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“Plasticrusts”: o lixo plastificado que se incrustou nas rochas da ilha da Madeira

O novo tipo de lixo marinho descoberto nas rochas da ilha da Madeira (Portugal) — Imagem: Ignacio Gestoso

Um grupo de investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (Mare) — do polo da Madeira — deparou-se com uns estranhos tons de azul e cinzento, incrustados numa zona do intertidal rochoso, na costa sul da ilha da Madeira (Portugal). Pela primeira vez, naquela zona, que apenas se encontra exposta ao ar durante a maré baixa, ficando submersa com a subida da mesma, foi encontrada uma crosta plástica, mais tarde apelidada de plasticrusts.

 

O nome que batizou o fenómeno singular surge no rescaldo da “fusão” dos detritos de plástico com as rochas da orla costeira. Decorria o ano de 2016, numa visita científica àquela zona do território insular, quando o primeiro registo de plasticrusts foi assinalado. Embora os cientistas acreditassem que poderia ser uma situação pontual — que não valeria a pena ser documentada —, em 2017, apesar de não se ter alastrado para outras rochas, continuou presente e intensificou-se.

 

Depois da equipa ter recolhido algumas amostras do atípico lixo marinho, as análises de espectrofotometria confirmaram que as crostas que se formaram são de polietileno (PE) — um dos plásticos mais utilizados nas indústrias, presente comummente nas embalagens de produtos alimentares.

 

Presença de “plasticrusts” nas rochas da ilha da Madeira (Portugal) — Imagem: Ignacio Gestoso

A origem concreta e o mecanismo de formação destes detritos ainda não são conclusivos. Os investigadores responsáveis pelo estudo — que, inclusivamente, valeu um artigo publicado na revista científica Science of the Total Environment —  deduziram apenas, até agora, que a presença de plasticrusts pode resultar da colisão de fragmentos de plástico de maior dimensão, por ação das ondas e marés.

 

Num comunicado divulgado pelo Mare, Ignacio Gestoso, líder da equipa de investigação, afirmou que “este fenómeno está a ocorrer numa área concreta”, acrescentando que ainda não existem amostras suficientes para quantificar o impacto que terá nas espécies marinhas.

 

Para que as consequências sejam devidamente estudadas e analisadas, serão necessários estudos complementares, mediante financiamento. Embora os resultados sejam (ainda) pouco concretos, a equipa afirmou que acredita que esta nova descoberta pode gerar implicações — principalmente nas estratégias de gestão ambiental, já que os plasticrusts poderão ser considerados uma nova categoria de lixo marinho.

 

Presença de “plasticrusts” nas rochas da ilha da Madeira — Imagem: Ignacio Gestoso

Quando questionado sobre a possibilidade de se efetuar uma limpeza nas rochas, eliminando, deste modo, os vestígios de plástico, Ignacio Gestoso explicou ao Mare que “poderia ser uma solução, mas que ia, certamente, ser vã”. O líder da investigação acredita que as partículas plastificadas voltariam a infiltrar-se, acrescentando que, algumas delas, estão demasiado incrustadas para serem totalmente removidas

 

Para um futuro próximo, ficam as promessas de novas investigações que, além de abrangerem o ecossistema da Madeira, possam expandir-se até ao arquipélago dos Açores ou às ilhas Canárias — locais onde se encontram grandes concentrações de lixo e que poderiam ajudar a verificar a ocorrência de plasticrusts.

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