Exclusivo: a maior “biblioteca” de tecidos do mundo está em Portugal
Sejam muito bem-vindos à maior “biblioteca” de tecidos do mundo. Acabaram de entrar em território português. A Calvelex, empresa têxtil sediada em Lousada (Porto, Portugal), conta com 30 décadas de alfaiataria, perseguindo a distinção pelo rigor e afirmando-se como uma referência – nacional e internacional – na confeção de vestuário feminino de alta qualidade. Ao longo do tempo, nunca parou de crescer e continua a almejar a criatividade no horizonte.
No seu ADN fabril, conta com uma particularidade que ajuda a garantir a sua perpetuação no tempo: uma tecidoteca. Para a maioria, este termo pode suar estranho, mas é a designação correta quando o assunto abordado é o espólio de tecidos. Assim como a palavra biblioteca, segundo o dicionário de língua portuguesa, remete para “um espaço físico em que se guardam livros, dispostos ordenadamente para estudo e consumo”; a palavra tecidoteca significa a mesma coisa, mas, em vez de armazenar livros, conserva tecidos, ordenados por padrões, texturas e cores. Perseguindo o objetivo de lhe mostrar este universo, convidamo-lo a arranjar uma posição confortável e a embrenhar-se na leitura. A palavra de ordem será a moda, alicerçada nas tendências que a tecidoteca da Calvelex vende ao metro. Vamos falar de história.
O maior arquivo de tecidos do mundo
Os protagonistas desta narrativa são os rolos de tecidos amontoados em prateleiras, distribuídas pelo arquivo físico. Cada um tem as suas características: origem, cor, padrão, textura, feitio, etc.. Dentro da tecidoteca, encontramos cerca de um milhão de metros de pano e 20 mil referências já catalogadas. Na sua plataforma online, podem ser encontradas cerca de 7500 referências, faltando 17 mil tecidos por catalogar. A tarefa de organização é demorada e metódica e, ano após ano, são somados mais 600 modelos ao acervo virtual.
Tudo começou há 15 anos, mais concretamente em 2003. Preencher uma lacuna no mercado e transformá-la numa oportunidade de negócio foi o mote para a criação da tecidoteca da Calvelex. Segundo o CEO (diretor-executivo) da empresa, César Araújo, era essencial criar uma plataforma que pudesse ser utilizada pelos jovens designers de moda, sem restrições. Desta forma, foi plantada a “semente” de um novo projeto. “Um designer de moda, quando pretende criar um produto ou uma coleção, é obrigado a comprar 50 ou 100 metros de tecido, independentemente do produto final. Esta tarefa pode revelar-se dispendiosa e, para contornar esse cenário, decidimos criar a Fabrics4Fashion”, adiantou. Esta extensão é conhecida como a tecidoteca cibernética, onde podem ser procuradas as referências de tecido online. “Aqui, nós permitimos que qualquer jovem profissional da área, ainda a dar os primeiros passos, possa comprar os tecidos que pretende ao metro. Deste modo, apesar de sermos o produtor, também passamos a ser vistos como parceiros”, explicou o diretor-executivo da empresa têxtil.
Podemos encarar o Fabrics4Fashion como uma espécie de loja online, onde milhares de tecidos são catalogados para serem vendidos. O conceito de tecidoteca surge porque as referências da matéria-prima podem ser procuradas em inventários, armazenando-se a história em rolos de pano. Entre os 700 funcionários da Calvelex, existe uma equipa de 10 pessoas que se dedica a alimentar o espólio deste projeto. Contudo, a sua concretização “só foi possível devido às infraestruturas da empresa e de todas as pessoas envolvidas, que se foram adaptando às necessidades do mesmo, disponibilizando toda a logística necessária”, garantiu Beatriz Poulson, parte integrante do Fabrics4Fashion. Foram precisos 15 anos de trabalho intensivo para alcançar as 20 mil referências catalogadas; faltam 17 mil. “São muitas referências e é uma missão ambiciosa que leva o seu tempo”, explicou Poulson.
Ao longo do tempo, a Calvelex foi criando um contacto institucional, proporcionando às escolas e universidades portuguesas, relacionadas com a área do design e da moda, um primeiro contacto com um potencial fornecedor. “O Fabrics4Fashion é uma ferramenta que vai possibilitar os novos criadores ou aspirantes a designers de moda a terem acesso a uma variedade muito grande de matéria-prima, nomeadamente tecidos”, realçou Beatriz Poulson. Assim que o novo projeto começou a criar raízes na indústria têxtil, a procura tem evoluído. Além dos novos criadores, a comunicação também pode ser estabelecida pelo consumidor comum, bem como por costureiras ou alfaiates.
