Entrevista exclusiva ao Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde
Durante uma visita ao Brasil, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde e Presidente do Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Luís Filipe Tavares, esteve à conversa com a Conexão Lusófona. Neste encontro, foram abordados temas como: a mobilidade, a investigação científica e a promoção da cultura e língua lusófonas.
Como representante de Cabo Verde, país dirigente da CPLP no período de 2018 – 2022, Luís Filipe Tavares voltou a relembrar os três eixos prioritários da nova estratégia em agenda: as pessoas, a cultura e os oceanos. Face aos dois primeiros pilares, o político reforçou que a atuação passa por sedimentar a plena mobilidade dos cidadãos, para que o agregado de países se consolide “numa comunidade de povos” e menos numa “comunidade de estados”. Assim, e também através da contínua difusão da língua portuguesa — um dos principais traços da cultura lusófona — a CPLP irá crescer em harmonia para uma expansão progressiva e favorável.
“Facilitar a mobilidade entre os novos estados-membros da CPLP é muito importante”, assinalou o ministro cabo-verdiano. Depois de apontar as imensas expectativas que as pessoas depositam na agenda política do agregado, e de referir que estas “querem mais mobilidade de artistas, de jovens, de empresários, de académicos”, Tavares garantiu que o caminho primordial será nessa direção. “Queremos começar por aí, garantir que haja mais mobilidade de algumas categorias socioprofissionais e, depois, paulatinamente, alargar esta mobilidade aos demais cidadãos”.
Embora refira que todos estes objetivos são alcançáveis, o dirigente considera que o mundo está “muito complexo” e que, por isso, esta mobilidade só pode ser garantida num quadro de segurança total. Havendo vontade política de parte a parte, algo que é uma certeza do ministro, tudo se fará para que as dificuldades e os obstáculos sejam ultrapassados.
Para perseguir o objetivo de uma plena consolidação da língua portuguesa no contexto da CPLP, Cabo Verde, como país que encabeça a direção, vai promover, este ano (2019), um grande encontro da juventude lusófona. A estimulação da cultura de paz e da cultura de difusão da língua portuguesa, entre os jovens, são as prioridades do evento. Outro dos propósitos é o encaminhamento da comunidade juvenil para um “maior intercâmbio dentro da CPLP”. Além disso, Tavares reforçou que se irão unir esforços para alargar o idioma até ao mais recente estado-membro. “Queremos promover a língua portuguesa na Guiné-Equatorial — desenvolvemos, junto das autoridades locais, um programa intenso de formação e de promoção da cultura lusófona”. Mais uma vez, o político africano garantiu que o panorama atual favorece esta atuação.
A respeito dos oceanos, Tavares realçou a ambição de avançar com mais “investigação científica oceânica”. O objetivo passa pelo desenvolvimento de um programa global, com o apoio dos restantes países, que permita um fortalecimento da presença marítima da comunidade. De acordo com o dirigente, o quadro político que se vive atualmente é favorável a este avanço, uma vez que a cimeira da CPLP deliberou apoiar a promoção e o fortalecimento de economias sustentáveis baseadas no crescimento e na economia azul. O desenvolvimento da biotecnologia azul, o incentivo e a alocação de mais recursos para a investigação, a inovação científica e tecnológica marinhas, a pesquisa interdisciplinar, a observação oceânica e costeira e a cooperação técnica e jurídica são passos cruciais que foram delineados para o cumprimento destes objetivos.
Relação entre Cabo Verde e Brasil
O dirigente cabo-verdiano afirmou que a cooperação com o Brasil continua a ser uma peça fundamental para o país africano. “Quero aproveitar esta oportunidade para desejar as maiores felicidades ao governo brasileiro, do Presidente Jair Bolsonaro, e dizer que Cabo Verde estará sempre disponível para marchar lado a lado com o Brasil: este grande país irmão”, referiu.
Além disso, Tavares assinalou e agradeceu o papel do Brasil no desenvolvimento de Cabo Verde, nomeadamente no que toca à formação da sua população. “Temos jornalistas, médicos, advogados, engenheiros e pessoas das mais diversas áreas do saber” que se formaram em território brasileiro.
Em relação ao contributo para a comunidade, o dirigente deixou claro que espera um grande envolvimento do Brasil nos projetos futuros da mesma. “Acreditamos que o Brasil vai desempenhar um papel importante na CPLP”, disse. O facto de o país africano trabalhar há longos anos nesta bilateralidade lusófona, em vários acordos na área da defesa e da cooperação, faz com que a assertividade de Tavares a respeito da permanência desta colaboração seja irredutível. “Temos uma grande esperança em reforçar as nossas relações, cada vez mais”, concluiu.
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