A ilha cabo-verdiana de Santa Luzia, a única desabitada e reserva natural do país africano, foi invadida por plásticos e resíduos de pelo menos 25 países. O alerta foi dado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), após duas visitas oficiais ao local, no âmbito do projeto “Desertas – gestão sustentável da reserva marinha de Santa Luzia”.
A organização ambientalista informou, na sua página oficial, que a primeira visita realizada à ilha de Santa Luzia foi efetuada em junho (2018). A limpeza da Praia dos Achados foi o mote do projeto supracitado, coordenado também pela Biosfera, associação ambientalista de Cabo Verde, e pela Direção Nacional do Ambiente (DNA) cabo-verdiana.
Na mesma publicação, a SPEA divulgou que os investigadores, que participaram na campanha de limpeza, voltaram à ilha quase seis meses depois e ficaram “chocados” com a quantidade de plásticos que se tinham acumulado nesse período. Segundo esta organização, a ilha de Santa Luzia poderia assemelhar-se a um paraíso, mas o lixo e os plásticos, trazidos pelas correntes marítimas, estão a transformá-la “num pesadelo e numa lixeira” banhada pelo oceano.
“Decidimos andar uma hora pela praia e tentar encontrar plásticos com rótulos para saber de onde vinha todo aquele lixo. Para nossa surpresa, já havia plásticos provenientes de pelo menos 25 países diferentes“, realçou a SPEA, na publicação oficial.
Segundo as informações divulgadas, foram encontrados rótulos de plásticos – incluindo os que são identificados na imagem em cima – oriundos de Portugal, Colômbia, Filipinas, Uruguai, Tailândia, Gana, Reino Unido, Marrocos, Malásia, Estados Unidos da América, Uzbequistão, Japão, Grécia, Malásia, França, Países Baixos ou África do Sul.
A Praia dos Achados é considerada uma das mais importantes para a reprodução da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta). Segundo a SPEA, durante o ano passado (2017), esta espécie marinha fez mais de cinco mil ninhos neste local. Durante o passeio dos investigadores pela ilha, foram encontrados cadáveres ressequidos de duas crias de tartaruga-cabeçuda que “não puderam chegar ao mar porque o caminho estava atulhado de plásticos“, morrendo de “fome, sede e calor dentro de um garrafão de plástico onde ficaram presas logo depois de nascer”, avançou a organização ambientalista.
VEJA TAMBÉM
- Como decompor o plástico? Através de lagartas, cogumelos e bactérias
- Qual é o tamanho da sua contribuição para o mundo do plástico?
- Plástico biodegradável criado em Portugal está a revolucionar a agricultura
“Estes sacos, redes, cordas, garrafas, garrafões e um longo etecetera são uma armadilha mortal para os animais selvagens“, alertou a SPEA, acrescentando que “não chega limpar as praias; é preciso impedir que os plásticos vão ter ao mar”. Com o intuito de fomentar uma mudança viável e a longo prazo, a associação ambientalista portuguesa chamou a atenção para uma petição online. Esta medida foi lançada pela BirdLife Europe and Central Asia, com a finalidade de pressionar a União Europeia a canalizar esforços e investir na conservação dos oceanos. A petição já reuniu mais de 20 mil assinaturas, sendo que o objetivo é chegar às 25 mil.
A Organização das Nações Unidas já reforçou que os plásticos e os microplásticos estão a causar grandes danos ambientais e de saúde pública, por todo o globo. Consequentemente, estima-se que até 2050 exista mais plástico no mar do que peixes. Chegou o momento de virar e combater esta maré; o tempo urge.