Ernesto Dabó (Bolama, n. 1949) é uma lenda viva da cultura guineense. Homem polivalente, viajante intemerato, amante de poesia e teatro, formado em Direito Internacional (com uma tese fundamental intitulada PAIGC: da maioria qualificada à crise qualificada), poliglota de sete línguas, colaborador e cronista de tantas e tão variadas revistas e jornais e, sobretudo, reconhecidíssimo pioneiro da moderna música da Guiné-Bissau.
Oriundo de uma fervilhante geração de jovens artistas guineenses, contribuiu decisivamente para a renovação da cena musical da Guiné, integrando como um dos membros-fundadores, no final dos anos 60, os «Cobiana Djazz» e os «Djorson», grupo com o qual gravou o primeiro disco da história sonora de Bissau, em 1972. Foi também vocalista principal da banda «Os Náuticos» (durante os tempos do seu serviço militar na Armada Portuguesa, na década de 70), tendo sido precisamente com esse grupo que se tornaria, em 1971, o primeiro músico guineense a ser divulgado em Portugal, através da televisão pública (RTP).
Em Setembro de 1974 decide regressar à sua pátria, após o fim do domínio colonial português e a subsequente conquista da Independência nacional, para celebrar o nascimento da jovem nação africana. A sua voz clara de ancião e as suas palavras plenas de sabedoria e erudição ancestral galvanizaram o povo guineense a escutar detalhadamente cada nota que emana da sua arte musical, que conjuga o rock, a soul e os ritmos tradicionais. 40 anos depois da proclamação da liberdade guineense, em 2013, lançou o álbum Lembrança, cantando simbolicamente em crioulo as canções que homenageiam a revolução no país de Amílcar Cabral. Desse conjunto de 8 trilhas sugerimos a audição de Djustiça. Uma fiel prova melódica da qualidade imensa da voz de Dabó, pioneiro de uma nação.