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Ilha de Moçambique: Uma viagem à primeira capital do país

Naquele ano, já de férias, embarco em Lisboa com um único rumo, Moçambique a terra que me viu nascer. De mochila nas costas, o céu nublado e ligeiras gotículas caídas do céu, ai que bela receção foi me abençoada. E a Ilha de Moçambique, como será?

Desembarcando em Maputo, atual capital de Moçambique, antiga Lourenço Marques não levo mais que duas semanas, reservadas apenas para visitas a alguns familiares, ansioso para conhecer o local designado pela UNESCO desde 1991 como património Mundial da Humanidade: Ilha de Moçambique.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Volvidas as duas semanas, viajo de visita a Província e Cidade de Inhambane, a cidade que me viu nascer, destino de inúmeros turistas, principalmente por ser uma província costeira, com praias e ilhas de renome internacional – praia do Tofo, ilha da Santa Catarina e Ilha do Bazaruto, enfim é tanta beleza por discriminar.

Não levo mais que cinco dias nesta belíssima cidade, e regresso a Maputo onde embarco para Nampula, viagem esta que durou aproximadamente duas horas de voo, mas permitam que me confesse, mesmo antes de desembarcar, a minha alma já lá estava (na Ilha de Moçambique).

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

No aeroporto de Nampula, pego um táxi com destino a Nacala-porto, mais um longo percurso de carro que durou cerca de duas horas e alguns minutos, exausto, mas recompensado pela belíssima paisagem natural, fico encantado com a praia de Nacala, linda de águas claras, fenomenal e só me dava vontade de lá ir dar um mergulho, mas tinha que ir fazer o check-in no hotel Fernão Veloso, onde hospedei por dez dias.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Magnifico e deslumbrante Hotel, amantes da natureza, e lá vem mais uma confissão, me senti em casa, pois fui bem recebido com uma aplausível gastronomia, o Hotel conquistou o primeiro lugar e foi premiado por ter organizado o melhor festival/evento da Zona Norte de Moçambique designado – WE LOVE NACALA, aproveito a oportunidade para deixar o meus sinceros agradecimento e felicitações pelo prémio.

Os primeiros dias, foram de reconhecimento da área, ou seja, confesso que não resistia sair do meu quarto e ter aquelas águas cristalinas a fronte para mim, não suportava esse tormento bom diário, ia logo dar um abraço ao oceano índico. Certo dia, levanto-me decido a não olhar para a paisagem marítima, pois já era altura de visitar a Ilha de Moçambique, e a viagem dura em média 1h30min de carro, e assim foi.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

De boné, óculos e mochila nas costas dou continuidade a esta fascinante aventura, desta vez nenhuma paisagem linda vai servir de obstáculo, estava decidido, a ir conhecer a Ilha de Moçambique, o meu verdadeiro destino desde que embarquei em Lisboa.

Finalmente depois de uma hora e poucos de viagem chego a entrada da ponte que dá acesso a Ilha, ponte essa que tem cerca de 3.8km de distância, construída em 1960, claro que desde a sua construção a ponte tem sido recuperada embora continuando estreita (apenas uma ó faixa) apresenta um bom estado de circulação.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

E lá vamos, sobre a Ilha, primeiro local a que me desloco é ao Museu, onde fico a colher diversas informações históricas e relevantes, por isso, convém referir que numa primeira fase, a Ilha, adquiriu o estatuto de cidade em 1818 e como referi lá acima foi capital de Moçambique até 1822 e a capital da África Oriental Portuguesa, foi só quando o assento do Governo-geral se deslocou para Lourenço Marques, hoje Maputo, a colónia na altura adotou a designação da Ilha até 1898.

No passado, muito antes dos Portugueses, a ilha era subordinada pelos árabes muçulmanos, referente ao sultão de Zanzibar e era utilizada pelos mesmos árabes no seu comércio com o Mar Vermelho, a Pérsia, a Índia e as ilhas do Índico e só em 1498, quando Vasco da Gama ali aportou pela primeira vez, Portugal teve contacto com a Ilha, desde aí, a cidade tornou-se um ponto de escala obrigatório das viagens de ida e volta dos navios da Carreira da Índia, entre Lisboa e Goa, e tornou-se uma cidade de entreposto comercial bem proveitosa.

