“O português é uma língua desconhecida”, diz investigadora
No seguimento do IV Congresso de Cooperação e Educação (COOPEDU), a acontecer nos dias 8 e 9 de novembro (2018), foram divulgados dados reveladores acerca da qualidade do ensino da língua oficial nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e em Timor-Leste. Em declarações ao Diário de Notícias (DN), Clara Carvalho, investigadora do Centro de Estudos Internacionais (CEI) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) e uma das organizadoras do congresso, considerou que há um problema grave no ensino da língua e que, afinal, o português não é tão falado quanto se pensa.
“Ao contrário do que se diz, não há 280 milhões de falantes de português no mundo”, disse Clara Carvalho ao DN.
Tendo como fonte os censos de cada país, estima-se que, em Timor, apenas 25% da população fale a língua portuguesa fluentemente. O cenário piora no contexto africano, particularmente na Guiné-Bissau, onde há apenas 15% de falantes de português, e em Moçambique, onde os valores baixam para os 10% – uma vez que só quem vive perto das grandes cidades, como a capital (Maputo) e Beira, é que fala a língua. Já em Cabo Verde, estima-se que cerca de metade da população fale português fluentemente; por outro lado, em Angola, que representa um caso especial devido à guerra – que levou muita gente a sair das zonas mais periféricas para as cidades -, a maioria da população usa a língua portuguesa (mais de 70%).
“O português não era uma língua falada. A escolha deste como língua oficial foi uma escolha política, não corresponde à realidade” – Clara Carvalho, Diário de Notícias
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Segundo a investigadora do CEI, a cooperação do governo português com os governos nacionais destes países tem acontecido, com vista a melhorar o ensino da língua às populações. No entanto, os obstáculos são muitos e difíceis de ultrapassar. O facto destes países não terem tido um sistema educacional devidamente estruturado aquando da conquista da independência impediu que alguns progressos acontecessem. “Há dificuldade em ter escolas próprias, professores formados e há a questão do acesso das crianças à escola. Muitas crianças estão fora do sistema escolar ou com escolaridade baixa”, afirmou Carla Carvalho à publicação supracitada. De acordo com as declarações da investigadora, as populações mais afetadas são as que se fixam nas zonas mais rurais de cada país, para quem “o português é uma língua desconhecida”, disse.
Durante o COOPEDU IV, que nesta edição se pauta pelo tema da “Cooperação e Educação de Qualidade“, vão reunir-se investigadores e organizações não governamentais, bem como outras entidades ou figuras que tenham interesse na temática. O intuito principal do evento é o de gerar colaborações dentro de quatro assuntos principais e prioritários: a cooperação portuguesa na área da educação; medidas para a qualidade nos sistemas de ensino africanos; a formação de recursos humanos em África; e políticas linguísticas nos países africanos.
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