Eleições no Brasil: é hora de Aécio repetir Lula
(Imagem: Valter Campanato, Agência Brasil)
Ficou meio escondido lá no meio do caderno de eleições da Zero Hora, mas é de grande valia este texto do Moisés Mendes. Ele mostra como o PSDB, um partido de centro-esquerda na essência, foi empurrado a ombradas para a direita pelo PT, e hoje não sabe mais que espaço ocupar na política brasileira.
O texto vem ao encontro de algo que já vinha me ocorrendo e que as urnas reafirmaram: se quiser um dia retornar à Presidência, o PSDB terá de romper com a direita reacionária da mesma forma que Lula, suavemente, rompeu com o radicalismo de esquerda em 2002.
Aliar-se à militância de extremos – tanto de esquerda quanto de direita – é tentador por se tratar de um pessoal numeroso e barulhento. Mas para contar com o apoio incondicional desses 30% de militares da reserva, dondocas repuxadas e proprietários de caminhonetes, o PSDB foi erguendo um muro cada vez mais intransponível da Bahia pra cima, e ainda causou a repulsa de um eleitor de classe-média que não é nem nunca foi anti-PT. Pelo contrário, votou a vida inteira no partido e seguirá votando enquanto essa for a alternativa menos próxima do Lobão, do Constantino e do Bolsonaro.
Ontem, esse eleitor votou em Dilma Rousseff porque teve medo dos radicais debaixo do guarda-chuva de Aécio Neves como votou em Fernando Collor e Fernando Henrique, no passado, por medo dos radicais debaixo do guarda-chuva de Lula. Aqueles que queriam estatizar empresas, desapropriar fazendas e dar calote no FMI.
Dilma Rousseff foi reeleita com 51,6% dos votos. (Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom, Agência Brasil)
Lula conseguiu acalmar a esquerda tresloucada, já Aécio – embora eu não creia que ele, genuinamente, seja esse tipo de político – pecou em não conter o incêndio de empolgação dos seus militantes separatistas, xenófobos, homofóbicos e afins. É preciso certa coragem e visão estratégica para mandar um aliado calar a boca quando o discurso dele não está ajudando. Aécio não teve. Achou que cada voto tinha seu valor, e ignorou que o voto de alguns poucos repele o de outros tantos.
Dilma venceu, portanto, muito na base dos tiros no pé dos aliados de Aécio. Não fez e acredito que nem fará muito por setores como o movimento LGBT, por exemplo, mas conseguiu passar a mensagem de que Aécio faria menos ainda. Já no eleitor ainda muito dependente de suas políticas sociais, não precisou fazer muito para incutir o medo de que elas estarão em risco caso o PSDB volte ao Planalto. Só abriu o microfone para os próprios militantes da oposição.
Analistas políticos precipitados avaliam que a votação de Aécio o cacifa desde já para a eleição de 2018. Eu creio que não. Aécio atingiu o teto do antipetismo, e ele não bastou: somou 48% dos votos. Como tuitei outro dia, sobraram motivos para não votar em Dilma. Faltaram é motivos para votar em Aécio.
Em 2018, se algum candidato quiser vencer o PT, terá de mostrar que é possível ser tão humanista quanto, porém mais eficiente, responsável e honesto. Latindo contra o PT, só causará mais medo em quem hoje depende do governo dele.
Por essas e por outras, escrevam aí. Com a ressalva de que ainda será colocada à prova sua capacidade de agregar nomes, dinheiro e infraestrutura para um projeto eleitoral de quatro anos, quem sai dessa eleição como o grande nome de oposição para 2018 ainda é Marina Silva.
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