Samuel de Saboia, o audaz prodígio da arte contemporânea brasileira
4 minSamuel de Saboia — ou Sarmurr, como é alcunhado comummente — tem marcado o panorama artístico mundial. Tem apenas 21 anos e é natural de Recife (Pernambuco, Brasil). Iniciou as experiências em tela com cerca de “um ou dois anos”. Foi assim que nasceu a sua primeira obra, na qual brilha uma galinha, guardada pela sua mãe até aos dias de hoje. Desde essa altura, o encorajamento dos pais tem sido constante. A este, juntou-se uma tia, adjetivada pelo artista como sendo “muito especial”, que apostava nos traços hiper-realistas, pintados a óleo, e que sempre incentivou Samuel a seguir uma carreira artística.
Na escola, não conseguia focar “em mais nada” que não se relacionasse com a pintura; na faculdade, os interesses mantiveram-se os mesmos. “Eu sempre soube da capacidade e, mais do que isso, do chamado e voz interna que estiveram sempre presentes. Via tudo de uma outra forma e, às vezes, tinha dificuldade em traduzi-lo. Mais do que idiomas, a pintura foi a minha forma de expressar sem interrupções”, afirmou o artista, numa entrevista exclusiva à Conexão Lusófona.
Assim que começou a construir um vínculo com as artes plásticas, este nunca mais parou de crescer e evoluir. Investiu algum tempo na academia, explorando os cursos de design gráfico e de arquitetura, mas rapidamente decidiu emancipar as suas emoções e investir no autodidatismo; longe das normas institucionais. “O meio acadêmico atual pasteuriza demasiadamente as ideias, dificultando, assim, que, além de estudantes, nasçam pessoas geniais, criadoras e visionárias”, explicou Saboia. Apesar disso, o artista realça que não demoniza o estudo convencional, definindo-o antes como “um maquinário que não é acessível a todos”, inserido num ambiente que se pauta por regras, em vez de se reger pela emoção.
A conquista dos holofotes internacionais
A onda de visibilidade massiva atingiu-o em 2018 — e com esta vieram as correntes tóxicas do mediatismo. Depois do jornal brasileiro Folha de S. Paulo ter publicado um artigo sobre a exposição individual do artista recifense “Belas Feridas” (Beautiful Wounds), que havia sido apresentada na cidade de Nova Iorque (Estados Unidos da América), as críticas e opiniões não tardaram a surgir. Se uns resolveram falar da aparência de Samuel, outros decidiram tecer comentários conservadores, racistas e odiosos às suas obras. Mas o artista não deixou que os tumultos de terceiros o abalassem, guiando-se pelo seu lema de vida: “o sol não lhe fará mal de dia, nem a lua de noite”.
Inspirado na morte (violenta) de cinco pessoas importantes que passaram pela sua vida, Samuel conseguiu fechar o ciclo e transcender fronteiras — físicas e intelectuais — com esta primeira exposição internacional. Encandeou a cidade que “nunca dorme”, bem como as inúmeras pessoas que visitaram o seu trabalho artístico. Muitas delas levaram até flores, depositando-as junto das telas que serviam de memorial aos amigos que haviam partido.
Além de Nova Iorque, o trabalho “Belas Feridas” esteve patente em cidades como Paris e Lisboa. Este, segundo Samuel, marcou “tanto a conclusão de um estado de luto, quanto o início de uma nova vida/carreira” e não poderia ter sido melhor recebido.
Desprendido de convencionalismos, o artista continua a conquistar espaço no palco cultural. Quando produz, norteia-se pelo silêncio, pelo espírito e pelo cansaço, abrindo igualmente espaço para a representação da alegria, da fome, da pobreza e da ostentação nas suas obras. Tudo isto porque a pintura para ele é uma soma de estímulos, que não se pauta pelo início de um processo, mas que se concentra, sobretudo, na continuação.
Que legado, Samuel?
O percurso artístico ainda está no início, mas Saboia não consegue imaginar-se a fazer outra coisa que não arte. “Não tem como mudar essa chavinha; algo nela é muito intrínseco e creio que esta se mostraria, mesmo que eu a negasse”, garantiu.
Nos seus diálogos com a pintura, o artista brasileiro levanta a bandeira da representação da diversidade étnica, expressando-se além dos cânones tradicionais, sem procurar o arquétipo da perfeição. Pinta o que sente (ou o que imagina), com a ânsia de “incentivar a fé de outras pessoas; seja em Deus, na arte, no amanhã ou nos seus sonhos”.
As comparações com o pintor americano Jean-Michel Basquiat têm acompanhado os seus trabalhos, mas a assinatura deste jovem prodígio — que é sinónimo de inteligência, genialidade, mestria e sensação — é muito própria. Saboia não procura criar uma relação com o panorama artístico passado, voltando as suas aspirações para o presente e para o futuro.
Quando questionado sobre a hipótese de retratar o atual panorama brasileiro em tela, admitiu que o “sangue frio” tomaria conta dos seus contornos. O jovem artista, que confessa que não vive sem “família, passaporte e um par de botas pretas”, define-se como um “enfant terrible” (criança terrível). Talvez porque a sua constante desconstrução e reinvenção despertem um certo prurido nos conversadores, alimentando-lhe o epíteto de intimidante (porque provoca terror e desconcerta as massas).
Triunfos que semeiam novas aprendizagens
Permanecerá no seu atelier em Paris até à semana da moda, que decorrerá em julho (2019), retornando ao Brasil depois disso. Até lá, continuará a investir na arte, sempre com o desejo de transformar e agitar as correntes artísticas. Não fosse ele um artista — que, segundo o dicionário de língua portuguesa, é sinónimo de criador, intérprete, hábil, talentoso, astuto e mestre — repleto de energia (re)produtiva.
Nota: Caso demonstre interesse em adquirir alguma obra do Samuel, estas estão disponíveis para envio internacional. Para esclarecer qualquer dúvida, contacte o seguinte endereço eletrónico: assessoria.samuelsaboia@gmail.com
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