Perderemos todos
Alheia aos esforços do ex-presidente Lula para salvar o mandato de sua sucessora negociando lotes do governo, a barca do governo vai se esvaziando partido por partido. Principal beneficiado, o PMDB abriu as portas de desembarque. O escorpião picou o sapo. A essa altura do campeonato, o PMDB do vice-presidente Michel Temer já é dos males o mais incurável e, portanto, o menos preocupante. A situação de Dilma se agrava mesmo é com o desembarque das legendas como PP e PSD.
Se nem os partidos que mais se beneficiariam da sobrevida de Dilma seguem apostando na sua continuidade, é sinal de que os 172 votos necessários para salvar a presidenta na Câmara dos Deputados estão cada vez mais distantes.
Não se trata de um atentado à democracia brasileira, mas é bastante preocupante o efeito de um impeachment ao cenário político brasileiro nas condições em que ele está se desenhando. Preocupante, inclusive, para os partidos da oposição. No sábado passado, o instituto Datafolha divulgou pesquisa sobre uma hipotética corrida eleitoral: em cenários com os dois principais nomes do opositor PSDB, o ex-presidente Lula aparece respectivamente com 21% e 22% das intenções de voto.
Incapaz de apresentar um bom nome ao eleitor antes e depois de 2014, o PSDB demonstra miopia ao apoiar o PMDB na sua manobra para tomar um governo sem precisar de votos. Em 2018, esses eleitores voltarão às urnas, e ouvirão dos palanques do PT um discurso perfeito.
Diferentemente do que ocorreria caso Dilma permanecesse, o partido não teria mais de defender o seu péssimo governo. Em vez de uma presidenta inventada e incompetente, cercada de corruptos entre seus aliados, Dilma seria pintada como uma injustiçada. Figura sacrificada sem ter cometido crime algum para que a elite voltasse ao poder. E quem se apresentaria para salvar os pobres do Brasil em um cavalo branco? Lula. Este que, mesmo devendo explicações à polícia, é líder em intenções de voto. Imagine em dois anos, depois de tamanha injustiça como um impeachment.
Mas aprender essas lições é o caminho mais longo e mais benéfico ao país. O caminho mais curto e eficiente para o PT voltar à presidência em 2018 é o da bravata. E, em se tratando de Lula, a bravata turbinada pela excelente oratória é uma certeza. Uma vez eleito, o PT ganha também um salvo-conduto para a corrupção. Afinal de contas, valerá tudo para que os autoproclamados pais dos pobres jamais deixem o poder novamente.
Do outro lado, a oposição precariamente liderada pelo PSDB parece não ter aprendido nada em 2014.
Não entendeu que, mais do que uma vitória de Dilma, a eleição passada foi uma derrota de Aécio Neves. Não aprendeu que é preciso dialogar com o eleitor de baixa renda, que precisa buscar um nome capaz de representá-lo. E desde que a classe média tomou as ruas do Brasil com bonecos infláveis de Lula vestido de presidiário, essa distância entre os tucanos e os brasileiros de fora das manifestações só aumentou. Os gritos de “Fora Dilma” são barulhentos, mas a maioria dos brasileiros está calada e cada vez menos se identifica com essa turma.
Quem ganha com o impeachment? Por ora, o PMDB. Michel Temer, figura vaidosa e afeita a palavras empoladas, tem a ambição de fazer um governo de “salvação nacional”, conforme discurso ensaiado em frente ao espelho e ao gravador do WhatsApp. Assim como tomou o governo pelo atalho, também tentará escrever seu nome da História por essa via. No mundo real, dificilmente passará de um bom alvo de piadas. Um boneco risível a nos lembrar da cilada em que o PT nos colocou ao convencer o Brasil a elegê-lo e da qual a oposição é incapaz de oferecer rota de fuga.
De qualquer forma, o PMDB vence. Quando o PMDB vence, é porque perdemos todos.
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