No dia 19 de março deste ano, uma combinação de fortes tempestades e pequenos abalos sísmicos trouxe à tona uma fissura gigantesca no sudoeste do Quênia, norte da África. A rachadura interrompeu a grande estrada Mai Mahiu-Narok, que liga a capital, Nairobi, ao pequeno vilarejo de Mai Mahiu e forçou sucessivas intervenções de engenheiros para a sua reconstrução. Em junho, houve mais rachaduras na autoestrada. Em agosto, a rodovia colapsou novamente – duas vezes.
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A questão é que a fissura está além das capacidades humanas de resolução. Com aproximadamente 15 metros de profundidade e 20 metros de largura, a falha está situada sobre o limite de duas placas tectônicas: a placa Africana e a placa Somali, em uma região chamada Vale da Grande Fenda (Rift). Ambas estão a se mover há milhares de anos e continuarão seu movimento natural.
Geólogos que analisaram o sítio da rachadura inicial detectaram que a falha amplia-se cada vez mais rápido (em torno de 5cm por ano) e começa sob a terra na região de Afar, na Etiópia, segue por Quênia e Tanzânia e se põe a caminho do Zimbábue. Mas onde entra Moçambique na história? A divisa da placa Somali passa pelo meio do Lago Niassa (Lake Malawi), que divide Malawi de Moçambique. Há a possibilidade (grande) de dividir o país ao meio e que ele se torne o sul da nova grande ilha que integrará o novo continente.
Moçambique tem um histórico de sismos que nada mais significa que as placas tectônicas estão a avisar que a separação chega logo. Em 30 milhões de anos, segundo estimativas. Apesar da sensação de urgência e perigo, este processo é longo e a maior parte dele é invisível e imperceptível.
Há duas possibilidades mais aceitas sobre onde será o corte final ao sul do continente africano. Uma supõe que a fenda cortará Moçambique ao meio mais ou menos pela região de Quelimane, pois é onde a divisa das placas tectônicas se situa. Isto tornaria o norte de Moçambique no extremo sul da nova ilha que surgirá. A segunda, suportada pela especialista Lucia Perez Diaz, da Universidade de Londres, aponta um corte mais abaixo, incluindo partes da África do Sul, segundo essa imagem reproduzida em seu trabalho.
So this will happen in the next 50M yrs. Can’t wait pic.twitter.com/g2uogxK9or
— •K!M™ ?? (@KimNelson_) 20 de março de 2018
Litosfera fina
Litosfera é a parte sólida mais superficial da estrutura da Terra, formada pela crosta e pela parte superior do manto. Ela é quebrada, formando as placas tectônicas, que nunca estão paradas. Algumas se aproximam, outras se afastam, como é o caso da Placa Somali em relação à Placa Africana. A região do Vale da Fenda tem uma litosfera extremamente fina e uma atividade vulcânica que explica tanto os tremores de terra constantes na região quanto a separação da extensão de terra que criará o novo continente.