Conexão Lusófona

Por que razão as pessoas nada fazem sobre os problemas ambientais?

Imagem: Sergio Rodriguez

Os problemas ambientais têm sido um assunto predominante na agenda sociopolítica, principalmente durante os últimos anos. Passaram a ser as personagens principais de diversos anúncios publicitários; o mote para o desenvolvimento de massivas estratégias comerciais; e o tema de ordem de várias discussões e medidas políticas, devido ao impacto que causam no núcleo social.

 

Embora seja um assunto que promove a consciência coletiva, a maioria das pessoas continua aquém das expectativas e das ações preventivas. Segundo os estudos científicos, divulgados em 2018, os portugueses, apesar de estarem acautelados sobre a temática, continuam a não saber como reduzir a pegada de carbono e a reciclar de forma incorreta, sem distinguir o biodegradável do reciclável.

 

A realidade portuguesa expande-se até outras nações lusófonas. No Brasil, os comportamentos também continuam longe das metas delineadas. A maioria da população tem consciência de que os recursos naturais do planeta estão a escassear, mas, de certa forma, a desconexão ambiental continua a intensificar-se.

 

De forma muito sucinta, o território brasileiro recicla menos de 5% dos resíduos urbanos; tem um dos maiores índices de desmatamento universal; e é gerido por um governo que demonstra uma despreocupação preocupante por este tipo de questões.

 

Com o intuito de identificar as principais razões da alienação social acerca da urgência da sustentabilidade, Livia Ribeiro, educadora e engenheira ambiental, encontrou e justificou seis causas primordiais:

 

1 — O ser humano prioriza questões/problemas imediatos

 

Segundo a ambientalista, as mudanças climáticas continuam a ser um assunto catalogado como “distante”; com consequências a longo prazo. Ou seja, como o assunto não apresenta nenhuma aparente ameaça fatídica para as atuais gerações, não são avaliados os prejuízos do futuro. No entanto, a assombrosa realidade não está assim tão longínqua. As cheias constantes, as secas de longo período, as temperaturas atípicas ou os microplásticos encontrados recentemente no organismo humano são apenas alguns dos exemplos que a comprovam.

2 — Desconexão ambiental

 

A maioria dos comuns mortais vive isolado da natureza, envolvidos pela rotina cosmopolita. Não existe, regra geral, um vínculo emocional com o ambiente. Deste modo, quanto mais distante e desconhecido, menos importância têm a preservação e a conservação. Para quê lutar por algo que se desconhece? Facto: não existe um Planeta B; convém cuidar do A.

 

3 — Desinformação massiva

 

Apesar da população mundial, na sua maioria, ter conhecimento de que algo está errado, não são tomados banhos diários de informação massiva. Prevalece a desinformação sobre os reais desafios, as causas, consequências, possibilidades, ameaças ou soluções — a curto e médio prazo.

 

É fundamental existir mais esclarecimento, para que sejam dados passos na direção correta, melhorando o desempenho ambiental, poupando o ambiente e concretizando a economia circular — preservação e valorização do capital natural, através da minimização dos desperdícios na cadeia de produção.

 

4 — Falta de perceção direta das consequências

 

Já dizia o velho ditado popular: “longe da vista, longe do coração”. O núcleo social só começou a perceber o flagelo da plastificação dos oceanos, assim que as praias foram invadidas por lixo. Até esta realidade ser retratada nos média, somando o facto da tragédia ambiental estar longe da compreensão das massas, o problema não existia — mesmo tendo sido identificado pelos ambientalistas há largos anos.

 

5 — Pouca disponibilidade para abraçar novos hábitos

 

Mudar de hábitos e de rotina, em prol de opções mais sustentáveis, não é aliciante o suficiente. Normalmente, abraçar hábitos de consumo mais ecológicos, acarreta gastos mais dispendiosos. O ser humano é pouco flexível quando tenta contrabalançar os prós e os contras, dando prioridade para aquilo que é mais cómodo e de fácil aquisição.

 

6 — Sistema baseado em moldes insustentáveis

 

A ganância, o individualismo, o egoísmo, o desinteresse e a desconexão continuam a ser valores que contaminam a sociedade, influenciando as ações vindouras. Além disso, o método de produção e de consumo industrial assenta numa lógica de mercado massiva e tóxica, sugestionando a perceção do meio ambiente — normalmente, cai para segundo plano; é visto como inesgotável.

 

As pessoas continuam a priorizar estilos de vida supérfluos, de modo a saciarem vontades. Estão mais preocupadas com a procura ávida de pontos de fuga, que as afastam da realidade “stressante”, fugindo dos problemas que lhes parecem “pouco essenciais”. A educação e o civismo sociais são, constantemente, sufocados por particularidades e conveniências — económicas ou identitárias.

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