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Gerhard Liesegang: uma lenda na historiografia moçambicana

(Imagem: Telcínia dos Santos)

 

África é, sem dúvida, um continente dotado de histórias que carecem de ser pesquisadas. Os africanos foram, por muitas vezes, conotados como povos sem história, porque o seu acervo historiográfico esteve sempre limitado às fontes orais. De escrita muito pouco havia. Nessa tentativa de se documentar a história dos povos africanos, destaca-se o papel do investigador alemão Gerhard Liesegang, radicado em Moçambique há mais de 50 anos.

 

Liesegang dedicou meio século da sua vida ao desenvolvimento das ciências sociais e humanas não só em Moçambique, mas em outros países da África austral e ocidental.

 

Com mais de 70 publicações sobre a história de Moçambique, o investigador recebeu uma homenagem organizada por uma associação de investigadores moçambicanos e estrangeiros, denominada Oficina de Historia de Moçambique.

 

A cerimónia, que decorreu no campus da Universidade Eduardo Mondlane, contou com a presença dos maiores historiadores e sociólogos moçambicanos, que também enalteceram o papel incontornável de Gerhard Liesegang na historiografia moçambicana e africana.

(Imagem: Telcínia dos Santos)

Gerhard Liesegang teve o seu primeiro contacto com África ainda na Alemanha, ao desenvolver estudos em sua tese de doutoramento sobre o Estado de Gaza, um dos mais vastos impérios erguidos antes da época colonial em Moçambique.

 

Fixou-se efectivamente em Moçambique no ano de 1977 e, durante o seu percurso, produziu várias obras, em cooperação com o Arquivo Histórico de Moçambique.

 

O seu interesse pela história de Moçambique contribuiu para a reconstrução histórica de algumas localidades moçambicanas, que, até então, quase ninguém se preocupara em pesquisar. Um dos grandes ensinamentos referidos pelos seus colegas cinge-se ao facto de ter conseguido introduzir a utilização da metodologia de fontes orais no processo de pesquisa. O historiador vem de uma época em que as universidades tinham mais professores que estudantes, que o ensino de história nas escolas africanas estava focado apenas no estudo das civilizações ocidentais.

(Imagem: Telcínia dos Santos)

Liesegang acompanhou e fez parte dos processos de evolução das ciências sociais em Moçambique, formulação de currículos, formação de professores e investigadores.

 

Falando durante a homenagem do historiador, o Director do Arquivo Histórico de Moçambique, Joel das Neves Tembe, disse que Gerhard Liesegang é uma figura incontestável da historiografia africana e do mundo.

 

– Acho que é muito difícil falar da figura do professor, penso que é uma pessoa extraordinária que já há 50 anos tem contribuído para o engrandecimento da historiografia africana em particular de Moçambique” – afirmou Joel das Neves Tembe, observando ainda que Liesegang abriu espaço para novas interpretações etnográficas, historiográficas e sociológicas.

 

Desde o seu primeiro contacto com a universidade, compreender o passado sempre o fascinou e, por isso, aceitou o desafio de escalar terras longínquas para desenvolver pesquisas. Para além de publicações sobre a história de Moçambique, Gerhard Liesegang possui publicações diversas em revistas científicas e apresentações de papers em workshops internacionais.

 

O académico leccionou disciplinas ligadas a arqueologia, antropologia, sociologia, e supervisionou aproximadamente 100 trabalhos de fim de curso de licenciatura e mestrado de estudantes moçambicanos e estrangeiros.

 

Actualmente exerce funções de director-adjunto do Centro de Análises Políticas na mais antiga universidade moçambicana, a Universidade Eduardo Mondlane e lecciona nos cursos de mestrado em história de Moçambique e África austral, desenvolvimento rural e sociologia rural.

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