Rio 2016: Com ousadia e carisma, angolanas do handebol conquistaram a torcida brasileira
A torcida brasileira do handebol feminino já tem uma seleção favorita – após as jogadoras do Brasil, é claro -: as meninas da seleção angolana foram “adotadas” pelos torcedores, que vibram com cada lance, e fazem com que as africanas joguem praticamente como o time da casa.
Nas vitórias de Angola diante da tradicional Romênia, terceira colocada no último mundial e algoz do Brasil naquela competição, e de Montenegro, cantos como “eu sou angolano, com muito orgulho e muito amor” embalaram as jogadoras. Até então, o país africano só havia vencido um único jogo ao longo de suas cinco participações olímpicas: contra a Grã-Bretanha, em 2012, país sem nenhuma tradição no esporte e que montou uma seleção às pressas para preencher a cota de anfitrião.
Um dos nomes mais festejados pela torcida brasileira é a goleira angolana Teresa Patricia Almeida, mais conhecida como Bá, apelido que carrega desde a infância. Bá chamou a atenção por seu porte físico incomum para a modalidade (são 98 quilos distribuídos em 1,7 metro de altura), pelas excelentes defesas e por seu carisma. Depois de vê-la fechar o gol e frear o potente ataque romeno, o público da Arena do Futuro decretou que “Bá era melhor que Neymar”.
– Acho que o que chamou a atenção dos brasileiros foram as minhas defesas e o fato de eu ser um pouquinho gordinha. Não esperava tanto carinho porque somos de seleções diferentes e eu não contava com isso. Fico muito feliz de receber toda esta atenção – disse a jogadora, esbanjando carisma em entrevista à Agência Brasil.
Um dos segredos do sucesso de Angola está na mescla de gerações e no entrosamento do grupo. A média de idade das 14 meninas que estão no Rio de Janeiro fica em exatos 27 anos. A mais nova é Lili, de 20 anos, e a mais velha é Neyde Barbosa, de 35. Além disso, sete meninas jogam a sua primeira Olimpíada, trazendo sangue novo. Para que a pressão não seja sentida, a outra metade já tem experiência em Jogos Olímpicos.
Dentre os adversários, só havia uma seleção capaz de abalar a relação entre a torcida carioca e o time feminino de handebol de Angola: a brasileira. Na manhã da sexta-feira (12 de agosto), quando Brasil e Angola mediram forças, as africanas acabaram por perder, mas não sem antes dar muito trabalho às brasileiras.
– A seleção de Angola é muito rápida no ataque. A gente acha incrível como elas conseguem encontrar espaços e a gente não consegue fechar. No primeiro tempo, nosso jogo não encaixou – reconhece a ponta Alexandra Nascimento Martinez, eleita a melhor jogadora do mundo em 2013.
A central e capitã do time angolano, Natália, autora de nove gols na partida contra o Brasil, sabia que, além de desafiar as campeãs mundiais de 2013, as angolanas também teriam que jogar contra a torcida.
– Já sabíamos que seria um jogo difícil, contra um valoroso adversário que é o Brasil. Já estávamos preparadas para isso e sabíamos que hoje não teríamos o mesmo apoio.
O handebol, especialmente o praticado pelas mulheres, é uma das paixões nacionais de Angola. Apesar de ser a grande força continental (foram oito medalhas de ouro no campeonato africano entre 1998 e 2012) e ter disputado todas as olimpíadas desde 1996, a seleção ainda está num nível baixo em relação ao cenário internacional.
Nenhuma jogadora do time angolano atua fora do país – ao contrário da realidade brasileira, por exemplo, em que 12 das 14 convocadas estão nas principais ligas do mundo. Os melhores resultados de Angola na história foram o sétimo lugar em sua estreia olímpica, em Atlanta, e a mesma posição no Mundial da França, em 2007.
– Estamos muito aquém daquilo que se vê e se faz em nível internacional. O handebol é um fenômeno do esporte angolano. Porque, apesar de termos imensas dificuldades em termos de infraestrutura, recursos humanos e até financeiro, estamos dando as nossas cartadas e conseguindo resultados aqui e acolá – reconhece Carvalho.
A seleção angolana disputa as quartas de final na noite desta quarta-feira (17 de agosto), valendo uma vaga entre as quatro melhores seleções femininas na modalidade. As angolanas furaram qualquer previsão, se classificaram pela primeira vez na história para as quartas de final da Olimpíada e podem garantir uma medalha olímpica para o país.
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