A coisa está tomando um rumo absurdo no cenário político brasileiro. Todos os dias há uma nova denúncia e um novo nome envolvido em mais um escândalo de corrupção no paraíso dos ladrões. Pra quem defende partido x ou y, ou esquerda ou direita, entendam que não existe isso, e você, que não é cabo eleitoral nem membro de alguma sigla partidária, segue o fluxo sem ter a noção do que está acontecendo. Preste atenção antes de levantar uma bandeira tanto para um lado quanto para outro. Há ladrão saindo pelo ladrão, independente de partido ou posição.
O mau costume do poder dos políticos, aquela mania de mandar em tudo e em todos, está se esvaindo da cultura dessa classe e os colocando no devido lugar, no lugar de cidadãos representantes do povo e não cidadãos acima do povo, ou se preferir, acima da carne seca.
Antes de transbordar toda essa sujeira, esses bandidos tinham poder de falar ou ameaçar o poder judiciário no momento em que precisavam. Imagino que bastasse um telefonema ou uma reunião regada a menus caros para que resolvessem qualquer “mal entendido”. Agora os tempos são outros, a temporada de caça está aberta e ordens de prisão são expedidas praticamente todos os dias. O engraçado é que mesmo assim, com provas evidentes e escandalosas, esses caras-de-pau ainda tentam manifestar suas idoneidade com declarações descaradas do tipo “não sei de nada, nem conheço essa pessoa”, “nunca fiz isso na minha vida”… e aí por diante.
Nunca os assessores parlamentares e jurídicos de deputados, senadores e empresas fraudulentas redigem tantas frases iguais negando o envolvimento de seus patrões nessas falcatruas evidentes. Reparou a falta de respeito? Sempre negam, negam e negam. Depois são julgados e condenados, alguns vão pra cadeia, outros com prisão domiciliar etc. É claro que as penas deveriam ser mais justas e severas, mas já é um começo. O importante aqui é observarmos que esses caras sempre acharam que nunca seriam pegos, que podem passar por cima da lei, usando os privilegiados recursos do sistema político, e sair ilesos. Ou seja, a palavra destes indignos não vale absolutamente nada, e ainda há que se preste a defender um lado ou outro, pior, ainda muitos desses canalhas se reelegem.
Se faz parte de algum partido ou recebe dinheiro deles, é compreensível que defenda lado a ou b, mas se não se encaixa em nenhuma destas categorias, por favor, não se deixe enganar por palavras difíceis, roupas bem ajustadas e cabelos bem penteados desses falsos homens e mulheres direitos e honrados, quanto menos tenha pena de algum deles baseado em seu semblante de bonzinho ou de um “digno” delator.
Um grupo (diga-se quadrilha) de políticos acusados e outros na mira de investigações, manobram para inibir/obstruir as investigações do poder judiciário (veja matéria). E só conhecemos os que tem os nomes divulgados, imagine a quantidade não divulgada que tem no lastro. E, na verdade, esse movimento todo deles é uma indignação, eles ficam realmente frustrados porque não conseguem mais manobrar tranquilamente suas maracutaias, não acreditam no que está acontecendo, afinal, eles não têm mais o poder que tinham antes, e isso os deixam nervosos, perplexos, “onde já se viu, não mando mais nessa m.!!!“, e um a um, de carreirinha, vão entrando na fila para dar explicações sobre o monte de dinheiro que brotam de seus bolsos. A última e hilária declaração foi do relator Ronaldo Fonseca (PROS-DF) “em defesa” do afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Até bandido tem direito a defesa”
Já ouvi alguma matéria, faz tempo, afirmando que o dinheiro da corrupção no Brasil não é tão relevante em relação ao total arrecadado. Mesmo sendo insuportável essa afirmação, imagino que o percentual deva ser bem alto, talvez (é um chute) metade do que arrecadam é destinado à desvios. Pense bem, são políticos, lobistas, assessores, amigos, família, empresas, fornecedores, outros países, e sabe mais quem…
Me preocupa essa situação. O Brasil, até então detentor de uma imagem de povo calmo, solidário e feliz, está caminhando para uma postura um pouco mais moral e ética – no teor da palavra, não na visão do alto clero (que já vimos, fica só na escrita). E quando há procura por moral e ética, há contestação e crítica, e se estas não forem respeitadas, a calmaria pode não reinar mais, e o saco pode estourar, não o saco sem fundo, o saco da paciência. O sapateado em nossas cabeças começa a doer e talvez, até agora, tenhamos engolido toda essa porcaria justamente por sermos pacíficos demais, obedientes demais, sossegados demais, frouxos demais. E se acordarmos? O que vai ser?