Pela diversidade linguística
Sempre fui completamente apaixonada por esta faculdade magnífica que é a linguagem.
Sempre me fascinou esta capacidade de nos expressarmos, de dialogarmos uns com os outros através de um sistema tão complexo como é a língua, mas ao mesmo tempo tão natural, tão instintivo e inato.
Mais fascinada ainda sou pela diversidade linguística partilhada pela humanidade.
Onde muitos vêem uma barreira à comunicação, eu vejo múltiplas possibilidades de olhar para o mundo, múltiplas formas de expressão mas também de aprendizagem.
O espaço lusófono une-se, essencialmente, pela língua portuguesa, mas ainda mais pela relação da língua portuguesa com as dezenas de línguas faladas nesse mesmo espaço. Da forma como ela é capaz de dar, de receber e de se mesclar. Por isso, para mim, valorizar a língua portuguesa passa, inevitavelmente, por valorizar de igual forma os seus sotaques e diferentes estruturas mas também por promover e, acima de tudo, preservar as línguas com as quais ela tem convivido nos últimos séculos.
Hoje a lusofonia transcendeu a língua e a história, passou a ser cultura e tudo o que possa caber dentro dela. Conflui em si um pouco de todos os povos que fazem parte dela e se sentem ligados a ela por uma via ou outra. A lusofonia não é a CPLP ou os PALOP, é também a CPLP e os PALOP. A lusofonia não é a língua portuguesa, mas também a língua portuguesa.
O timorense que não fala português, o cabo-verdiano que fala mas pouco, ou aquele moçambicano que fala português mas também o Emakhuwa, são tão lusófonos quanto os que só dominam a língua portuguesa.
O português não é a minha língua materna mas é a língua que escrevo. Falo a língua que escrevo mas não escrevo a língua primeira que falo. Não por opção, mas pelas vicissitudes da história. Sinto as duas como minhas e inseparáveis. Mas também, sinto um pouco o Crioulo Guineense como meu, e o Patuá* ou o Papiá kristang*. Talvez sentisse o Kimbundu* ou a Tsonga* mais meus se os conhecesse mais, e se soubesse que existem sem ter de as ir pesquisar no Google.
Tudo isto é só para lembrar a todos nós que a força não está em apagarmos as nossas diferenças mas em as assumirmos e, através do português, que de certa forma nos abraça, conectarmos tudo o resto que à primeira não é tão óbvio ou não nos é apresentado como tal.
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