Muito se disse e continua a ser dito em torno do novo acordo ortográfico da língua portuguesa.
De algum tempo a esta parte, certa imprensa lusa, estribando-se em dados desconhecidos, vem destacando a intransigência de Angola e de Moçambique na ratificação do acordo.
Sinceramente, não compreendo o espanto. A meu ver, Angola e Moçambique enquanto nações soberanas, estão no pleno direito de ratificar ou não se assim o entenderem.
Creio existirem questões mais prementes a noticiar e a discutir neste momento, como sejam a garantia da estabilidade socio-política na Guiné-Bissau ou a desburocratização da circulação de pessoas dentro do espaço lusófono.
A importância da língua enquanto fator de união não está em causa. Porém, noto exageros tanto por parte daqueles que apoiam, como dos que rejeitam a implementação do acordo.
Os primeiros, ao procurar a internacionalizar a língua, apresentam como solução a sua padronização, como se as (poucas) diferenças tivessem mutilado a comunicação entre alguns países da lusofonia e tais complicações só pudessem ser ultrapassadas caso adotássemos um estilo comum.
Os segundos, por se refugiarem na idéia de que o acordo tornará refém a nossa herança cultural. Provavelmente, não se terão apercebido de que como em tudo na vida, a língua sofre influências e evolui.
A prova disso é que a língua portuguesa não foi sempre a mesma. E não é um caso isolado.
O inglês, por exemplo, um dos idiomas mais falados no mundo, é a prova de que a geografia e a cultura desenvolvem um papel importante nestas questões. Basta olharmos para o Inglês (falado e escrito) nos Estados Unidos da América e para o do Reino Unido, para constatarmos que não foram as diferenças que ditaram a evolução ou o retrocesso de ambas as nações neste ou naquele sentido.
Situações como esta exigem algum equilíbrio e bom senso. Mudanças radicais têm sempre implicações perniciosas. Por isso, o melhor será deixar que cada um escolha a forma como pretende explorar e utilizar a língua portuguesa.
(Embora pouco ou nada se note, o texto contém algumas palavras escritas de acordo com as regras do novo acordo ortográfico e grafia “abrasileirada”,tais como : língua portuguesa, fator, adotássemos, idéia. Deixaram de compreender o texto por isso?)