As redes sociais amanheceram em festa nesta quinta-feira (5 de maio) no Brasil. O até então todo poderoso Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, foi afastado pelo juiz Teori Zavascki por usar o cargo para obstruir investigações da Operação Lava Jato. A decisão, que seria referendada pelo restante do Supremo Tribunal Federal na tarde seguinte, não só tira Cunha da Mesa Diretora do Legislativo, mas também o afasta do próprio mandato de deputado federal.
Se o calvário da presidenta da República Dilma Rousseff fosse contado em forma de via-crucis, talvez a estação de número I seria a eleição de Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2015. A aclamação de Cunha com 267 votos, mais do que 100 à frente do candidato governista (136 votos) foi a primeira e uma das mais contundentes derrotas de Dilma desde que iniciou seu segundo mandato, no início daquele ano.
Cunha já havia sido uma dor de cabeça para Dilma em 2013. Então líder da bancada do PMDB, Cunha torturou o governo até os últimos minutos até a aprovação da MP dos Portos, uma medida provisória crucial para Dilma que regularia a exploração de terminais portuários pela iniciativa privada. Foram 41 horas de debate no plenário até que a turma de Cunha topou aprovar o texto. Foi a sessão de maior número de horas da história do Congresso, superada apenas agora, pelos ritos do impeachment de Dilma.
Na Comissão de Ética, Eduardo Cunha tratou de fazer o que faz de melhor: usou um séquito de deputados aliados para intermináveis manobras protelatórias com o regimento da Casa debaixo do braço. O deputado acredita, com certa razão, de que dentro do Poder Legislativo nada o detém. Mas para isso existem três poderes, e puxada de tapete veio do Judiciário.
Estrela de outro escândalo brasileiro, o Mensalão de 2005, o presidente do PTB Roberto Jefferson já chamou Eduardo Cunha de “Meu Malvado Favorito”. Mas a referência hollywoodiana mais adequada para entender Cunha não está no desenho animado. Tampouco seria Frank Underwood, personagem de “House of Cards” com quem Cunha não gosta de ser comparado em razão das experiências homossexuais do personagem americano. A boa referência a Cunha aparece no filme “Advogado do Diabo”, de 1997.
Fascinado pelos holofotes e pelo poder desde que se sagrou presidente da Câmara, Cunha menosprezou um princípio básico da corrupção, quase um mandamento. Quanto mais corrupta for uma figura política, mais discreta ela precisa ser. Assim era Cunha, um parlamentar poderosíssimo, mas discreto nos primeiros três mandatos. Só que mesmo em um cenário de corrupção endêmica como o brasileiro, certos cargos não podem ser exercidos por determinadas figuras sem que os seus podres venham à tona.
As contas de Cunha na Suíça talvez jamais fossem virar manchete de jornal caso o deputado não tentasse a sorte na presidência da Câmara. Talvez o deputado também não perdesse o seu mandato se não tivesse se colocado na linha de sucessão presidencial, dado o iminente impeachment de Dilma. Mas a derrota da presidência iluminou ainda mais a figura nefasta no comando do processo, e agora, em uma canetada, Cunha caiu.
É difícil escolher um vencedor final nesse abraço de afogados entre Dilma e Cunha. A presidente já avisou: uma vez afastada, se recolhe em Porto Alegre para junto dos netos. Cunha, agora de volta à planície por tempo indeterminado, ainda tem um longo processo contra si no Supremo Tribunal Federal. Hoje, ambos são perdedores. Em um futuro próximo, no entanto, é provável que Dilma assista sorrindo, do sofá de casa, a Eduardo Cunha ser efetivamente preso por corrupção.
Um final nada mau para o Malvado Favorito.