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“O mundo empresarial necessita de competência, independentemente do género”

A empresária de origem guineense revela quais são as ambições como primeira mulher a ser eleita presidente da Confederação Empresarial da CPLP. Nelma Fernandes destaca a importância das parcerias comerciais entre os países membros num clima de pós-pandemia e de guerra em que vivem os empresários ligados à CPLP.

 

 

 

Pela primeira vez na história da Confederação Empresarial da CPLP foi eleita uma mulher como presidente para representar os interesses dos nove países membros. Nelma Fernandes ganhou as eleições, a 12 de dezembro de 2022, por unanimidade dos votos. Além de visionária e empreendedora, desde cedo começou a sua trajetória no mundo empresarial. Licenciada em Arquitetura e Gestão Financeira, a empresária Nelma Fernandes apresenta um currículo invejável. Com nove anos de experiência no setor bancário e de gestão de ativos, a empresária Nelma Fernandes é CEO e fundadora da Win Coach, vice-presidente da Federação das Mulheres Empresárias ao nível da Confederação Empresarial da Comunidade de Países de Língua Portuguesa – FME CE-CPLP (presidida pela moçambicana Maria de Assunção Abdula) e era a única mulher na Comissão Executiva da Confederação Empresarial da CPLP. Um exemplo a ser seguido, tanto pela força que representa, como pela determinação e liderança no mundo empresarial, do qual já provou a sua competência.

Neste ano, ao ser eleita, Nelma Fernandes assumiu as cicatrizes que a pandemia deixou e, ao mesmo tempo, as consequências de uma guerra. Para tranquilizar os empresários e incentivar ainda mais o comércio entre os países, procurou oficializar acordos e apostar no relacionamento institucional, que é um passo largo para os países membros da CPLP e que estão inseridos em diversos setores de destaque no mundo.

Neste período pós pandemia e de guerra, ocorreram transformações. O que mudou na CPLP?

Com a nova geoestratégia ao nível mundial, a comunidade CPLP é seguramente o bloco económico que pode dar resposta a vários níveis: alimentar, mar, recursos naturais, petróleo e gás, turismo, entre outros. Estamos a falar de um bloco económico extremamente forte ao nível de recursos, seguro e de confiança.

Durante a pandemia a CPLP ofereceu alternativas para contornar os momentos difíceis no setor empresarial?

Durante o período pandémico, a Confederação Empresarial da CPLP prestou apoio as empresas com divulgação das linhas disponíveis de vários setores. Tentou igualmente fortalecer laços de cooperação e procura de novos mercados. Foi realizado também uma Cimeira de Negócios, na Guiné Equatorial, em plena pandemia, onde participaram cerca de 200 empresas. Tudo para que pudéssemos continuar ativos no desenvolvimento destas relações entre os países.

Qual era o panorama da CPLP antes da pandemia?              

Era fomentar os três pilares: a preservação e a divulgação da língua portuguesa, a diplomacia e a cultura. Dentro destes três pilares, são várias as atividades implementadas pela CPLP.

Existe alguma estimativa da CPLP fazer um evento em Portugal relacionado ao mercado comercial, já que aqui vivem muitos imigrantes de países de língua portuguesa?                              

Vou responder pela CE-CPLP (Confederação Empresarial da CPLP). São vários os eventos que já acontecem em Portugal, que promovem o desenvolvimento empresarial dos nove países membros. Ainda este mês, a 22 de junho, vamos ter um almoço do Clube de Empresários da CE-CPLP, com o objetivo de fomentar as relações comerciais.

O que poderia ser feito, além de eventos no setor, para fortalecer ainda mais a CPLP não só na Europa, mas a nível mundial?

A CPLP é a única comunidade no mundo que tem mais países observadores do que membros. Estados membros temos nove. Países observadores são 28, a título de exemplo: Espanha, França, Itália, EUA, Qatar, etc. Além da própria comunidade CPLP, que está presente em quatro continentes.

 

Liderança feminina

Como é ser a primeira mulher a exercer este cargo na Confederação Empresarial da CPLP?

Sou efetivamente a primeira mulher a presidir à Confederação Empresarial da CPLP. É muito importante fazer esta distinção. Existe o organismo CPLP que é composto por nove estados membros e esta entidade é dirigida pelos chefes de Estado dos estados-membros, com uma rotação na presidência de dois em dois anos. Depois sim, temos a Confederação Empresarial da CPLP, Instituição a que eu presidom e que foi criada enquanto parceiro estratégico da CPLP para apoiar o desenvolvimento económico dos nove países.

