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Conexão Lusófona

Quem é aquela moça?

Imagem: Reprodução Brazzcom Travel

 

Encontrei por aí, andando pelas ruas de Santos, uma moça chamada Liberdade. Ela tinha olhos penetrantes e o cabelo de todas as cores que acompanhava a direção do vento. Se vestia como bem entendia, dizia sempre o que julgava ser necessário e ria como nenhuma outra de si mesma. Sua autenticidade a levava em qualquer parte, mas ela sabia bem quando olhar com calma para as coisas e ouvir, ao invés de falar.

 

Sua voz, no entanto, era mansa. Poucos a escutavam. Julgavam que falava errado. Tinha pinta de gente que não sabe o que diz. Mas aos que a escutavam, notava-se de longe a diferença. Se tornaram também mais autênticos. Ela sabia bem influenciar os que estavam a sua volta. Ela sabia bem o que estava a dizer.

 

A Liberdade não tinha endereço. Andava perambulando por todos os cantos. Mas a primeira vez que a vi de perto, foi aqui, em Lisboa. Andou pelo bairro, bebeu um ou dois shorts na noite de sexta-feira. Foi até Alfama, subiu despretensiosamente em um lugar proibido do Castelo. Dizia que, geralmente, eram nesses lugares em que a vista se fazia grandiosamente bela, e que muitas vezes eram proibidos por gente egoísta o suficiente para querer esconder do mundo o que aqueles lugares guardavam.

 

A Liberdade era louca. Diziam. Já a vi dançando com gente desconhecida, beijando gente que conheceu a pouco tempo, rindo demais de si mesma, fazendo graça para vida… Mas eu não achava, nem de longe, que fosse. Já havia visto a Liberdade em outros momentos, mas nunca de tão perto. Às vezes quieta, pensativa, impulsiva. Não deixava nunca de ser o que era, mas não era a mesma todos os dias. Ela se adaptava. Vivia também em seu próprio silêncio.

 

Sabia que podia ser a mesma até quando não precisasse ser a “tal louca”, desde que ninguém a obrigasse a ser uma coisa quando queria ser outra. Muitos quando a viam até perguntavam “quem é aquela moça”? E ela respondia de um jeito sacana, mas sempre da melhor forma, que era aquilo que todos queriam ser.

Entre todos os olhares que atraiu e julgamentos que teve que percorrer para poder ser quem era, a Liberdade se tornou inédita. Via-se nos olhos quando alguém a encontrava. Eram independentes, determinados, lunáticos pelos seus próprios sonhos, já que agora ninguém mais era capaz de detê-los.

Imagem: Reprodução Portugal Tours

Mesmo assim, a realidade era outra. Nem todo mundo queria dar as mãos a ela. As pessoas tinham medos, anseios, fobias de serem de tal forma. Era raro encontrar alguém que soubesse perseguir a si mesmo como fazia. Eles tinham desejos, todos reprimidos. Os sonhos (cujo o real dever era salvá-los) estavam todos encurralados, anotados em uma pequena lista e guardados em caixas de sapatos no fundo do guarda roupa.

 

Em uma outra vez dei de cara com ela, em uma dessas esquinas do Cais. Saí de casa procurando por respostas. Quando nos esbarramos, ela sorriu. Me cumprimentou. E disse, bem baixinho, como de costume: “Não há nada mais delicioso do que mergulhar de cabeça no seu próprio destino”.

 

Mergulhei!

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