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Pintor e poeta de Moçambique homenageiam Mia Couto com “Morada”

Leya

 

São eles o poeta Morgado Mbalate, menção honrosa do prémio Nósside de Poesia em 2014 e autor do livro de poesia “Odisseia da Alma”, e o artista plástico João Timane. Cada um com a sua arte, os dois resolveram unir-se para homenagear um dos maiores escritores moçambicanos, Mia Couto.

 

Teve um dia que tinha um rio correndo na palma da minha mão.

Peguei nesse rio pensando que de um lápis se tratasse.

E tentei escrever um poema na pele de um beija-flor encostado ao chão.

Tentei também fotografar a voz de uma borboleta.

Entretanto, só consegui beijar o corpo de uma luz.

Fiquei feliz por ter tentado construir uma casa com poesia na imaginação.

Nesse dia o pôr-do-sol se fez dentro de mim.

A partir desse dia minha alma passou a ser a morada do ciclo do vento.

— Morgado Mbalate

 

Numa tela a pintura e a poesia se tornam uma só, uma “Morada” para Mia Couto.
Para Morgado Mbalate, Mia Couto é um dos escritores de eleição e ele explica porquê.

 

– Seus escritos me marcaram muito que senti que tinha que retribuir toda a poesia que ele me transmite – afirmou o poeta.

 

Mbalate revela que o poema “Morada” foi inspirado na obra “Jesusalém”, lançada em pelo escritor em 2009.

 

– Quando li Jesusalém, livro que fala sobre África, terra de guerra, solidão e encanto, decidi escrever um poema que fosse como uma Morada para Mia Couto, foi o jeito que encontrei para imortalizar a poesia que ele me transmite – referiu.

 

– Mia Couto é fonte para todos nós – diz Jõao Timane, o artista que pintou a Morada para Mia Couto.

 

– Nunca estive perto dele, nem sequer uma conversa virtual ou algo semelhante mas, por estar bem aqui no meu país, sinto que estou com ele – disse o artista.

 

Timane explica que o retrato de Mia Couto foi iniciado em 2014, numa altura em que decidiu homenagear algumas figuras das artes no país, de preferência em vida.

 

– Estamos constantemente homenageando figuras que nos deixaram. Terminei o quadro se calhar pela influência do Morgado Mbalate, este que na sua obra poética intitulada “Odisseia da Alma” dedica um poema ao Mia Couto. Lembrei- me do quadro que estava à minha espera já há dois anos e decidi terminar.

 

Pintada em acrílico, a obra não foi ainda entregue a Mia Couto porque, conforme explicam os autores, “não foi uma encomenda nem por parte do Mia e nem sequer de um fã ou seguidor. O quadro foi pintado para homenageá-lo e ficar tatuado na pele do planeta”, afirmaram.

 

João Timane é membro do Núcleo da Arte de Moçambique, ilustrou cartazes e mais de uma dezena de capas de livros e algumas revistas brasileiras nomeadamente como “Artes Soltas” e “Entre Mentes”. Participou em várias exposições colectivas e três exposições individuais de pintura (2016: “A pele do Capim” em Coimbra/Portugal, 2014: “Retratos de mil gotas de sonho” em Maputo/Moçambique e 2013: “Cartas dum grão de Mostarda” em Maputo/Moçambique).

 

Recentemente, a homenagem ganhou uma nova plataforme, em forma de vídeo, onde a escritora portuguesa Aurora Simões de Matos declama o poema dedicado a Mia Couto por Morgado Mbalate.

 

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