Aliar a gastronomia à libido pode parecer estranho, mas é uma fórmula milenar. Dentro do universo da culinária, podemos encontrar uma panóplia de alimentos afrodisíacos, capazes de saciar a fome dos mais sedentos e audazes. Se procurarmos o significado de afrodisíaco no dicionário de língua portuguesa, encontraremos alguma coisa como: “relativo a Afrodite, deusa do amor”; “que conserva a afrodisia ou a excita”; “substância ou produto que restaura ou aumenta o apetite sexual”. Em termos gerais, são considerados alimentos afrodisíacos aqueles que despertam sensações associadas ao desejo e à excitação sexual – como os aumentos do ritmo cardíaco e fluxo de sangue no órgão sexual, passando pela temperatura e energia corporais. A agência norte-americana, responsável pela fiscalização e regulamentação dos alimentos e medicamentos nos Estados Unidos da América, Food and Drug Administration (FDA) designa afrodisíaco qualquer produto com propriedades naturais que aumentem o desejo sexual.
Ao longo do tempo, foram realizadas várias pesquisas científicas que analisaram a relação dos alimentos afrodisíacos com o aumento do apetite sexual. Embora a maior parte destes alimentos não tenham uma evidência científica que os sustente como benéficos no imediato, segundo vários especialistas, estes podem ter alguns efeitos favoráveis a médio ou a longo prazo na saúde em geral (e sexual, por acréscimo), devido à sua composição nutricional. O poder da sugestão e da antecipação podem motivar o desejo sexual, sendo que o efeito placebo também entra na equação, em prol de uma resposta positiva.
É certo e sabido que o desejo varia de indivíduo para indivíduo – de género para género – e uma dinâmica sexual saudável não se adquire apenas através da ingestão de afrodisíacos. Contudo, à mesa resolvem-se inúmeras questões, desde negócios a assuntos do coração. De um modo geral, as pessoas ficam mais relaxadas enquanto comem, estando mais abertas à conversa, à partilha e à entrega. Em muitas dimensões sociais, o ato de comer surge integrado numa dimensão erótica: as pessoas sentem prazer quando comem (não é por acaso que a gula é um dos pecados capitais). Tendo em conta todos estes fatores, decidimos fazer uma compilação de ervas afrodisíacas que podem ser utilizadas para apimentar pratos e, consequentemente, relacionamentos. Já dizia o velho ditado que a “conquista pelo estômago” pode ser infalível. Para isso pedimos-lhe que tenha em atenção, aquando da degustação dos pratos, o ambiente em que desfrutará da refeição (deverá ser acolhedor e intimista), a iluminação (deverá ser ténue), o cheiro envolvente (deverá ser aprazível) e a temperatura (deverá ser amena). Se conseguir conjugar todos estes fatores, constatará que em questões de cozinha e de amor não existem fronteiras.
É caso para se escrever: vamos a pratos e a temperos.
Açafrão
Esta planta também é conhecida como açafrão-da-terra, açafrão-das-índias, curcuma e gengibre amarelo. É de origem asiática, pertencendo à família do gengibre, cuja raiz dá origem à sua cor: o amarelo intenso. Segundo os levantamentos históricos, a primeira referência literária do açafrão data de 600 a.C., onde este é descrito como uma especiaria corante. Esta tem sido amplamente utilizada como condimento na gastronomia – principalmente na indiana. Contudo, os seus benefícios têm sido investigados além tachos e panelas. Graças à curcumina, nome do pigmento ativo que lhe dá cor, o açafrão apresenta propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e afrodisíacas.
Segundo o estudo do Departamento de Farmacologia do Government Medical College em Bhavnagar (Gujarate-Índia), o açafrão pode atuar contra o colesterol, ajuda a proteger contra degenerações oculares e cancros do cólon, fígado e ovários, potenciando ainda a libertação de serotonina – o neurotransmissor da felicidade. Nos países orientais, esta planta é vista como um vasodilatador, promovendo o aumento da sensibilidade da região genital e, por conseguinte, aumentando a sensação de prazer. Além disso, recentes estudos mostraram que esta também pode ser útil no combate de irritações estomacais.
