Lançado mundialmente nas estreitas ruas dentro das muralhas da vila de Óbidos, em Portugal, o novo livro que leva a assinatura do prêmio Nobel de Literatura José Saramago se inspira no estilo literário mais brasileiro de todos. As xilogravuras de outro José, o pernambucano J. Borges, ilustram a história escrita na década de 70 que narra o aparecimento de um lagarto gigante no tradicional bairro lisboeta do Chiado.
A história virou livro por obra do editor argentino Alejandro García Schnetzer, que levou a ideia de unir o conto original à arte do conhecido artista pernambucano à Fundação José Saramago. “Ele procurou a fundação e nos propôs esse livro, e dissemos logo que sim”, conta Pilar del Río, viúva do escritor e presidente da fundação. O editor comemorou o lançamento em Óbidos dizendo que, quando isso acontece, se sente “um instrumento” de uma obra que é muito maior.
O conto publicado originalmente no livro “A Bagagem do Viajante” (1973) ganhou ilustrações que dialogam com o texto e ajudam a contar a inusitada operação criada por Saramago após o aparecimento do réptil na capital portuguesa. J. Borges ganhou fama ao produzir as gravuras do livro Palavras Andantes (1993), do uruguaio Eduardo Galeano, e foi chamado de “gênio da arte popular” pelo jornal norte-americano New York Times.
O pernambucano conta que ficou “muito alegre” ao saber que Saramago possuía suas gravuras em casa. Ele comemora que foi “por intermédio do saudoso Eduardo Galeano” que o escritor português foi apresentado ao seu trabalho. “Com isso eu fico muito satisfeito”, diz.
Segundo Pilar del Río, Saramago não só admirava as xilogravuras do xará brasileiro como “dizia que para ele J. Borges compreendia e explicava o mundo de forma aparentemente simples e ao mesmo tempo profunda, o que lhe fazia recordar os avós”.
Ela conta que quando recebeu as matrizes em madeira enviadas por J. Borges decidiu que o material “era bonito demais para ficar guardado num armário”. Assim nasceu a exposição que reúne os desenhos e as matrizes de “O Lagarto”, uma das principais atrações do Festival Literário Internacional de Óbidos (Folio) e que deve ser levada ao Brasil para o lançamento do livro.
– É mais do que uma mostra sobre ‘O Lagarto’. É, antes de mais nada, uma homenagem a esse artista popular brasileiro cujo trabalho José Saramago respeitava e admirava. É também uma maneira de dar a conhecer ao público português um pouco sobre esse universo tão rico que é a literatura de cordel – diz Pilar del Río.
“O Lagarto” foi editado pela Porto Editora e já está disponível em Portugal. O lançamento no Brasil será no primeiro semestre de 2017 pela Companhia das Letras. Diferente dos cordéis, o livro foi impresso em alta qualidade e com capa dura. São 24 páginas divididas entre trechos do conto e as xilogravuras do artista brasileiro.
Título: O Lagarto
Autor: José Saramago
Ilustrações: J. Borges
Editora: Porto Editora (Portugal), Companhia das Letras (Brasil)
Dimensões: 215 x 287 x 10 mm
Páginas: 24
J.Borges
Nasceu em Bezerros, no Estado de Pernambuco, em 1935. Aos 20 anos começou a vender cordéis nas feiras e conta que só soube que a arte que fazia chamava-se “xilogravura” quando foi alertado por uma admiradora. J. Borges escreveu algumas centenas de cordéis, ilustrou o livro “As palavras Andantes”, de Eduardo Galeano, e expôs o seu trabalho nos EUA, Suíça, França, Alemanha, Venezuela, Itália e Cuba. Em 2006 recebeu do Governo do Estado o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.