Você pode citar, e com razão, que o Brasil já passou por muitas eleições presidenciais marcantes. A começar pela primeira de todas, direta e determinada 100% por eleitores, realizada em 1894 (com mais de 200 candidatos!), o 15 de março de 1985 que elegeu o primeiro Presidente civil após 21 anos de ditadura militar, ou até mesmo o 15 de novembro de 1989, a primeira eleição direta do pós-ditadura. Mas nenhuma delas teve a importância que as Presidenciais de 2018 terão na história, e os motivos que sustentam essa afirmação você conhece a seguir.
Também é importante admitir que já houve eleições Presidenciais no Brasil em momentos mais conturbados do que agora (2018). Seja do ponto de vista econômico (exemplo: o ano de 1989, com hiperinflação anual de mais de 1.900%, congelamento de preços, troca de moeda, para citar apenas alguns aspectos caóticos), seja do ponto de vista político (exemplo: o ano de 1964, com grande instabilidade política e econômica que culminou na fuga do Presidente João Goulart e na instauração de uma ditadura militar), ou ainda em momentos de mudanças tão profundas como o fim da monarquia (ano de 1889). Mas as Presidenciais de 2018, apesar dessa forte “concorrência”, contam com a combinação de dois fatores únicos:
O país está unido por um problema maior comum a todos
O que pode ser mais grave do que morrer? Para se combater a corrupção, melhorar a educação, a saúde ou a economia, é preciso estar vivo. Nesse quesito não há direita, esquerda ou centro. Rico, pobre ou classe média. Todos querem o mesmo: diminuir a violência. Em 2017 batemos todos os recordes. 63.880 assassinatos. Sete pessoas assassinadas por hora. Isso é o maior número de homicídios do mundo.
Em época de hiperinflação, o povo sofreu e empobreceu, mas uma parte da elite econômica continuou enriquecendo. O prejuízo, e os interesses, eram segmentados para partes da sociedade. Na ditadura militar, enquanto opositores eram torturados, apoiadores do regime viviam “décadas de ouro”.
Com a violência é diferente. Todos são vítimas, nem que seja de bala perdida. Isso faz toda a diferença, porque nunca toda a população do país teve a emergência de solucionar a mesma coisa. Isso gera a maior mobilização da história, percentual e em número absoluto dos brasileiros, no sentido da busca por uma saída. Cada um vê a solução por um caminho, é verdade, e isso polariza o país, é um fato, mas todos querem resolver o mesmo problema.
Os candidatos nunca dependeram tanto da mobilização dos eleitores
A evolução da democracia brasileira já passou por muito para chegar onde estamos. No início (1821) apenas homens brancos livres podiam votar. Aos poucos incluíram os analfabetos, depois retiraram a possibilidade de votos por procuração, o que reduziu drasticamente as fraudes já que crianças e mortos “deixaram” de votar. Somente em 1945, com a instauração do sufrágio universal, todos, incluindo as mulheres, puderam participar. Em 1964, com a ditadura, o voto voltou a ser indireto, só voltando para o povo em 1989.
O poder de decidir quem governa é uma conquista muito recente. Além disso, até muito pouco tempo as pessoas tinham poder de influência apenas sobre seu próprio voto, ou talvez o dos familiares e amigos mais próximos. Hoje isso mudou por completo.
O número de contas do Facebook (a maior rede social do mundo) no Brasil dobrou desde a última eleição presidencial (comparação 2014 com 2018), chegando hoje a mais de 120 milhões de perfis (Pela primeira vez mais da metade da população). Agora considere também o Instagram, o Twitter, e os grupos de WhatsAapp (para não citar os desvios de conduta dos perfis falsos) e imagine o alcance e influência que uma única pessoa dedicada consegue ter sobre um incontável número de pessoas. São inúmeros os estudos que atestam essa realidade.
Acrescente a esse contexto (redes sociais com o dobro de influência) um ano eleitoral atípico, onde o horário para propaganda política (TV e rádio) foi cortado pela metade após a mini reforma eleitoral que proibiu doações de campanha feitas por empresas. Grosseiramente, é como dizer que as redes sociais nesta eleição estão no mínimo quatro vezes mais influentes do que na eleição passada. As redes sociais nada mais são do que as pessoas. O seu vizinho, o seu porteiro, o seu patrão, o seu funcionário, aquele amigo da pelada e os amigos dele.
(Opinião pessoal) Na eleição Presidencial 2018 a mobilização dos eleitores não apenas fará toda a diferença, como provavelmente decidirá as eleições. E este é um dado adquirido que deve se consolidar para as próximas eleições a partir de agora. É claro que isso tem desafios pela frente, assim como muitos inimigos, como por exemplo as fake news. Mas apesar de tudo isso, podemos dizer que é uma oportunidade inédita e muito positiva para o Brasil. Afinal de contas, diminuir o poder da televisão e seus conteúdos prontos e não interativos, empoderando formas de se comunicar, que apesar de imperfeitas, permitem a existência do debate (ainda que por vezes se transformem em guerras) ao menos transfere parte do poder às pessoas, que afinal é o que interessa numa democracia. Pode anotar. Os pleitos nunca mais serão os mesmos.
Ser a eleição mais importante da história por ser a mais inclusiva, empoderadora dos eleitores e incentivadora de esperança para objetivos comuns da nação, deveria ser por si só o suficiente para gerar um grande senso de responsabilidade em cada eleitor. Mas caso não tenha sido o suficiente, vale lembrar que tudo será decidido apenas no último momento, afinal:
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Essa é, provavelmente, a eleição mais imprevisível de todos os tempos.
Tem se multiplicado o número de artigos e colunas, na imprensa nacional e internacional, que defendem ser essa a eleição brasileira mais imprevisível de todos os tempos. Faz sentido, vejamos alguns fatos:
1. A primeira eleição presidencial com novas regras de financiamento: Por determinação do Supremo Tribunal Federal, as empresas já não podem doar/financiar campanhas. Isso mudou muita coisa, mas sobretudo diminuiu a diferença de orçamento e consequentemente de “poder de fogo publicitário” entre os partidos/chapas maiores e os partidos menores. Aliás, a própria definição de “grande” e “pequeno” está se reinventando. Um partido pode ser menor em acesso a verbas ou número de parlamentares, mas se tem maior mobilização popular na redes sociais por exemplo, potencialmente pode até ser “maior” nas urnas.
2. O Poder da Operação Lava Jato: Os Brasileiros já não aguentam mais corrupção na política, e por isso nunca pesou tanto o fator ficha limpa. Isso significa que qualquer candidato pode sumir da corrida presidencial de um dia para o outro, bastando para isso que apareça algum novo fato mais grave que ponha em causa a sua idoneidade, principalmente com o endosso da Lava Jato.
3. O poder das fake news e algoritmos na web: Os algoritmos, chamados de robôs, capazes de varrer a internet distribuindo uma determinada informação, tornam-se muito perigosos quando usados para Fake News, as notícias falsas criadas, nesse contexto, para difamar um candidato ou valorizar o outro. Não há nada de errado quando informações verdadeiras são distribuídas de forma eficiente. Mas quando são inverdades, cria-se um ambiente injusto de julgamento onde todos perdem. A verdade é que esse fenômeno se tornou tão poderoso, que pode sim, ser decisivo para mudar uma tendência eleitoral, e por exemplo alterar o ganhador de um pleito.
https://www.youtube.com/watch?v=nXTxvocWDVg