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Na tchon di nha papé / Carta de amor à Guiné-Bissau

Leya

Na tchon di nha papé. ( Na terra do meu pai.) 

 

Orgulhosamente sou neto e filho de Cacheu.

 

Desde menino, sem saber porquê, carrego carinhosamente a doce leveza dessas 6 letras no meu coração.

 

No passado dia 10 de abril, caminhei pela primeira vez no chão sagrado dos mandjacos e tudo começou a fazer mais sentido. A doçura daquelas gentes transborda como as águas do rio Cacheu, que desagua no seu próprio mar, assim como a alegria e a folia, não só nesta terra em particular, mas em todo o território da Guiné-Bissau.

 

Os bijagozinhos, num misto de atração pela diferença e zelo pela nossa segurança, acompanham-nos em cada braçada assumindo o papel de guardiões daquele “maritório” que lhes pertence e a quem eles pertencem. Numa semelhança de matrimónio, levando ao literal os votos de “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe”, e aconteça o que acontecer, aquele mar ali estará sempre, para os divertir, consolar e alimentar.

 

Foi até difícil para mim “encaixar” que este foi o país que ofereceu mais resistência aos homens de Salazar. Como assim? Os guineenses são hostis? Tudo o que trago da Guiné são sorrisos, olhares ternos e muito djumbai (divertimento). No entanto, a relação entre aquela classe política e os guinéus (sociedade civil), é simplesmente bi-polar, definitivamente. Não há como entender ou justificar que nos últimos 30 anos não tenha havido um governo democrático que durasse mais de 4 anos.

 

Meus meninos… chega dessa brincadeira. Eu vi um país com um potencial incrível, que está sedento por estabilidade e boa gestão. Se por um lado temos a total falência do Estado, temos por outro uma excelente terra fértil, exuberante na sua vegetação, ostensiva de poilons, luxuriantes bolanhas, mangais, cajueiros… ali a natureza assume o papel de provedora, assegurando que alimento não faltará a um único ser vivo, como se preenchesse as lacunas que o Estado – ou a falta dele – tem deixado nas últimas décadas. Na Europa, um teto é um abrigo. Na Guiné, o abrigo está na rua, pois lá somos acarinhados pela brisa noturna que nos abriga do calor.

 

Assim é a terra, da terra vermelha.

 

Com carinho para a Guiné-Bissau.

 

1 Comentário

  1. Fuba
    10 Maio, 2017 às 12:53 — Responder

    Parabéns pelo artigo. Não tendo quaisquer raízes guineenses (ou mesmo africanas) identifiquei-me completamente com as tuas palavras. Estive durante um ano em Bissau mas conheci muito pouco do País. Mas mesmo esse pouco deixou-me apaixonado. O calor do clima mas principalmente das gentes. Desejo profundamente que os governantes por fim olhem mais para o que os une e não para as suas diferenças. Esse povo e o País merecem.

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