Língua oficial e idioma não são necessariamente sinónimos. Apesar de cumprirem a mesma finalidade — a de promoverem a comunicação e o entendimento entre os falares —, estes conceitos podem apresentar algumas diferenças.
Vejamos: a língua, segundo o dicionário, é definida como um instrumento de conversação. Esta pertence a uma determinada comunidade linguística que, ao apropriar-se das suas regras gramaticais e valores, conseguem estabelecer interações entre si. Exprime-se através da fala que, no que lhe concerne, é uma ferramenta dinâmica, sujeita a variações. Desta forma, surgem os sotaques, as pronúncias e as acentuações, entoando-a de maneira diferente.
O idioma pode ser definido como a língua oficial de um povo. Este conceito está vinculado à existência de um Estado político, sendo utilizado para identificar e distinguir uma qualquer nação em relação às demais. Ou seja, em Portugal, o idioma falado é o português, comum à maioria dos falantes. No entanto, em Miranda do Douro (Bragança), o idioma cooficial é o mirandês. Neste caso, apenas a língua portuguesa recebe o status de oficial, por abarcar a maioria da população. Esta precisa de ser disseminada pelos habitantes, estando na base das relações que serão estabelecidas com o Estado e com a sociedade.
De uma maneira geral, os termos língua oficial e idioma estão relacionados. No entanto, são definidos pela quantidade de falantes. Por exemplo, em países como o Canadá, metade da população fala fluentemente o francês e a outra o inglês. Desta forma, como as duas línguas estão em consonância, são consideradas ambas oficiais. Quanto ao mirandês, em Portugal, apenas uma parcela da população, natural da região de Miranda, o pratica, tornando-o uma língua em desuso. Ou seja, como a maioria dos falantes obedece ao conjunto de códigos e às regras do português, conferem-lhe o estatuto de oficial.
Idiomas mundiais em risco de extinção
Ao longo do tempo, os idiomas ou as línguas, que não são considerados/as os/as oficiais, correm o risco de se extinguirem. Como apenas são faladas por uma parcela minoritária de uma comunidade, correm o risco de cair em desuso. Se, eventualmente, os falantes nativos não conseguirem promover a sua disseminação, esta passa a ser considerada uma língua extinta — como é o caso do latim.
Segundo o projeto Idiomas em Risco (The Endangered Languages Project), cerca de 40% dos quase 7000 idiomas existentes no mundo correm o risco de desaparecer. Consequentemente, perde-se um enorme legado cultural, que ajuda a resumir os testemunhos seculares de uma população.
Este programa, ao utilizar a tecnologia para alertar as pessoas sobre a extinção de determinados idiomas e ao expor a situação num mapa-mundo, gera um grande impacto visual. Ameaçados; em risco; em sério risco de extinção; em revitalização; e vitalidade desconhecida são alguns dos parâmetros de análise utilizados.
Analisando os dados recolhidos no que ao contexto lusófono diz respeito, que engloba todos os países que têm como língua oficial o português, este corre o risco de ver alguns dos seus acervos linguísticos desfalcados.
Brasil
No território brasileiro, em sério risco de extinção, estão (entre muitos outros) alguns dos seguintes idiomas: avá-canoeira (língua indígena falada pela etnia homónima, em Tocantins — tem 16 falantes); krenake ou crenaque (língua indígena pelo povo homónimo, em Minas Gerais — tem 10 falantes); shanenawa (língua indígiena do povo homónimo, em Acre — tem 23 falantes; e kulina ou culina (língua indígena falada pelo povo homónimo, no Amazonas — tem 30 falantes.
A maioria dos idiomas brasileiros que correm o risco de desaparecerem pertencem às comunidades indígenas. Segundo os linguistas, devido ao crescente processo de globalização e à perda dos territórios, é possível que, nas próximas duas décadas, mais de 40 línguas nativas (entre 180) desapareçam.
Portugal
No contexto lusitano, embora três idiomas estejam assinalados no mapa (mirandês, língua gestual portuguesa e o minderico), apenas o minderico, falado em Minde (Alcanena), desde o século XVIII, está em sério risco de extinção — tem 150 falantes.
Guiné-Bissau
Quanto a Guiné-Bissau, três idiomas estão em risco. Entre estes está o mansoanka, falado pela população da vila de Mansôa — tem 10 mil a 25 mil falantes; o beafada, falado pela população de Empada — tem aproximadamente 45 mil falantes; e o ejamat, falado pela população de Bugjim — tem 25 mil a 50 mil falantes. Já em sério risco de extinção está o kasanga, falado pela população de Cacheu — tem muito poucos falantes; está quase extinto.
Angola
Em Angola, dois idiomas estão em risco. É o caso do bolo, falado pela população de Mugango — tem cerca de dois mil e seiscentos falantes; e do mbowe, falado pela população de Mussuma — tem cerca de dois mil e setecentos falantes.
Quanto a São Tomé e Príncipe, Moçambique, Cabo Verde e Timor-Leste — os restantes países que têm como língua oficial o português — não são mencionados no mapa.