Propriedades nutricionais à parte, vamos à componente gastronómica. Se quer temperar pratos com açafrão, aconselhamo-lo a não exagerar. Esta planta quando é utilizada em exagero pode deixar a comida com um ligeiro sabor a metálico; tempere com moderação. Normalmente, o açafrão é utilizado para dar cor ao prato e como “os olhos também comem” aventure-se; não há limites na sua cozinha. Deixamos-lhe o risotto de açafrão como sugestão. Só precisa de uma colher deste pó de cor amarela e o resto fica por sua conta. Adapte a atmosfera e voilá: sirva paixão no prato. Para saber mais sobre a receita, clique aqui.
Canela
Antes de mais, é fundamental referir que a canela liberta um aroma muito convidativo e facilmente reconhecível. Tudo o que seja pulverizado com canela aquece. Esta especiaria é extraída a partir da casca interna de várias espécies de árvores da família Cinnamomum. Outrora, já foi mais valiosa do que a prata e o ouro, devido às suas propriedades aromáticas. Segundo alguns estudos científicos, a canela estimula o sistema gastrointestinal, circulatório e respiratório. Além disso, existem registos de práticas milenares que utilizavam esta especiaria para tratar gripes, constipações, febres e bactérias. Quem é que nunca bebeu um chá de limão com paus de canela, para aliviar as dores de garganta ou diminuir os efeitos da rouquidão?
Segundo um estudo realizado pela Associação Americana do Coração (American Heart Association), a canela pode ser utilizada para prevenir acidentes cardiovasculares, ativando as moléculas antioxidantes e anti-inflamatórias do corpo. Além disso, pode ser utilizada no tratamento das cólicas menstruais, do mau hálito e – através da extração do seu óleo – pode ajudar a aliviar dores reumáticas e musculares.
O sabor da canela é inconfundível: é doce e, ao mesmo tempo, apimentado. Normalmente, os melhores afrodisíacos têm um sabor exótico, encorpado e picante. Segundo alguns estudos, a canela pode combater a perda de apetite sexual em mulheres deprimidas. O cinamaldeído – o composto orgânico responsável pelo sabor e odor da canela – é utilizado na fabricação de perfumes. Esta propriedade revelou-se um bom antifúngico, podendo combater a candidíase vaginal. Este óleo essencial também é utilizado para aquecer o corpo e estimular o sistema glandular e circulatório. Por conseguinte, se quiser potenciar o seu desempenho sexual, este agente “facilitador” pode ajudar, já que fomenta a circulação sanguínea.
A utilização da canela na gastronomia não tem fronteiras. Esta especiaria combina com laranja, maçã, chocolate, abóbora ou carne de carneiro. Se gosta de arriscar, arrisque sem receios. Garantimos que o aroma da canela fará metade do trabalho, ajudando a criar a atmosfera perfeita para um jantar romântico e quente. Se quiser seguir a sugestão, deixamos-lhe a receita de um crumble de maçã e canela. Saiba mais aqui.
Cravo-da-índia
Originário da Indonésia, o cravo-da-índia ou o cravinho (Syzygium aromaticum) é uma planta utilizada na fabricação de medicamentos desde a antiguidade. Foi uma das especiarias mais valorizadas no início do século XVI: um quilo valia, aproximadamente, sete gramas de ouro. Segundo alguns estudos científicos, o óleo extraído desta planta é eficaz no tratamento de náuseas, flatulências e indigestão, sendo também utilizado como anestésico e antissético para o alívio de dores de dentes – devido ao eugenol (o seu componente orgânico). O óleo essencial do cravo-da-índia é utilizado na aromaterapia – uma terapêutica complementar que utiliza fragrâncias para melhorar o bem-estar físico e psicológico de um indivíduo –, atuando principalmente no alívio de problemas digestivos.
