A não exploração animal tem imperado, cada vez mais, nas agendas políticas. Consequentemente — e já não deve ser novidade para a maioria da população portuguesa —, a Assembleia da República aprovou o referendo que proíbe o uso de macacos, elefantes, tigres, leões, ursos, focas, crocodilos, pinguins, rinocerontes, hipopótamos, serpentes ou avestruzes nas arenas de circo.
O legado dos animais circenses tem mais de dois séculos. Entre as acrobacias com cavalos e a domesticação dos leões, começou a ser legítimo o aumento ambicioso do número de espécies exóticas, como se fossem troféus — entre muitos outros, exemplificamos o tigre albino ou o “único” hipopótamo amestrado do mundo. Com esta tendência, vieram os maus tratos e as más condições: jaulas exíguas, chicoteamentos, poucas horas de pasto, comida processada, etc.
Nos dias que correm — felizmente! —, o ativismo ganhou uma projeção tremenda, transformando a realidade através de ações e medidas práticas. A brutalidade, a violência, o enjaulamento e as condições precárias deixaram de ser um problema em Portugal. Manter animais em cativeiro passou a ser crime e os circos foram obrigados a abandonarem a tradição (macabra, convenhamos) do aproveitamento animal.
Perseguindo o objetivo de demonstrar que é possível montar um bom número de circo — sem recorrer às acrobacias castradoras dos elefantes ou aos rugidos dos leões submissos —, o alemão Circus Roncalli apostou numa ideia inovadora. Na sua arena, os únicos animais que enfrentam os telespectadores são feitos de luz, resultado dos hologramas em dimensões reais.
O projeto fez eclodir um espetáculo multimédia exuberante, que tem arrecadado rasgados elogios internacionais. Há espaço para peixes-voadores, cavalos vigorosos, elefantes dançarinos e muita animação, tudo em 360 graus e embalado pela música.
A ideia, além de derrubar os cânones da indústria circence, oferece a possibilidade de saborear o melhor de dois mundos: o da tecnologia em harmonia com o dos animais. Talvez seja a ocasião ideal para o nomear como “o circo do futuro”.