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Joana Mariani filma a fé no feminino

(Imagem: Divulgação)

 

Joana Mariani estreou no Festival do Rio com o longa-metragem Marias, sobre a fé no feminino. Num trabalho de seis anos de investigação, a cineasta revela-nos uma experiência de fé comum à América Latina: a devoção à Virgem Maria.

 

A partir de relatos de várias pessoas de nome Maria e de imagens de santuários, pinturas e desenhos com agradecimentos à santa, participamos dos pequenos milagres que deram à padroeira homônima a sua fama. Por meio de personagens que destoam do arquétipo das devotas, a cineasta foge do sentimentalismo fácil e da propaganda religiosa.

 

A fotografia de Anderson Capuano, marcada por composições fortes, que captam as diferentes luzes – de um templo, de uma vela ou de um vitral –, consegue evidenciar o contraste de todas as influências que moldaram a figura da Virgem Maria: as religiões de matriz africana, as cerimônias indígenas, as lendas urbanas e, claro, a Igreja Católica.

 

As Marias tornaram-se um símbolo de unidade transnacional para Brasil, Cuba, Peru, Nicarágua e México. Elas são, nesse sentido, um elemento da própria identidade latino-americana. Cada Maria representa um protótipo das diferentes mulheres da região.

 

Mais do que um filme sobre fé, Marias é, sobretudo, um trabalho sobre o feminino. A imagem de Maria reflete valores associados à mulher: a maternidade, o sacrifício, o amor, a justiça, a cura, o alento e o aconchego.

 

Ao longo do documentário, a mãe de Jesus vai se revelando uma matriarca. Essa reinterpretação evidencia os machismos diários presentes nas estruturas sociais. As Marias da América Latina são mães e mulheres poderosas, mas as as lutas que têm para enfrentar ainda são muitas.

 

Num constante malabarismo entre o pessoal e o coletivo, Mariani explora ainda as formas e mitos que se manifestam em nome de Maria. Apesar das distinções de santuários, histórias e rituais, as Marias mantêm uma presença comum no imaginário dos crentes. Maria, seja Guadalupe, no México, ou Caridade do Cobre, em Cuba, representa a força da mulher. Uma força capaz de criar e de destruir. Uma força que dá a vida e trai a morte.

 

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