O conceito instalado é o do ready to go (entrega imediata): basta aceder ao site do Fabrics4Fashion, escolher a peça, enviar a referência para os responsáveis e o produto é enviado. Além disso, se o comprador assim o desejar, também pode ser efetuado um pedido de amostra de tecido gratuito; para isso, é necessário entrar em contacto com a equipa do projeto e solicitar. Se um jovem designer necessitar de apoio personalizado, o Fabrics4Fashion também concede o pedido. Este precisa apenas de dizer o que pretende para a sua criação e a equipa de profissionais enviar-lhe-á as amostras de tecidos mais indicadas. Facilitar o trabalho a quem está no setor têxtil é a principal demanda.
A magia da produção
Tudo começa num armazém à beira-mar, plantado na Póvoa de Varzim (Portugal). É neste local, extensão da Calvelex, onde está preservado o arquivo físico da tecidoteca. Aqui, os funcionários recebem, analisam, medem, cortam e atestam a qualidade dos tecidos, oriundos de toda a parte do mundo. Depois, estes são catalogados consoante um código numérico, servindo para identificar as características, os preços e os fornecedores da matéria-prima. De seguida, as peças são cortadas para amostra, fotografadas e alistadas online. Esta última tarefa já é realizada na sede da empresa, em Lousada (Portugal, Porto).
O arquivo físico está localizado na Póvoa de Varzim devido às condições climáticas especiais. “Esta região está localizada perto do mar, propiciando um ambiente mais refrigerado. Desta forma, os nossos armazéns conseguem manter uma temperatura abaixo dos 17 graus Celsius, evitando infestações de pragas que possam deteriorar a qualidade dos tecidos”, explicou César Araújo. De uma forma breve, o diretor-executivo da Calvelex descreve o Fabrics4Fashion como um instrumento que ajuda a fazer moda; para isso é necessário apenas “ter bom gosto”. “Quando existem mais de 1000 cores e mais de 20 mil referências, o produto final não ficará apenas pelos tecidos básicos. Este irá ser produzido com uma qualidade exímia”, garantiu o CEO.
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No acervo online, os tecidos estão organizados do mais recente para o mais antigo. Apesar das tendências estarem sempre a evoluir, a catalogação dos artigos permite a compreensão cíclica da origem e da história de determinadas peças, estruturas ou padrões. O sistema vai integrando anualmente 600 novas referências, atualizando o stock disponível. A matéria-prima mais cara é feita de algodão, o padrão é abstrato e a cor é uma mistura de “azul-noite e branco”, enquadrando-se numa tendência “rústico-sofisticada”. Chama-se Midnight Blue & White Stripped Cotton e o metro custa cerca de 65 euros. Já o artigo mais vendido do Fabrics4Fashion possui uma coloração camel, é definido como “never out of style” (nunca fora de estilo), inserindo-se na categoria de básico, adequado para as estações outono/inverno. Chama-se Mid-Weight Camel Wool Crepe e custa cerca de 14 euros ao metro.
A Calvelex é uma empresa reconhecida mundialmente que tenta apostar na antecipação das tendências. Produz mais de um milhão de peças de vestuário por ano, para as mais variadas marcas nacionais e internacionais. Criou uma tecidoteca para crescer e evoluir, proporcionando ao consumidor um serviço pioneiro e abrangente. O título “a maior biblioteca de tecidos do mundo” já foi conquistado e é relembrado pelo CEO de forma orgulhosa.
Para o futuro, não se esperam concursos de reconhecimento como o Guinness World Records. César Araújo garante que não trabalha para angariar prémios, mas sim para fazer negócios. “Queremos crescer de forma sustentável”, explicou, frisando que a Calvelex e todos os projetos que esta abrange são “o melhor que existe; a nata da nata; a cereja no topo do bolo”. Orgulho desmedido de diretor-executivo ou não, a verdade é que não existem muitas tecidotecas nas redondezas. Esta encontra-se sediada em Portugal, acolhida por uma cidade a poucos quilómetros do Porto, reconhecida como o “berço da indústria têxtil e do vestuário” nacional. É uma espécie de caixinha de pandora que, em vez de guardar os males do mundo, está recheada de ideias, cores, brilhos e texturas; tudo sobre o universo da moda… ao metro.
1 Comentário
Excelente artigo!
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