O segundo turno das eleições no Brasil decidirá se o novo presidente do maior país lusófono do mundo será o candidato de centro-esquerda Fernando Haddad (PT) ou o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL). Em que medida a opção do povo brasileiro por um ou outro candidato pode influenciar na relação com os outros membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa? Procuramos, baseados nos programas de governo registrados na Justiça Eleitoral e em posicionamentos públicos dos candidatos, apontar algumas propostas ligadas ao tema.
Fernando Haddad
-retomar e aprofundar a política externa e cooperação Sul-Sul (especialmente com a África);
-fortalecer diálogo mundial pela construção da paz e retomar cooperação nas áreas de saúde, educação, segurança alimentar e nutricional, entre outras, em especial com países latinos e com a África.
Fernando Haddad sinaliza retomar a estratégia do ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, chamada de política externa altiva e ativa. Significaria agir internacionalmente para ampliar o multilateralismo – em órgãos como a Organização das Nações Unidas, por exemplo – e dispersar o poder internacional hoje concentrado no Norte do mundo. O plano prevê, ainda, o foco na relação Sul-Sul, com parcerias econômicas e apoios humanitários a países que necessitem, ao contrário do tradicional foco em acordos bilaterais e na relação Norte-Sul. A aproximação a países mais pobres ou em desenvolvimento é uma marca dos governos de esquerda brasileiros, o que rendia críticas de opositores que afirmavam ser uma forma de neocolonialismo.
Jair Bolsonaro
-Ampliação do comércio internacional, reduzindo alíquotas de importação e barreiras não-tarifárias, em paralelo com a constituição de novos acordos bilaterais internacionais;
-Fomentar comércio exterior com países que possam agregar valor econômico e tecnológico ao Brasil;
-redirecionar eixos de parcerias (não há detalhes sobre quais ou como).
Jair Bolsonaro sinaliza a intenção de seguir caminhos conservadores no que diz respeito às Relações Internacionais. Isso se traduz em uma visão liberal da economia externa, na preferência de acordos bilaterais em vez de multilaterais e na aproximação a grandes potências mundiais, nomeadamente os Estados Unidos e a União Europeia, com intenção de parcerias econômicas. O candidato afirma que a estratégia é fazer negócios com todos os países, mas em seu plano de governo o candidato não cita em nenhum momento o continente africano, onde está a maior parte dos países de língua portuguesa e onde há parcerias históricas. Fora Timor Leste (Ásia), Portugal (Europa) e Brasil (América), Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe ficam na África. Jair Bolsonaro também causou polêmica ao dizer, em agosto, que retiraria o Brasil do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). O órgão tem ação contínua em conflitos no continente africano.
Países Lusófonos
Os dois candidatos sinalizam, portanto, direções opostas na Política Externa em relação à Àfrica, o que gera impacto direto nos países lusófonos da região. Não há referências a países específicos e nem ao Timor Leste. Portugal não é citado nominalmente, mas como parte da União Europeia, já que os dois candidatos pretendem ter diálogos com o bloco.
O Brasil terá seu segundo turno neste domingo (28). O país conta com 209 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos quais 147 milhões são eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).