Maputo na rota de exibições de estreias e clássicos do cinema africano
Realiza-se de 7 a 13 de Julho, na capital moçambicana, a 4ª edição da Semana de Cinema Africano, com uma mostra de 14 filmes entre estreias e clássicos.
A iniciativa é do cineasta moçambicano João Ribeiro, que, para esta edição tem como convidados a produtora sul-africana Sara Blecher e o cineasta David Cobstantin das Maurícias.
“Ayanda” de Sara Blecher é o filme que dá início a uma semana recheada de filmes africanos que passam pela primeira vez em Moçambique.
O filme de abertura da 4ª edição do Cinema Africano em Maputo retrata a história de uma jovem moderna que luta para assegurar e dar continuidade ao trabalho de seu pai em uma garagem de automóveis, neste percurso a jovem se depara com diversas dificuldades e se vê obrigada a amadurecer por si própria.
Da lusofonia, será exibido o filme “O Espinho da Rosa” de Filipe Henriques produzido entre Portugal e Guiné-Bissau, que retrata a história de um advogado de sucesso chamado David Lunga interpretado por Júlio Mesquita, que acaba de vencer um caso polémico que envolve a pedofilia no seu país. Durante a noite, celebrando a vitória, o advogado conhece Rosa (Ady Baptista), os dois se envolvem mas Lunga não sabia onde se metia. A sua nova aventura amorosa era uma menor. A partir daí a vida do advogado outrora bem sucedido por combater casos de género vira do avesso.
Ainda nas estreias, outro destaque é o filme “Crumbs” de Miguel Llanso, fruto de uma cooperação entre a Espanha e a Etiópia, que retrata a história de um jovem oriundo de uma região pós apocalíptica etíope e se vê cansado de coleccionar os restos de uma civilização decadente. Num lugar quase que esquecido aterra uma nave espacial que o leva a lutar contra os seus mais profundos medos.
A tumultuosa história da Costa do Marfim também está representada neste evento no filme “Run” de Phillippe Lacôte que retrata a história de um jovem forçado a fugir permanentemente pela situação política do seu país, o que o leva a assassinar o primeiro-ministro.
Em termos de clássicos, destacam se os filmes “Tilai”, de Idrissa Quegrago (1991), “Buud Yam”, de Gaston Kanoré (1997), ambos da Burquina Fasso, “Guimba”, de Cheick Oumar (1993) do Mali, “O Carregador” (Baara), de 1978 e O Vento (Finye), de 1983, ambos de Souleymane Cissé e “Le Wazzou polygame”, de Oumarou Ganda (Níger/França) de 1971.
Numa altura que Moçambique enfrenta diversas crises, esta compostura cinematográfica, segundo o realizador, “pretende promover um debate em torno da cinematografia africana através de um conjunto de filmes provocadores e desafiantes que trarão reflexões sobre a condição e o papel de cada um no contexto de uma sociedade em desenvolvimento”.
Para esta edição, Moçambique não traz estreias, mas ao longo das anteriores já foram apresentados filmes como “Virgem Margarida”, de Licínio de Azevedo, “O Vento Sopra do Norte”, de José Cardoso, “O Ultimo Voo do Flamingo, de João Ribeiro” (adaptado do livro de Mia Couto), “A Herança da Viúva”, de Sol de Carvalho, entre outros.
A maior parte dos filmes que serão exibidos datam de 2012 a 2014 e maior parte já ganhou prémios em importantes festivais internacionais.
Para este ano a Semana do Cinema Africano irá abranger três cidades capitais, nomeadamente Maputo, Inhambane e Beira, mas a meta é chegar a todas províncias segundo João Ribeiro.
– Queremos fazer deste um evento nacional, queríamos que pelo menos todas as cidades capitais pudessem ver estes filmes africanos mas as condições não permitem no momento – afirma o cineasta em entrevista exclusiva à Conexão Lusófona.
– Nós temos que ter políticas que incentivem o surgimento e o desenvolvimento de uma indústria de arte nacional, sem uma indústria não conseguimos fazer cinema. Não se trata de dar dinheiro, trata-se de trazer políticas que incentivem a produção e divulgação da arte, a formação de artistas e a sua propagação.
O cineasta faz ainda referência à necessidade de trazer a Moçambique festivais e personalidades da 7ª arte.
– Nós precisamos de galerias de arte, precisamos de aparecer lá fora, de participar em festivais, de trazer festivais internacionais a Moçambique e de trazer personalidades a participar nos nossos festivais, tudo isto é um conjunto de coisas que é necessário mudar – afirma.
Apesar de diferenciado das outras cinematografias, o cinema africano apresenta suas características próprias que passam a merecer destaque em festivais internacionais ainda que sempre associado às dificuldades de produção, financiamento e divulgação.
– A expectativa é tirar o preconceito de que o cinema africano não é bom para que as pessoas amanhã vejam o nosso cinema de uma outra maneira. A finalidade é fazer com que isto aconteça todos os anos, não é possível mudar as coisas de um momento para o outro – concluiu João Ribeiro.
A última edição contou com cerca de sete mil espectadores e para este ano espera-se um número maior.
Segundo a curadora do evento, Ute Fendler, “além de questões e problemas actuais do continente, estes filmes procuram ao mesmo tempo trazer novas técnicas narrativas e formas estéticas no cinema”.
Para esta 4ª edição a projecção de clássicos é dedicada ao Mali, Burkina-Faso e Nigéria que foram os primeiros países africanos a desenvolver um cinema nacional e muito recentemente foram vítimas de violência religiosa e política.
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