Um passeio pela Soul-Black music que se fez e se faz no Brasil – Alguns intérpretes, compositores, discos e canções
A música é um elo que nos une como comunidade, apesar de vivermos em contextos diferentes e possuirmos uma enorme diversidade cultural. Diversidade esta que se traduz na multiplicidade e variedade de gêneros e ritmos musicais neste universo lusófono. É, portanto, nessa pluralidade que encontramos a miscigenada música brasileira. E é da soul (black) music brasileira que irei falar neste primeiro “encontro oficial” com a nossa comunidade lusófona.
A soul music americana teve grande repercussão e influenciou a música brasileira dos anos 60 do século XX. Wilson Simonal foi um exemplo de tal influência. Entretanto, foi Tim Maia quem consagrou o soul-black brasileiro. Em 1970 gravou seu primeiro disco, “Tim Maia”, que continha a canção “Primavera”, composição de outro ícone da soul music brasileira – Cassiano – que misturava soul e samba, e lançou seu primeiro disco solo “Cassiano, Imagem e Som”, em 1971.
Também em 1970, a soul music brasileira surpreendeu no V Festival Internacional da Canção com Toni Tornado. Nesta década, Tim Maia desfilou sucessos como “Gostava Tanto de Você”, e Cassiano, “A Lua e Eu” e “Coleção”.
No ano de 1975 surge o terceiro grande nome do soul brasileiro, ao lado de Tim Maia e Cassiano – Hyldon – com as cancões “Na Chuva, Na Rua, Na Fazenda”, e “As Dores do Mundo”.
Influenciada pelo funk e pelo movimento black power, equase toda sediada no Rio de Janeiro, a turma do soul brasileiro dos anos 70,revelou nomes como Gerson King Combo (o “James Brown” brasileiro) e Carlos Dafé. Paralelamente, a MPB também absorveu as influências do funk-soul, no samba-soul de Jorge Benjor e Bebeto.
No fim dos anos 70, os bailes black nos subúrbios do Rio de Janeiro deram origem a um movimento de afirmação da negritude que ficou conhecido como “Black Rio”. Tal movimento foi inspiração para batizar uma banda que deu um quê de gafieira ao funk e ao soul. Em 1977, o disco “Maria Fumaça”foi a estreia da Banda Black Rio; banda que ainda hoje existe sob a liderança do tecladista William Magalhães, filho de um de seus fundadores. Cabe lembrar também a importância do pianista Dom Salvador neste movimento.
Os anos 80 revelaram a carioca Sandra de Sá e seus sucessos como “Olhos Coloridos”(do compositor Macau)e “Vale Tudo” (dueto com Tim Maia). A banda Brylho foi outra revelação do soul brasileiro dos anos 80, com seu grande sucesso – a canção “A Noite do Prazer”. Nela estava Claudio Zoli, que mais tarde se tornou um dos grandes da soul music brasileira.
Nos anos 90, Ed Motta, sobrinho de Tim Maia, formou a banda Conexão Japeri e deferiu sucessos como Manuel e Baixo Rio, entre outros. Após a Conexão, Ed sofisticou sua música quando morou nos Estados Unidos e, ao retornar ao Brasil, se aproximou da música brasileira. Em 1997, Ed lançou o disco “Manual Prático Para Bailes, Festas e Afins Vol. 1”, no qual aliou a sofisticação ao pop.
Outros nomes não deixaram que o Soul-Black Brasil ficasse esquecido na segunda metade da década de 90 do século XX e na primeira década do século XXI, mantendo viva a “Música Preta Brasileira” (designação dada por Sandra de Sá). Entre eles: Fat Family, Seu Jorge, Pedro Mariano, Maurício Manieri, Zé Ricardo, Aleh Ferreira, Paula Lima, Racionais MCs, Farofa Carioca, Gabriel Moura, Eletrosamba e Serjão Loroza.
Além destes, existem muitos outros artistas, álbuns e canções que dignificam a tradição da soul-black music brasileira e que no entanto, não foram mencionados. Espero que nesse primeiro encontro tenha despertado a curiosidade da comunidade lusófona sobre a música black que se fez e se faz no Brasil… e que ela possa ir nos embalando até o próximo encontro lusófono.