Em pesquisa recente (março/2016) realizada com jovens de 12 a 17 anos em Birigui/SP, teve-se acesso a uma gama de informações que norteiam pensamentos, posicionamento e expectativas dessa juventude que, para muitos, é desvalida de objetivos e atitudes, perceptível na maioria da opinião dos adultos, principalmente aqueles acima de 40 anos. Reforçam essa percepção afirmações do tipo “Eles não se interessam por nada”, “Não querem trabalhar”, “Só pensam em ficar no celular”, “Não respeitam ninguém”, “São preguiçosos”.
De certa forma, há uma razão para existência ou predominância desse tipo de pensamento: os longos anos de condicionamento. Embora as pessoas entre 40 e 50 anos – chamadas de geração X, façam parte daqueles que cresceram durante a revolução das TICs, ainda carregam uma forte cultura herdada da geração anterior, onde uma carreira estável, emprego fixo e carteira de trabalho “limpa” imperavam absolutos nas regras sociais. Dinheiro primeiro, depois a liberdade. Crianças bem educadas (no sentido de obediência mesmo!), preparadas para cumprir uma trajetória preestabelecida pelos pais, para satisfazer os sonhos deles (ideia ainda que persiste em alguns “núcleos” familiares). Ser engenheiro, médico, trabalhar numa grande corporação, ter estabilidade no emprego para garantir o futuro e, depois, se aposentar e curtir a vida plenamente fazendo o que realmente desejava. Esse era o modelo a ser seguido.
Tudo isso enraizado na vida dessas pessoas durante anos certamente se tornaria um paradigma difícil de se romper, suplantando qualquer tentativa de reflexão compreensiva sobre os desejos, necessidades e sentimentos dos jovens da geração atual (Z), os quais apresentam, evidentemente, um comportamento muito (e ponha muito nisso!) diferente. Os gráficos que seguem nos ajudam a tirar algumas conclusões.
Quando perguntados sobre qual tipo de relação com trabalho desejavam ter, 85% sinalizou preferência na autonomia. Essa autonomia pode significar fazerem seus próprios horários, se responsabilizarem por suas próprias ações, receberem remuneração pelo que fizerem ou valem, não serem subordinados e sim colaboradores, etc.
Quando questionados sobre a relação DINHEIRO x FELICIDADE x PROFISSÃO, quase a totalidade deles priorizou felicidade…
Nota-se claramente que suas expectativas estão voltadas para a satisfação pessoal, no carpe diem, e não esperar uma vida toda para alcançar a felicidade – que bem sabemos, é efêmera. Talvez a velocidade das coisas possa ser um dos motivos para justificar esse sentimento (é só uma suposição!), mas tem-se a impressão de uma ansiedade coletiva entre esses jovens, um querer sem fim, as vezes um querer de nem se sabe o que. Do outro lado, um sistema estruturado e sistematizado para atender as demandas das gerações anteriores. Conflito inevitável.
Com relação ao interesse em estudar, tema que é pauta certa em conversas familiares, dos 272 jovens entrevistados, 157 responderam que estão na escola (ou vão para escola) para aprender, para estudar, são quase 60% do total.
Não confundamos estudar/aprender com ir à escola, uma coisa é bem diferente da outra. Pode haver muita contestação neste assunto, mas as estatísticas estão aí, corroboradas pelo alto índice de interesse em cursos extra escolares (2/3 já estão fazendo ou fizeram algum curso extra escolar).
Entre os tipos de cursos que gostariam de fazer, destacam-se no topo do ranking: IDIOMAS, INFORMÁTICA e ADMINISTRAÇÃO. Forte indício da necessidade de inclusão global.
Dos que não fazem ou não fizeram curso extra escolar, oito em cada dez manifestaram interesse em fazer.
Entre os que já fizeram ou estão fazendo algum tipo de curso, cerca de 80% continuariam se aperfeiçoando nos mesmo cursos ou fazendo novos.
Neste contexto, portanto, é razoável considerar que a preguiça ou desmotivação não é fator predominante quando o assunto é aprendizado. Não significa que querer aprender é o mesmo que querer ir à escola, como já mencionado. Me parece, sem pretensão de solucionar o problema, que há um gargalo entre uma demanda para o aprendizado, que aparentemente se movimenta em quinta marcha, e um sistema educacional que não consegue cambiar para a segunda, conduzido por um estado que sequer olha para estrada a sua frente.
Percebe-se ainda que é muito alto o índice de jovens que estão no sistema educacional por mera obrigação (17%) ou somente para obtenção de um diploma (25%) que possa aumentar suas chances na disputa de vagas comuns, num mercado de commoditie corporativista. Isto revela um cenário desfavorável para qualquer pensamento construtivo/criativo, voltado para soluções de problemas, resultando ainda num grande percentual, cerca de 42% (quase metade da população de jovens), inclinados para uma espécie de aprendizado behaviorista – aquele imprimido por simples condicionamento mecânico. Uma pintura nada otimista para o desenvolvimento humano, social e consequentemente econômico de qualquer nação.
O que esperar então desta relação com a geração Alpha, que já está aí nos surpreendendo a todo momento?
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