A construção do seu vasto e valioso património arquitetónico erguido em 1507, quando os portugueses ali construíram a Torre de São Gabriel, onde hoje se situa o Palácio dos Capitães-Generais foi determinado pelo interesse revelado por outras potências europeias. Para além o Palácio, existe também a Capela de Nossa Senhora do Baluarte, datada de 1522, e a Fortaleza de São Sebastião, considerada a maior da África Austral, totalmente erguida, entre 1588 e 1620, com pedras do balastro dos navios.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Certamente que, essas circunstâncias, atribuem um legado arquitetónico português pelo que, proporciona à Ilha de Moçambique um estatuto único em toda a África Oriental. Hoje, a Ilha é um lugar de encontro entre culturas, povos de diferentes religiões. Mas afinal como o Palácio se tornou Museu?

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

A resposta emerge duma conversa com o guia oficial do Museu, onde ele refere que, o Palácio tornou-se Museu aquando da última visita Presidencial do Primeiro Presidente de Moçambique Independente – Samora Moisés Machel, que hospedou no Palácio e um dos seus guarda-costas, ao se sentar numa cadeira ao pé do quarto presidencial, quebrou o móvel. Foi a partir desse mal que veio um bem maior, tornar o Palácio em Museu, desta forma melhor se preservaria o imóvel e os seus móveis antigos. O Palácio continua hoje bem preservado, belíssimo, com móveis lindos e deslumbrantes.

É no Palácio onde está reservada a história da Ilha, mas algo me inquietou e deixou-me bastante melancólico, por um simples motivo. O Museu, designado Património da Humanidade, a princípio pode ser visitado por estudantes nacionais, turistas nacionais e internacionais qualquer um mediante o pagamento de uma taxa.

Eis que meu estado de melancolia nasce quando saio do Museu e ao seu redor me deparo com crianças que não tiveram a mesma oportunidade que eu tive (ter uma família e ter direito a educação), não os chamaria de mendigos, ou meninos de rua pois acredito que eles não se sentiriam felizes com tais designações.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Ora, nem todos meninos de rua não são educados, isto se prova quando converso com o um grupinho de rapazinhos que se dirigem até onde eu estava e desta forma, desenrolam se um leque de papo com eles, quando os pergunto se conhecem a história da Ilha, alguns dizem que o que ouvem com alguns turistas, e chama-me atenção do mais novinho que, diz: titio eu não conheço a história da Ilha e nem dessa casa grande (Museu), quando o pergunta o motivo de ele não ir até ao Museu e pedir aos guias que lhes falem da história, então me responde: titio desculpa, mas é que quando vamos brincar na porta do museu ou pedir para entrar somos logo mandados embora…

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

É com lágrimas aos olhos que deixei o Museu, comovido, como pode um património da humanidade só estar aberto aos indivíduos de classe média e alta, e os pobres nativos da ilha não têm direito de aprender sobre a sua própria história? Sinceramente, património da humanidade deve ao meu ver, ser da humanidade.

Após sair do Museu, me dirigi a famosa Fortaleza de S. Sebastião, concluída em 1583, tem a configuração de um quadrilátero irregular rematado por quatro baluartes em cada um dos ângulos. Na praça da Fortaleza encontram-se a cisterna e a antiga Igreja de S. Sebastião. Ao chegar na Fortaleza fico encantado com sua estrutura arquitetónica, abandonada, mas parte dela preservada, isso é que é importante, pois dessa forma é que se pode garantir que as gerações vindouras possam a conhecer e a visitar este tesouro moçambicano.Na Fortaleza, deparei-me com os enormes canhões, a igreja, os esconderijos, e sem contar com a deslumbrante paisagem marítima vista de cima.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Foi uma viagem e tanto, terminada a minha visita, ao Museu e a Fortaleza, com uma ligeira fome, decido deliciar algum prato referência local, e questiono a alguns amiguinhos nativos, onde e qual o prático típico da Ilha, fui sugerido a casa de comer da Dona Mariamo como é assim conhecida, e foi me sugerido o prato matapa a siri siri , deliciei-me dela, e claro, levei numa marmita para o jantar.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Conforme a história da Ilha, foram os muçulmanos árabes os primeiros a chegarem e a estabelecerem-se, desenvolveram o comércio e por aí em diante, quando volvidos alguns anos os portugueses ali aportaram, daí que, nas a primeira mesquita de Moçambique sita na Ilha de Moçambique e mais tarde,com a chegada dos Portugueses, surgiu também a igreja católica.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

Mais uma confissão, tanto o lugar e como a matapa (algas com amendoim moído) são de tirar o fôlego, a Ilha de Moçambique é realmente um espectáculo natural.

(Imagem: Reprodução Arquivo pessoal)

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