“Gato escaldado tem medo de água fria”; “a curiosidade matou o gato”; “matar dois coelhos de uma cajadada só”; “agarrar o touro pelos cornos”; eis alguns exemplos de expressões antianimal de língua portuguesa. Quase todas as pessoas as empregam, seja no quotidiano ou em ocasiões muito específicas; mas poucas analisam o seu significado. Além disso, convenhamos, os ditados populares não são muito amistosos para a maioria dos animais.
Tendo em conta este caldeirão de expressões linguísticas e o seu sentido pouco afável, a PETA (People for the Ethical Treatment of Animals; Pessoas pelo Tratamento Ético dos animais — tradução livre) decidiu colocar um travão na sua proliferação. A organização americana, que se dedica à luta pelos direitos dos animais, demonstrou esta intenção através de uma publicação no Twitter. Este alerta rapidamente tornou-se viral, dominando a agenda política e social no universo cibernético.
A PETA, além de salientar que “as palavras importam”, enfatizou que, tal como a “compreensão de justiça social evoluiu”, a “linguagem também deve evoluir”, deixando de lado as expressões antianimal.
Com o intuito de facilitar a tarefa aos comunicadores, a associação apresentou algumas alternativas às expressões antianimal. Estas dicas foram dadas em inglês, uma vez que a PETA é americana. No entanto, podem ser traduzidas — quase que à letra — para os domínios da língua portuguesa.
Entre as expressões antianimal que têm correspondência do inglês para o português, a PETA sugere que, em vez de “agarrar o touro pelos cornos”, “agarre nas flores pelos espinhos”. Em vez de utilizar a expressão “matar dois coelhos com uma cajadada só” (que equivale à expressão em inglês “matar dois pássaros com uma só pedra”), se empregue a frase “alimentar dois coelhos com uma cenoura” (em inglês, “alimentar dois pássaros com um scone”).
No que diz respeito à oralidade e à forma como encaramos as frases feitas, a criatividade não tem limites. Se no velho ditado o “gato escaldado de água fria tem medo”, na linguagem pet-friendly o “gato constipado de água fria tem medo”. Em vez de referir que “a curiosidade matou o gato”, utilizar “a curiosidade espevitou o gato”. Ou, em vez de “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, utilizar “mais vale um pássaro a voar do que dois na mão”. Substituir a frase “a pensar morreu um burro”por “a pensar salvou-se um burro”. A tarefa de eliminar as expressões antianimal é fácil; precisa apenas de ser criativo (com umas pitadas generosas de ética e justiça animal).
A transformação das expressões enraizadas numa língua e, consequentemente, numa cultura não é recente. Em Portugal, já foram criadas várias alternativas que, em vez de marginalizarem os animais, incluem. Exemplo disso é a nova a versão da música infantil “atirei o pau ao gato” que, eliminando as expressões antianimal, passou a chamar-se “atirei o peixe ao gato”; iguaria essa que o felpudo decide não comer.