AngolaBrasilCulturaPaísesPortugal

Lista Conexão: músicas obrigatórias de Waldemar Bastos

(Imagem: Divulgação)

Nascido em N’Banza Congo – lugar que, dizem os mitos, a música de África tem como berço – Waldemar Bastos completa hoje 61 anos.

Encantado pela música desde criança, Waldemar Bastos é uma referência quando se fala nos ritmos tradicionais do continente africano.

Foi a sua abertura a todos os ritmos, junto com a sua busca por explorar o mundo atrás de um lugar para chamar de lar, que conferiram à música que ele faz um ar universal, ainda que mantenha sempre a “espinha dorsal” angolana:

– Desde miúdo e durante muitos anos, fiz parte de vários conjuntos e viajei por Angola tocando um pouco de tudo: rock, tangos, valsas, entre vários estilos – e , juntamente com o que ia escutando do meu pai e as canções que ouvia o meu povo cantar por onde passava, tudo isto me facultou um grande universo musical. Nasci com capacidade de compor naturalmente e tudo o que toquei e ouvi ficou retido em mim e veio saindo cá para fora – mantendo sempre a estrutura da minha alma e da alma angolana – , revela em uma biografia no seu site oficial. O cantor leva um pouco de mundo a Angola e um tanto de Angola para o mundo.

Foi no Brasil que Waldemar Bastos gravou o seu primeiro disco. No Rio de Janeiro, ele conheceu alguns cantores de renome – como Chico Buarque, João do Vale, Elba Ramalho, Djavan e Clara Nunes, entre muitos outros que haviam estado em Angola nos finais da década de 70, no âmbito do Projecto Kalunga, a maior delegação artística saída do Brasil para o exterior até os dias de hoje. Em 1983, gravou o primeiro disco, Estamos Juntos, do qual destacamos Velha Chica. A música, que é um clássico nos seus shows, tem um sentimento de liberdade tal que mesmo nos shows em países que não falam português o público se sente sensibilizado:

– Há linguagens que não precisam de tradutor, os sentimentos que são emanados dali são muito profundos – , explica.

O segundo álbum, Angola Minha Namorada, foi lançado em 1989, cinco anos após o retorno a Lisboa. O concerto de apresentação do álbum em Angola no ano seguinte é citado como um dos mais emocionantes da sua carreira, com 200 mil pessoas a ovacionar o cantor com lenços brancos.

O terceiro álbum, Pitanga Madura,  teve um grande êxito com os temas Pitanga Madura e Margarida, uma de origem mais urbana  a outra mais rural. Em pleno momento eleitoral, cada uma foi “adotada” por um dos opositores políticos em Angola, o que custou caro ao cantor, que acabou por sofrer difamações e perseguições, o que o motivou a deixar para trás mais uma vez os planos de voltar a viver em Luanda.

Foi da parceria com David Byrne que nasceu Pretaluz, em 1997, e a mudança para os Estados Unidos, onde o cantor vive ainda hoje. A sua carreira, que já estava a crescer, passa para um outro nível, ganhando destaque nas páginas de jornais como o New York Times, Losangeles Times e USA Today. Em 2012, Waldemar Bastos recebeu com o tema Sofrimento o segundo lugar na categoria world music do International Songwriting Competition, nos Estados Unidos.

No álbum Renascence, de 2004,  Waldemar fez um tributo à paz, resgatando as guitarras tradicionais africanas.

Em 2010, o cantor realizou um sonho ao gravar com a Orquestra Sinfônica de Londres o álbum Classics Of My Soul. Um trabalho que contribuiu novamente para a queda de barreiras, desta vez entre a música de um país africano e a música erudita ocidental.

No último novembro, o cantor foi um dos principais oradores na Conferência Anual sobre Diplomacia Cultural, por ocasião das Comemorações do 25.º Aniversário da Queda do Muro de Berlim. No encontro A World without Walls 2014, Waldemar Bastos falou sobre a força da música como instrumento para derrubar complexos e acabar com a ignorância num discurso emocionante que reproduzimos um trecho:

“Estamos juntos nesta afirmação pela Paz Mundial.
Estamos juntos nesta afirmação de uma Angola e de um Mundo onde todos somos mensageiros e construtores do equilíbrio social, cultural e artístico.
Estamos juntos nas nossas diferenças – de línguas, de cores, de religiões – mas acima de tudo estamos juntos nas nossas semelhanças.
Estamos juntos no amor pela terra, pela minha terra – Angola – pela vossa terra – Alemanha – pela terra de todos nós – o Mundo.
Estamos juntos neste crescimento cultural e espiritual.
Estamos juntos a quebrar os Muros do nosso pensamento, os nossos preconceitos, as nossas inseguranças, os nossos desequilíbrios pessoais.
Estamos Juntos! Estamos Unidos!”

Sem comentários

Deixe-nos a sua opinião

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.