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Personalismo e Partidarismo: a ficção dos partidos à la brasileira

AVISO! Estás a entrar em uma zona de crítica ácida, em casos de problemas cardíacos, egos frágeis e ideologias político-filosóficas sensíveis desaconselha-se a leitura.

 

É grande o alvoroço político-institucional na jovem democracia brasileira, situação político-económica que piora a cada dia desde a ascensão à Presidência da República da ex-ministra Chefe da Casa Civil [o equivalente em Portugal ao Ministro Adjunto à Presidência], entre outros tantos cargos de administração ocupados por Rousseff desde 2011.

 

Mulher, ex-guerrilheira e até 2011 eminentemente burocrata, Dilma [como a Presidente Rousseff é chamada carinhosamente – ou não – pelos brasileiros] recebe do laborista Lula da Silva um país “emergente”, aposta da América Latina, caput dos BRICS e sétima economia do mundo, que hoje sofre com muitos dos medos e fragilidades dignos de um Brasil de inícios da década de 1990. Dólar, levas um por 4.

 

Muitos [e não se frustra cá a tentativa de crítica ou exaltação à Sra. Rousseff] impigem a ela a derrocada do Brasil-país-do-futuro [Stefan Zweig, e não ele apenas, revira-se no túmulo] e culpam-na pelas ondas de corrupção, instabilidade institucional e caça às bruxas [quiçá digna de uma nova versão de Malleus Maleficarum] dos últimos anos.

 

Entretanto, a crítica deste artigo vai longe de culpar, ou não, a Sra. Rousseff pelos males e agonias dos Brasileiros [questão que no folclore político tropical é capaz de separar famílias, causar guerras e reviver contendas dignas de hooliganismo britânico].  Aqui se pergunta, tão pura e simplesmente, como é possível apenas um homem [e indica-se assim, exactamente “homem” para incitar a crítica à própria conjectura vocábulo-existencial de se referir a todo humano como um “homem”] ser culpado por todas [ou pela grande maioria] dos males ocorridos da última década?

 

A explicação para isto não se consegue apenas por uma mera e simples análise dos tabloides políticos brasileiros [há alguns que pensam até que todos estes jornais, no fundo são até o mesmo!]. É preciso viver a perspectiva político-social de senhor do engenho à brasileira. Do todo poderoso e soberano Rei-Presidente, que gerencia, executa e dirige a tudo e a todos com seus super-tentáculos administrativos que nomeiam, indicam e deixam de indicar a torto e a direito. Isto tudo com um pequeno grande toque de amor ou aversão ao líder.

 

É difícil não relacionar esse personalismo ao sistema político brasileiro e a forma pela qual são compostas chapas, coligações e grupos de governação que em uma organização pluri-multi-super-partidária que radica ideologias [pelo menos no papel] para dar e vender: trabalhista [cristão, brasileiro, do Brasil e nacional], comunista[ brasileiros e também comunistas do brasil], ecologista [verdes, ecológicos e sustentáveis], cristã [trabalhista-cristão, social-cristão e social-democrata-cristão], da mulher [cujo presidente é um homem], entre tantos outros mais. Essa inexistência de ideologia partidária [na grande parte dos grupos políticos brasileiros] acaba gerando um dinamismo político fictício que causa um apego à pessoa-político mais do que a um projecto democrático. Dentro de tantas rubricas partidárias esquece no fundo o que deveria ser um partido político, que muito antes de ser um livro de rostos e sorrisos amarelos onde o eleitor escolhe [ou é forçado a escolher, pois se sabe que no Brasil o comparecimento às urnas é obrigatório] entre um político ou outro [que trocam de partido como trocam a roupa] deveriam substanciar um ideia-mundividência de como observar a sociedade e os outros. Um tipo de óculos para miopia democrática.

 

Essa situação muito relevante na política brasileira de falta de séria medida adequada às dezenas de partidos políticos fabrica oportunidades do culto a um líder-missionário salvador da pátria que retira os males da terra e leva o país para liberdade e crescimento económico. Vide, um líder e não um partido, nem a sociedade ou nação [se é que isto de nação em pleno 2015 ainda existe]. O espírito senhorial de necessidade messiânica ainda encontra-se fortemente marcado num país de 200 milhões de pessoas e anos de atraso político [e intelectual].

 

Situações verdadeiramente bizarras como pastores-evangélicos-presidentes-de-câmara, político transexual celebridade filiado ao partido progressista [que como em Espanha, de progressista só o nome e olhe lá!], líder religioso fundamentalista presidente de comissão de direitos humanos, presidente homem do partido da mulher brasileira, entre outras anedotas da vida real são passíveis de observação de qualquer um que pare quaisquer 20 minutos para ler um dos diários políticos brasileiros, não sendo raras aproximações como pastores-deputados, missionários-senadores e governadores-apostólicos [uma democracia – de alguns – Graças a Deus!].

 

Mas diante de tudo isso, com toda a certeza, é tudo culpa da Rousseff [que dizem as más línguas é mais búlgara que brasileira] e não da monstruosidade e das discrepâncias de um sistema político pseudo-representativo e quase-confessional à brasileira. Imagine.

 

Leya

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