Arquipélago dos Açores: para bom entendedor, um guia do sotaque açoriano basta
Prados amplos e viçosos; telas naturais de cortar o fôlego; cascatas de água generosas — que decoram montanhas e vales pintados de verde-açoriano —; uma aura que desce do céu em forma de neblina, pairando pela paisagem sossegadamente; queijos que afagam o estômago com carinho (e muito sabor); e uma população que acolhe os visitantes com ternura: aqui estão algumas das características mais nobres e autênticas do Arquipélago dos Açores. Se estas particularidades não forem suficientes para o fazer visitar uma das suas nove ilhas, deixamos-lhe um guia do sotaque açoriano. Talvez este possa incutir-lhe uma certa vontade de fuga, aguçando-lhe o desejo de saber mais sobre esta pérola insular portuguesa.
Tal como referimos anteriormente, os Açores são formados por nove ilhas — São Miguel, Faial, Pico, São Jorge, Terceira, Flores, Santa Maria, Graciosa e Corvo —, sendo que, cada uma destas, contém propriedades regionais distintas. Embora a língua falada seja o português, o sotaque adquire múltiplas variações linguísticas e, por vezes, nem sempre é fácil descodificá-lo. Por exemplo, só na ilha do Pico — a segunda maior do arquipélago — foram detetadas, pelos linguistas, mais de quarenta pronúncias distintas.
Segundo os levantamentos elaborados pelos historiadores, os diferentes sotaques insulares terão sido fomentados pelos colonizadores do continente português. Estes foram os responsáveis pelo transporte da língua portuguesa até ao solo açoriano, sendo que, posteriormente, os regionalismos foram-se desenvolvendo e acentuando localmente.
Os portugueses do sul terão influenciado o sotaque da ilha de São Miguel — a maior porção de terra dos Açores — ; já os colonizadores, oriundos do norte de Portugal, foram os responsáveis pelo povoamento do grupo central do arquipélago, constituído pelas ilhas Terceira, São Jorge, Graciosa e Pico, influenciando a acentuação linguística das mesmas; a ilha do Faial já terá sido sugestionada pelo sotaque dos continentais, provenientes de Coimbra e dos arredores da região centro portuguesa.
Graças a este facto, e uma vez que a língua está em constante evolução, as várias entoações que a ecoam podem compor frases ou palavras desconhecidas. Desta forma, com o intuito de facilitar-lhe a vida (ou, quem sabe, a viagem), preparamos um autêntico dicionário para o orientar pelos caminhos dos falares açorianos.
Breve guia do sotaque açoriano
• “Rapexim”: rabo de peixe;
• “Não tem tafulho”: não tem solução;
• “O mar está rofé”: o mar está bravo;
• “Cerrado”: pastagem;
• “Arrematado”: arranjado;
• “Retoiçar”: brincar;
• “Samarra”: casaco;
• “Tal mijeira”: piada sem graça/muita sorte;
• “Quando sepucata”: repentinamente;
• “Vento encanado”: corrente de ar;
• “Friza”: congelador;
• “Slipas”: chinelos;
• “Gama”: pastilha elástica;
• “Mapa”: esfregona;
• “Jogar à ferraxaneta”: jogar às escondidas;
• “Pechenchinho/a”: pequenino/a;
• “Dondué?”: de onde é?;
• “Foge diante”: sai da frente;
• “Grande impôla”: grande chato/a
• “Mêm de veras”: a sério/realidade;
• “Negaças”: provocações;
• “Penca”: nariz:
• “Pinarreta”: criança atrevida;
• “Tam requim”: tão bonito/a;
• “Teso de marreta”: difícil/ duro de roer;
• “Vá larê”: vai dar uma curva;
• “Grande espoleta”: grande rombo na carteira;
• “Ferveleta”: pessoa inquieta;
• “Tás-me cegando”: estás a aborrecer-me.