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Indígenas podem ser os mais prejudicados com a saída de médicos do Brasil

Médicos trabalham próximos à comunidade no interior do Tocantins (Imagem: Reprodução Youtube)

Desde a decisão de Cuba pela retirada de seus médicos do programa federal de saúde conhecido por Mais Médicos, uma dúvida paira sobre a cabeça dos brasileiros – principalmente dos que moram em regiões longínquas como interior da Amazônia, o sertão nordestino ou o centro-norte do País: o que será da Saúde nos locais mais afastados?

 

O documentário  “Mais Médicos no Tocantins” nos dá uma pista. Realizado antes do fim da parceria entre Brasil e Cuba, a produção – rica em depoimentos – esclarece a importância da iniciativa para comunidades indígenas como os Xerentes, no interior do Tocantins – estado no Norte do país. O estado é o mais novo da federação (existe desde 1988) e foi eleito uma das prioridades para a implementação do programa devido à baixa concentração de médicos.

 

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Com o fim da participação dos cubanos, a saúde dos indígenas tende a ficar desassistida. Segundo a Organização Panamericana de Saúde (Opas), a população indígena era tratada, em 2017, por 321 profissionais – sendo 289 cubanos. Isso representa quase 90% dos profissionais, que já estão deixando o país.

 

O sub-secretário da saúde de Tocantins, Marcos Senna, explica a ausência de médicos pelas dificuldades de infraestrutura no interior, que desestimulam profissionais brasileiros. Mas, segundo ele, apesar de ser importante a infraestrutura, “a presença dos médicos é muito mais importante do que os instrumentos”, pois é a ligação humana que permite a compreensão dos problemas e tratamentos mais efetivos. É preciso que as comunidades se sintam assistidas.

 

Em distritos indígenas, médicos enfrentam dificuldades mas têm papel fundamental na qualidade de vida regional (Imagem: Reprodução Youtube)

 

Os cubanos não se furtaram ao desafio e à imersão cultural. A supervisora do Mais Médicos no Tocantins, Ludmilla Teixeira, lembra de dificuldades iniciais para a adaptação, como as diferenças linguísticas, hábitos e mesmo preconceito contra os cubanos. No entanto, quando superadas, se tornam símbolo de esforço e boa vontade dos profissionais, alguns passando a ser exaltados pelos locais.

 

As populações indígenas têm peculiaridades no trato, e a cultura de atendimento dos cubanos – chamada medicina integral, por compreender cuidados preventivos, acompanhamentos e tratamentos – ajuda a aproximar as comunidades dos profissionais de saúde. O que não impede que haja outras dificuldades.

 

Prevenção e acompanhamento constante ajuda a diminuir desnutrição infantil e evitar custos com tratamento de doenças (Imagem: Reprodução Youtube)

O médico Sérgio Verona, por exemplo, lembra que há uma resistência forte aos exames ginecológicos, não apenas por parte dos maridos como das próprias mulheres, que se recusam a realizá-los. Ainda há  a questão da alimentação, pois os indígenas querem, durante eventual período de internação, que mantenham-se suas dietas tradicionais ou rituais. Mas são desafios que podem ser contornados com a aproximação do profissional de saúde da cultura.

 

Os médicos cubanos já começaram a deixar o país e o governo abrirá novos editais para contratação de médicos em regime de urgância.

 

Entenda a saída dos cubanos

 

O Brasil tem uma falta crônica de médicos, que não é suprida pela formação nacional. Apesar de haver em torno de 453 mil médicos formados, segundo o Boletim “Demografia Médica 2018” do Conselho Federal de Medicina, grande parte escolhe trabalhar em centros urbanos e as regiões mais afastadas e pobres ficam sem profissionais. Em 2014 o governo federal lançou o programa Mais Médicos, que visava preencher as vagas necessárias e garantir a saúde nessas regiões.

 

O programa foi dividido em 4 editais: o primeiro era voltado para estrangeiros em geral que quisessem atuar no Brasil. Houve inscrições, com destaque para a participação de médicos da américa latina e portugueses, mas ainda restaram vagas. Para estas foi lançado o segundo edital, voltado para brasileiros que haviam se graduado no exterior, o que ainda foi insuficiente. O terceiro, foi aberto para todos os médicos brasileiros que possuíssem registro no Conselho Regional de Medicina, edital que foi marcado pela baixa procura de interessados. Foi realizado, então, um convênio com Cuba – país internacionalmente conhecido pela qualidade da medicina – para preencher as vagas sem interessados. Os médicos cubanos possuíam um contrato exclusivo, vinculado ao Estado cubano.

 

Em 2018, o presidente eleito Jair Bolsonaro – crítico de Cuba, por afirmar que se trata de uma ditadura comunista – disse que alteraria as regras dos mais médicos, que usaria o exame Revalida para “expulsar” cubanos e que revogaria o acordo feito anteriormente entre os dois países. Bolsonaro questionou, ainda, a formação e capacidade dos médicos.  Antes do novo presidente ser empossado – e diante das críticas que Cuba considerou injustas e sem fundamentos, o país caribenho tomou a dianteira, revogou o acordo com o Brasil e retirou seus médicos do programa federal, abrindo uma lacuna de médicos no país. A situação aprofunda as dificuldades na saúde, principalmente nas regiões mais pobres do país. Mas o governo já anunciou que, ainda em 2018, abrirá novos editais para preencher as vagas deixadas pelos cubanos.

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