Direita toma posse no Brasil
Após a agitada eleição para Presidente da República do Brasil – da qual saiu vitorioso com 57,8 milhões de votos – o ex-militar e candidato da direita Jair Bolsonaro foi empossado como líder do maior país da América Latina. Também em 1 de janeiro nomeou seus ministros, entre os quais o novo Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Araújo será o responsável pelas decisões políticas na área – que envolvem, inclusive, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Tanto o discurso de posse de Bolsonaro quanto o de Araújo giram em torno de temas como o combate à esquerda, ao Comunismo e ao Socialismo. Em suas visões é este o impedimento do avanço econômico do Brasil. A rota de sucesso seria fazer um governo liberal na economia e conservador nos costumes. Portanto, essa linha também rege a mudança de paradigma nas Relações Internacionais.
Mudança de paradigma
O Brasil sustenta, historicamente, uma tradição diplomática baseada em um posicionamento neutro. Principalmente em questões sensíveis à organização internacional. A neutralidade, porém, a ver pelos discursos, é um dos elementos abandonados pela nova gestão. Como exemplo, o Brasil cancelou o convite a Cuba, Venezuela e Nicarágua, conhecidos governos de esquerda.
Na questão Israel-Palestina, o Brasil pela primeira vez decidiu posicionar-se oficialmente ao lado de Israel. A medida mais forte nesse sentido é o anúncio da mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, território em disputa. Mas o anúncio gerou desconfiança em países árabes e críticas da comunidade internacional.
Na questão da crise interna da Venezuela, o Brasil posiciona-se como mediador entre Nicolás Maduro e seus opositores. A intenção é produzir um acordo interno sem que forças internacionais interfiram na soberania do país. No entanto, Ernesto Araújo já sinalizou oposição direta a Maduro e levará sua posição ao Encontro de Lima. No encontro, líderes americanos discutem – no início de janeiro – uma atuação conjunta em relação ao país vizinho.
Quando fala-se em PALOP, o posicionamento sempre foi de apoio e parceira seguindo a lógica Sul-Sul. Ou seja, cooperação entre partes ao Sul no globo (África-América Latina). A mudança, já anunciada inclusive em época de campanha, é fortalecer laços com Estados Unidos e Europa (Norte-Sul). Isso pode significar menos atenção aos países lusófonos da região.
Europa
Apenas dois dos 28 chefes de Estado da União Europeia estiveram presentes na posse de Bolsonaro: o ultradireitista radical e primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, e o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Portugal tem fortes laços históricos e culturais com o Brasil.
No total, 46 delegações estrangeiras foram à posse – dez lideradas por seu chefe de Estado. Além dos dois europeus citados, compareceram os presidentes latino-americanos Mario Abdo Benítez, do Paraguai; Tabaré Vázquez, do Uruguai; Sebastián Piñera, do Chile; Evo Morales, da Bolívia e Juan Orlando Hernández, de Honduras. Da África – continente sobre o qual declarações de Bolsonaro foram polêmicas – apenas o presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, e o de Marrocos, Saadeddine Othmani. Os outros foram o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo. Dilma Rousseff, em 2011, teve 130 delegações em sua posse, segundo levantamento do Estado de São Paulo.
Quem é Ernesto Araújo?
Nascido no Rio Grande do Sul, o diplomata de 51 anos é associado a posicionamentos conservadores não apenas nas Relações Internacionais. Politicamente, é conhecido por exaltar a política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mas também manifesta-se contra o aborto e usa um viés fortemente religioso, inclusive ao citar trechos da Bíblia em declarações e discursos.
Com formação realizada no Instituto Rio Branco, já serviu junto à União Europeia e na embaixada do Brasil na Alemanha. Desde 2016, era Diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty, sendo, inclusive, responsável pela participação brasileira na Organização dos Estados Americanos (OEA). No entanto, uma das maiores críticas ao diplomata é nunca ter chefiado uma Embaixada, o que o tornaria inexperiente para o cargo.
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