Uma vez mais, a esperança de uma paz prolongada volta aos corações dos moçambicanos. Mesmo à porta das sextas eleições autárquicas, cuja relevância reside na definição do peso dos principais partidos no xadrez político do país, o líder do maior partido de oposição, Afonso Dhlakama, anunciou uma “trégua sem prazos”, que é acompanhada pela retirada gradual das posições das Forças de Defesa e Segurança da serra da Gorongosa, onde há mais de um ano Dhlakama está escondido após três incidentes que quase o mataram e que o seu partido atribui às forças governamentais.
Após o fracasso dos trabalhos de uma Comissão Mista mandatada pelas duas partes para negociar a paz, sob observação de mediadores internacionais, as notícias do entendimento renovam a esperança dos moçambicanos, apesar de existir quem pense que consensos são consequência de interesses comuns entre a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal força de oposição.
Por um lado, a Renamo precisa das eleições autárquicas que se aproximam para revitalizar a sua máquina política, depois de não ter participado no escrutínio de 2013, alegando que a Lei Eleitoral que vigorava favorecia o partido no poder há mais de 40 anos. Por outro, interessa a Frelimo a realização de um escrutínio sem sobre saltos, após a avalanche de más notícias que marcaram pela negativa o país nos últimos dois anos, entre as quais a descoberta, em Abril do ano passado, de dívidas escondidas contraídas à revelia do parlamento e de parceiros internacionais.
O maior desafio do executivo de Filipe Nyusi continua a ser a estabilização da economia. Nos últimos tempos, o país atravessa uma conjuntura difícil, marcada pela forte desvalorização da moeda, redução do investimento estrangeiro, subida do custo de vida, aumento da inflação e as consequências dos desastres naturais. O efeito combinado destes choques resultou na desaceleração da economia moçambicana, com o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer 4,4% em 2016, um pesadelo para um país acostumado a atingir os 7% nos últimos cinco anos.
Contudo, apesar de todos os desafios, Moçambique continua a acreditar no futuro. Mas o olhar sofrido da maior parte da população revela o paradoxo de um país em que a disparidade do nível de vida é visível em todos retratos da nação e explica a origem do conflito político que marcou os últimos anos.