(Imagem: Divulgação Apopo)
Já pensou que um rato pode salvar a sua vida? Uma organização belga que atua na África Subsaariana tem provado que não só é possível, como efetivo.
Tudo começou como hobbie de Bart Weetjens, criador da organização Apopo, que se dedica a desenvolver métodos de detecção usando ratos treinados. Weetjens tinha ratos como bichos de estimação quando criança e percebeu que os animais, além de inteligentes, eram treináveis e com olfato muito preciso.
Primeiro, teve início o treinamento dos animais para detectar o TNT, explosivo usado em minas terrestres que tem um odor forte e característico. Mais tarde, teve início o trabalho com os animais que são usados para detectar o odor da tuberculose.
Apelidados de “ratos heróis” (HeroRATs, em inglês), os animais são treinados desde cedo, já na quarta semana de vida. Após passarem por uma fase de familiarização com o mundo humano, são treinados para associar um barulho de clique com uma recompensa em forma de comida. Mais tarde, são apresentados ao cheiro característico do TNT ou da bactéria causadora da tuberculose. O rato se especializa, assim, em reconhecer esse odor no solo (no caso dos ratos que atuam na detecção de minas terrestres), ou em amostras de escarro humano (no caso dos animais usados para identificar a tuberculose).
Ajuda no combate à tuberculose em Moçambique
Desde 2013, ratos treinados foram os responsáveis por detectar 1.182 casos de tuberculose que passaram despercebidos em unidades de saúde da cidade de Maputo, Moçambique.
Os ratos cheiram amostras infectadas que ficam em buracos no chão da gaiola e sinalizam ao detectar o odor característico da tuberculose, mantendo o nariz por mais de três segundos no buraco correspondente à amostra infectada.
O médico Emilio Valverde, gerente do projeto de detecção de tuberculose em Moçambique e professor da Universidade Vanderbilt, nos EUA, explicou em entrevista ao portal G1 que “os ratos de detecção da tuberculose são pelo menos tão precisos quanto os exames convencionais de microscopia, mas sua principal vantagem é que eles são 20 vezes mais rápidos“. De fato, enquanto um roedor é capaz de cheirar centenas de amostras em 20 minutos, um técnico de laboratório faria o mesmo trabalho em quatro dias.
A cada ano, 9 milhões de pessoas são infectadas pela tuberculose e 3 milhões desses casos ocorrem na África Subsaariana justamente por causa dos sistemas inadequados de saúde e falhas na detecção da doença. Em Maputo, a organização desenvolve o projeto em colaboração com o Ministério da Saúde de Moçambique e com a Universidade Eduardo Mondlane. O projeto tem parceria com 13 unidades de saúde da cidade.
Detecção de minas terrestres em Angola e Moçambique
Após décadas de guerra civil, Angola e Moçambique têm ainda explosivos ocultos sob o solo de largas regiões, pondo em risco a vida de comunidades locais.
Um rato treinado para localizar minas terrestres é capaz de “limpar” 200 metros quadrados em apenas uma hora, trabalho que tomaria cerca de 50 horas caso fosse realizado com um detector de metais. Os roedores são capazes de identificar minas plásticas e de metal, ignorando a sucata metálica que houver no solo. Quando um rato descobre uma mina, indica a presença dos explosivos marcando a localização, que é posteriormente confirmada por um desminador humano. Mas não se preocupe com a vida dos animais: uma vez que os animais pesam no máximo 1,5 kg, são muito leves para disparar as minas terrestres, oferecendo uma detecção segura dos explosivos.
Os “times” que ajudam a localizar os explosivos contam com 43 roedores em Moçambique e 27 em Angola. O projeto atua também em países como Tanzânia, Camboja, Tailândia, Vietnã e Laos.