaz no combate a febres e a inflamações. O múcua (ou mukua) — o seu fruto — também pode ser consumido, cru ou transformado. Em Angola, é frequentemente utilizado na preparação de sumos e na confeção de gelados.
Até hoje, os baobás são considerados árvores sagradas. Simbolizam a fertilidade, mas também a resistência dos escravos. Infelizmente, têm desaparecido de forma assustadora — não só do continente africano, de onde são naturais, como de outros locais para onde as suas sementes foram transportadas. As alterações climáticas, provocadas pelo aquecimento global, são apontadas como a principal causa da sua morte.
Símbolos de Angola: os culturais
“O Pensador”
Esta estátua, originalmente esculpida em madeira ou moldada em barro, é uma herança deixada pela comunidade Tchokwe (Cokwe). A figura “O Pensador” surge em representação dos adivinhadores, que se sentavam junto aos cestos de adivinhações (ngombo) e interpretavam a sorte e o futuro. Retrata a figura de um ancião ou de uma anciã, de forma intencional — os mais velhos ocupavam um estatuto privilegiado, simbolizando a sabedoria do povo.
Os primeiros exemplares desta estatueta foram esculpidos nas oficinas do Museu do Dundo, no final da década de 1940, sob a orientação da Diamang, na época a Companhia dos Diamantes de Luanda.
Hoje em dia, é um símbolo emblemático de Angola, sendo representado, inclusivamente, na filigrana das notas de kwanza, a moeda nacional. É considerada uma obra de arte fidedignamente angolana.
Os bakamas
São congregações culturais, com seitas próprias, originárias da província de Cabinda (Angola). Segundo os historiadores, existiam cerca de quatro grupos de bakamas: Kizo (ou Tchizo), Kinzazi, Susu e Ngoyo — mas alguns destes já se encontram extintos.
Os bakamas são definidos como uma espécie de organização secreta, de caráter excecional, reconhecida pelas suas aparições e exibições culturais. As pessoas que a integram participam em manifestações públicas, mais concretamente em cerimónias especiais (atos fúnebres, homenagens, festas de purificação, agradecimentos, etc.). Aparecem totalmente cobertas, utilizando máscaras faciais, folhas de bananeira secas e restos de pano, sem nunca revelarem a verdadeira identidade.
Na sua essência, os bakamas são tidos como um dos símbolos históricos dos povos de Cabinda. Sempre que for necessário julgar, celebrar ou decidir, este grupo intercede na comunidade. Acredita-se que têm o poder de possibilitar a interação com os espíritos ocultos dos deuses e dos antepassados, visando a reconciliação entre os vivos e os mortos.
Marimba
Além de ter o mesmo nome de um município angolano (da província de Malanje), este instrumento de percussão — semelhante a um xilofone — produz um som doce e melodioso. É originário de Angola, mas rapidamente foi difundido para outros países, por volta do século XVI. É, geralmente, tocado com duas ou seis baquetas, revestidas de lã ou feltro, mas também pode ser percutido com as mãos.
O nome “marimba” (ou dimba) nasceu da língua quimbunda (kimbundu), falada nas províncias de Luanda, Catete e Malanje. Hoje, batiza um instrumento musical que já se difundiu pelo mundo. As suas variantes vão desde os xilofones mais retos — considerados os mais antigos — aos curvos — que podem ter entre 15 a 19 teclas, correspondendo ao número de câmaras de ressonância, constituídas (normalmente) por cabaças presas com cavilhas de madeira e cordas.
A marimba é tocada em diferentes cerimónias angolanas: funerais, rituais de iniciação, casamentos, celebrações, comemorações, etc. Para cada uma destas, existe uma música/melodia específica, capaz de traduzir sentimentos de alegria, tristeza ou de infortúnio, variando conforme a ocasião.
É um dos instrumentos tradicionais da música angolana e, até hoje, continua a ser tocado pelos mestres marimbeiros das comunidades locais.
As danças
Em Angola, a dança ramifica-se em diversos géneros e significados, variando de acordo com os contextos sociais e recreativos. É utilizada, essencialmente, como um veículo de comunicação religiosa, intervenção social, celebração e ritualista.
É presença assídua no quotidiano angolano e é uma das formas de expressão artística mais fortes. Pode ser ritmada por instrumentos de percussão, principalmente por tambores e pela marimba, ao som de cânticos tradicionais. As coreografias variam conforme o folclore de cada região, mas todas, através dos passos energéticos, cumprem a missão de representar os costumes da comunidade local. Em baixo, deixamos-lhe uma compilação de alguns dos géneros de dança mais populares de Angola.
• Semba: é uma das danças e géneros musicais mais populares do território, mas que rapidamente se disseminou pelo mundo. Há quem defenda que esteve na origem do samba brasileiro, do kuduro e kizomba angolanos. Normalmente, é dançada a pares e os passos são quase todos improvisados, fluindo ao som da música e da destreza dos pares.
• Rebita: é um género de dança de salão caracterizado pelas coreografias coordenadas do chefe da roda, que vão executando e gesticulando os passos, ao sabor do ritmo da música. A ligação dos pares é notória, existindo uma certa teatralização dos sorrisos e dos olhares, enquanto se dança. Hoje em dia, encontra-se em risco de se extinguir do território angolano, por falta de bailarinos que a perpetuem.
• Kabetula: é um género de dança tipicamente carnavalesco, da província do Bengo. Caracteriza-se pelos saracoteios muito rápidos (ação de mexer os quadris) e pelos saltos acrobáticos. As vestes dos bailarinos costumam ser brancas, adornadas por lenços amarrados na cabeça ou nos pulsos. Além disso, o apito é considerado um dos acessórios indispensáveis, servindo para fazer as marcações rítmicas do comandante da dança.
• Kazukuta: é um género de dança que se caracteriza pelo sapateado lento, seguido de oscilações corporais — o bailarino vai intercalando os passos no calcanhar e na ponta dos pés, apoiando-se sobre uma bengala ou um guarda-chuva.
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