Qual a visão da mulher no mundo empresarial? Algumas pessoas afirmam que são mais sensíveis a identificar os problemas e mais ágeis para os solucionar. Concorda com esta ideia?

Na minha opinião, o que realmente importa mencionar é que o mundo empresarial necessita de competência, independentemente do género. O que importa é a pessoa ter capacidade sólida para desempenhar determinadas funções. As mulheres sendo seres que procriam, que são mães, de uma forma geral, é visível a sua maior sensibilidade relativamente aos homens. É igualmente reconhecida, na mulher, a capacidade de ser multitask, o facto de conseguir desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo.

Atualmente na CPLP, tem algum projeto voltado somente para as mulheres?

Existem projetos para empoderar as mulheres, dar apoio para que possam assumir mais cargos de liderança.

Para finalizar, uma pergunta sobre o mundo académico. Em todas as Universidades de Portugal, existem alunos dos países integrantes da CPLP. Existe algum projeto direcionado a estes estudantes universitários, jovens que vêm de tão longe em busca de uma oportunidade na Europa?

Só existem projetos que estão ligados diretamente às embaixadas. Nós temos, por exemplo, o concurso das START UP que vai ser implementado por Macau e vai financiar os três primeiros projetos mais votados. E estamos igualmente a trabalhar num programa de mentoria para jovens.

 

Os pilares da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Imagem CNN

Com a necessidade de contemplar os países de língua portuguesa num conceito que fosse adequado aos interesses comuns de cada nação e depois de reuniões que delinearam as necessidades desses países, chegaram a ideia de que algo poderia ser feito em benefício de todos. Com base nessa missão, José Aparecido de Oliveira, embaixador do Brasil em Portugal, organizou, na década de 90, uma reunião em São Luís do Maranhão, entre o Presidente da República José Sarney e os líderes dos países de língua portuguesa para a criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP). Este organismo tinha como função missão a promoção e a difusão do idioma comum dos países membros.

Nascia assim a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Mais tarde, em fevereiro de 1994, além da valorização da língua portuguesa, os chefes de Estado reuniram-se no Brasil para oficializarem aquela que seria a maior porta aberta para as relações comerciais entre os países participantes. Nesta mesma reunião, decidiram que a sede da CPLP ficaria em Lisboa, Portugal.

A união de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe seria o início do estreitamento comercial, diplomático e económico, que introduzido aos acordos internacionais, poderia ajudar na fomentação de novos negócios, não só com as instituições públicas como também as empresas privadas.

A partir de 1995, realizaram-se cimeiras anuais em Lisboa para aumentar as parcerias e decidir sobre o futuro dos negócios comerciais no âmbito das diversas oportunidades que a CPLP proporcionava aos países membros.

Com a conquista da independência, em 2002, Timor-Leste integrou ao grupo sendo o oitavo país membro. Em 2014, foi a vez da Guiné-Equatorial se tornar o nono estado a fazer parte da CPLP, apesar de a entrada deste país da CPLP não ser consensual, por questões ligadas à violação dos direitos humanos, nomeadamente, a permissão da pena de morte.

A CPLP manteve o relacionamento internacional e os interesses comerciais, ano após ano. Com mais de 400 milhões de habitantes, a responsabilidade que envolveu a criação desta instituição não se baseou somente na esfera comercial, mas também política e na luta pela democracia.

A língua portuguesa, pivô desta união entre os países que compartilham desse mesmo idioma, é considerada motivo de orgulho e celebração pelos povos que a constituem, que além de toda parte comercial e política, envolve a cultura, que a CPLP defende como essencial no desenvolvimento de laços entre as sociedades.

Em quase 30 anos de existência, a CPLP tornou-se organismo decisivo na relação comercial, económica, política e cultural entre os países membros.

 

A missão da Confederação Empresarial da CPLP

Com o passar dos anos, a CPLP foi-se aprimorando no desenvolvimento de oportunidades. O crescimento da instituição levou à diversificação de negócios entre os países e a procura por novos produtos e serviços impulsionou a criação da Confederação Empresarial da CPLP.

Importante no funcionamento das atividades comerciais dos estados membros, também tem como função o planeamento e a divulgação das empresas e dos futuros negócios possíveis a serem realizados. Este setor tão importante que faz parte da CPLP, além de criar estratégias para momentos de crise, também estabelece o contacto entre os países, a fim de facilitar o entendimento e a conclusão dos acordos comerciais.

 

Por Joana Campinas e Renata Tavares, alunas da licenciatura em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa.

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