O impeachment da presidente do Brasil é uma possibilidade real?
(Imagem: Reprodução Último Segundo)
Desde que assumiu o segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff tem sofrido pressão de grupos que pedem seu impeachment. Com a crise econômica, o dólar em alta e a inflação batendo recordes, a pressão popular sobre Dilma tem se intensificado.
No último domingo, durante o primeiro pronunciamento da presidente no ano de 2015, foram registrados panelaços em diversas cidades do país. Uma manifestação nacional de grande porte está sendo planejada para o próximo domingo (15), com o objetivo de cobrar a saída da governante.
Independentemente de ideologias políticas, o que muita gente não sabe é se existe base para um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff no atual contexto.
A BBC Brasil conversou sobre o assunto com alguns dos mais renomados juristas do país, que fazem análises distintas sobre a possibilidade de um eventual afastamento da presidente do cargo.
O afastamento do presidente está previsto no artigo 85 da Constituição, que estabelece que ele pode ocorrer em casos de crimes de responsabilidade, que incluem, entre outros, crimes contra a existência da União, o exercício de direitos políticos, sociais e individuais e contra a probidade administrativa. Esses crimes são regulamentados pela lei 1.079, de 1950, a chamada Lei do Impeachment.
Em entrevista à BBC Brasil, o jurista e professor de Direito Administrativo da PUC-SP Celso Antônio Bandeira de Mello explica que para que um presidente seja afastado de suas funções, o processo de impeachment precisa ser aprovado primeiro na Câmara por dois terços dos deputados, e depois no Senado, pela mesma proporção. Por conta disso, o jurista e professor emérito da Universidade Mackenzie Ives Gandra Martins também concorda que a discussão é muito mais política do que jurídica.
– O argumento jurídico é para dar base à discussão. Pode-se discutir juridicamente, mas se a Câmara afastar o presidente, dificilmente o STF (Supremo Tribunal Federal) iria contestar uma decisão da Câmara.
O especialista em Direito Constitucional Pedro Serrano afirma, porém, que, apesar de o Legislativo ter o poder de ‘julgar’ um processo de impeachment, esse julgamento não é puramente político, porque precisa ser feito sob critérios legais.
– O Congresso não pode inventar um processo de impeachment, isso seria uma forma de golpe. Ele só pode julgar um processo desses nas hipóteses previstas na lei. A pessoa que decide é o Congresso, mas ele decide a partir de um processo legítimo – , explica.
Segundo informações da Agência Brasil, a presidente considerou legítima a manifestação do último domingo e descarta qualquer possibilidade de impeachment:
– Aqui [no Brasil] as pessoas podem se manifestar. Eu sou de uma época em que se a gente se manifestasse, acabava na cadeia, podia ser torturado ou morto. Chegamos à democracia e temos que conviver com a manifestação. O que nós não podemos aceitar é a violência – , declarou em entrevista a jornalistas.
O jurista Ives Gandra Martins entende que essa é uma hipótese que dificilmente se concretizará no atual cenário.
– Eu tenho a impressão que, juridicamente tem base, mas dificilmente um presidente não tem um terço do Congresso do seu lado. (…) Acho que a única probabilidade de isso acontecer é a manifestação do dia 15 ser de tal ordem que faça com que os deputados percebam que é ruim para eles ficar do lado dela, porque ‘pega mal’ ficar do lado de uma pessoa que é tão criticada. Mas politicamente é improvável.
Lembrando a única situação de impeachment vivida no país – quando Fernando Collor de Melo foi afastado do cargo por denúncias de corrupção, em 1992 -, o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello reitera que seria muito difícil a situação se repetir, o ‘clamor’ pelo impeachment será uma onda passageira que não deve durar muito. Mas Ives Gandra alerta que há um risco de a crise política do país ficar ‘insustentável’, caso as medidas de austeridade propostas pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não sejam aprovadas em breve.
Sem comentários
This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.