Ao escrever o presente artigo sinto-me imbuído de vários sentimentos que se resumem entre a alegria e a tristeza num momento em que Moçambique celebrou no passado dia 4 de outubro 23 anos de paz, assinados precisamente naquela data de 1992, em Roma, Itália.
Tenho os anos da paz em Moçambique, pois, foi também há 23 anos que eu nascia em um hospital de uma cidade capital chamada Maputo, e comigo chegava a paz pela qual tanto almejou-se e lutou-se.
Vinte e três anos é idade adulta, é idade de responsabilidade e maturidade. Contudo, no meu país não se faz jus a esta idade após mais de duas décadas de paz. Inicialmente fiz menção a dois sentimentos que caem sobre mim, a alegria porque conseguimos entre moçambicanos alcançar consensos que nos conduziram para a paz. Mas me entristece ao mesmo tempo olhar para o actual estágio do país por estar num país que nos últimos anos oscila entre uma paz armada e insegura. Uma paz que se resume em diálogo político interminável e com algumas balas de canhão à mistura e com perdas significativas para a economia nacional, perdas humanas e inibição particular para o acesso à educação e aos serviços de saúde nas zonas onde decorre o conflito.
Há uns anos Moçambique era elogiado por se ter destacado como um dos poucos países no mundo que conseguiu ter uma paz duradoura mesmo após quatro processos eleitorais desde a introdução do multipartidarismo, mas o quinto processo eleitoral, foi a gota d’água que perigou a paz no país.
Hoje, vivemos numa incerteza que vai entre o medo, insegurança e instabilidade decorrente da falta de consenso e excesso de diferenças entre o Governo do dia e o maior partido da oposição, a Renamo. Vivemos numa instabilidade desde o último dia 15 de outubro, ou seja, desde o dia das quintas eleições gerais.
A crise pós-eleitoral é o corolário de problemas diversos que vão para além das eleições, pois as eleições apenas serviram de estopim para que muitos problemas pudessem hoje surgir. Dentre eles destacam-se a exclusão política e económica, a politização das instituições públicas e o controlo partidário da comunicação social pública.
Como cidadão deste país não posso me orgulhar por estar a viver a actual situação em Moçambique, pois é deveras preocupante 23 anos depois não conseguir definir o rumo do meu país, mas tenho fé que na base do diálogo os moçambicanos vão conseguir vencer os seus desentendimentos como souberam fazer no dia 4 de outubro de 1992.
Bem-haja, Moçambique!