Na medicina oriental, o óleo do cravo-da-índia é considerado um afrodisíaco. Recorre-se a este extrato para combater a impotência sexual. Além disso, este aumenta a libido e ajuda no controlo da ejaculação precoce. Segundo os resultados de um estudo científico indiano sobre afrodisíacos naturais, o cravo-da-índia pode ser um potente aliado no tratamento de distúrbios sexuais como: a disfunção erétil ou a falta de desejo sexual.
O óleo de cravo-da-índia é muito aromático e é comummente utilizado em banhos de relaxamento. Se quiser comprovar as potencialidades desta planta, não deixe esta hipótese de lado; prepare um banho relaxante para dois. Além de utilizar o óleo, enquanto se banha, pode preparar um cocktail perfumado com cravo-da-índia e canela. Dois afrodisíacos numa receita, o que lhe parece? Explore mais aqui.
Ginseng
O ginseng (panax ginseng) é uma das plantas mais utilizadas na medicina tradicional chinesa. É utilizada como terapêutica há centenas de anos, sendo possível encontrar referências em livros de medicina oriental datados de 43 a.C.. É originária do continente asiático e existem várias espécies. Contudo, para efeitos medicinais o Panax ginseng (ginseng chinês) é o mais utilizado. Aumento da circulação sanguínea, reforço da memória e a estimulação das respostas imunológicas são apenas alguns dos efeitos potenciados pelo ginseng.
De um modo geral, esta planta ajuda o organismo a suportar agressões externas. O ginseng é eficiente a combater a fadiga e o stress, aumentando a capacidade física e mental e prevenindo os efeitos do envelhecimento precoce. Pode ser visto como o “rei” de todas as ervas, sendo considerado um agente promissor no melhoramento do bem-estar geral.
Segundo um estudo científico publicado na PubMed, da National Library of Medicine dos Estados Unidos da América, o ginseng pode ser a resposta natural para tratar a disfunção erétil. Além disso, esta planta ajuda a melhorar o desempenho sexual, através do aumento da libido. Graças aos ginsenosídeos – o seu componente orgânico – a qualidade do esperma pode ser melhorada, garantindo uma melhor função reprodutiva masculina. Os resultados do estudo mostraram que este produto pode facilitar a ereção peniana e ser utilizado como um vasodilatador, facilitando a fluidez libidinal.
Esta planta é vendida em tónicos ou concentrados. Por isso, vamos pelo caminho mais conveniente, evitando os erros de utilização no domínio gastronómico. Enquanto apura o apetite, pode servir um chá bem quente de raiz de ginseng e desfrutar de uma pausa a dois. É muito fácil de preparar. Deixamos-lhe aqui a receita.
Lavanda
A lavanda (conhecida também como alfazema) é uma planta do género Lavandula, da família botânica Lamiaceae. Era frequentemente utilizada pelos gregos e pelos romanos, na antiguidade, para melhorar o bem-estar físico, através de infusões de lavanda que atuavam sobre as dores musculares. Além disso, acreditava-se que a lavanda potenciava a fertilidade. Hoje em dia, o perfume extraído das suas flores é utilizado nas indústrias da perfumaria e dos cosméticos.
O seu óleo essencial é um dos mais utilizados em todo o mundo, devido à delicadeza da sua fórmula. Este tem propriedades tranquilizantes e relaxadoras. É utilizado na aromaterapia para aliviar a tensão muscular e para apaziguar os efeitos de depressão, facilitando o descanso e a revitalização corporais. Alguns estudos científicos descobriram que o aroma da lavanda atua mais no sexo masculino, funcionando como um estimulador sexual aromático.
A lavanda é a planta certa para criar um ambiente despreocupado, calmo e harmonioso. Se pretende despir o stress do corpo, invista numa massagem com óleo essencial de lavanda, a dois. Depois de relaxar, agite os sentidos e prepare um jantar a meia luz. Aposte em velas com aroma a lavanda e deixe o ambiente ganhar perfume. Para a refeição, deixamos-lhe um prato de carne como sugestão: porco aromatizado com lavanda. Para saber mais, carregue aqui.