(Imagem: João Paulo Farkas, Amazônia Ocupada, Divulgação)
Um jovem índio yanomami que vivia na região amazônica foi caçar e acabou sendo surpreendido por um garimpeiro que atirou. Aquela tinha sido a primeira vez em que ele entrara em contato com um homem branco.
– Ele vivia na mata e os garimpeiros estavam entrando na terra deles. Eles foram caçar e os garimpeiros viram e atiraram. A primeira vez em que ele viu um homem branco, atiraram nele. E ele foi salvo pelos pilotos dos garimpeiros que ficaram com pena dele e o levaram para Boa Vista – disse João Paulo Farkas, o fotógrafo que narrou essa história para a Agência Brasil e que fez uma imagem do índio baleado, já em Boa Vista, registro esse que integra a exposição Amazônia Ocupada, em cartaz no Sesc Bom Retiro (São Paulo, Brasil), em cartaz até 1º de novembro.
A Amazônia não é rica apenas em biodiversidade, mas também em histórias e conflitos que marcam o imaginário e o noticiário brasileiro. Entre 1984 e 1993, as lentes do fotógrafo João Paulo Farkas registram a região em nove viagens cujo resultado foram 12 mil fotos, das quais 75 delas compõem a exposição.
As imagens, a maioria delas inéditas, narram a ocupação da região, com curadoria de Paulo Herkenhoff. Quinze dessas imagens foram ampliadas e serão expostas do lado de fora do local da mostra, onde há muito tráfego de pessoas e automóveis.
Entre as imagens da exposição, há também o registro dos homens que compõem o outro lado dessa história: os garimpeiros.
– Fomos visitar índios Uru-Eu [Uru-Eu-Wau-Wau] e eles tinham matado um garimpeiro. Os garimpeiros começaram a entrar na terra deles e eles os mataram. Então você via os dois lados da história – contou Farkas, que esteve na região amazônica em diversas expedições e que pretende contar um pouco do que vivenciou por lá por meio dessas imagens, direcionada sempre ao ponto de vista humano.
– Essa história é contada do ponto de vista humano. Há garimpeiros, agricultores, fazendeiros, comerciantes, barqueiros, seringueiros, índios, missionários, prostitutas, pilotos de avião, donos de barcos – relatou o fotógrafo em entrevista à Agência Brasil.
Todas essas histórias são também apresentadas em um vídeo feito especialmente para a exposição.
O primeiro convite que recebeu para fotografar a Amazônia foi feito pelos próprios garimpeiros de ouro e cassiterita, dos garimpos fechados da região onde só era possível chegar por avião.
– Na Amazônia há os garimpos abertos, onde qualquer um pode chegar de carro e há os fechados, onde você só chega de avião. Os garimpos fechados ninguém conhecia. Havia toda uma realidade dos garimpos fechados que são administrados por grandes garimpeiros. Fomos para conhecer alguns desses garimpos e ficamos muito impressionados com aquilo e resolvemos, por conta própria, voltar para retratar essa ocupação que estava acontecendo na Amazônia. E quando a visitamos, você mergulha naquela realidade onde a mata tem uma força, a chuva tem uma força, o ocupante tem outra força. E essas forças estão se digladiando e lutando lá. Então, do ponto de vista fotográfico é muito rico – explicou Farkas.
– Aprendi que a aventura humana é sempre rica em histórias e é preciso dar voz para aqueles que fazem a história todos os dias e não apenas aos grandes fatos e grandes personagens. O brasileiro anônimo nos confins da Amazônia tem muito a nos contar sobre os destinos da região – finalizou o fotógrafo.
A exposição é gratuita.
Informações práticas:
Quando: 25 de julho a 1º de novembro
Horário: Terças e sextas, das 9h às 20h30; sábados, das 10h às 18h30 e domingos e feriados, das 10h às 17h30
Local: Sesc Bom Retiro (Alameda Nothmann, 185, São Paulo)
Informações: (+55 11) 3332-3600