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Crítica musical: Movimento, by Aline Frazão

Chama-se Movimento e é o segundo álbum da Aline Frazão, a cantora angolana mais apreciadas neste espaço. Há cerca de 20 dias que o tenho em rotação, tendo o recebido directamente da cantora. Ossos do ofício. Senti-me privilegiado por ser das primeiras pessoas a ouvir esta obra de arte, estes 52 minutos de música de uma qualidade tal que doía-me não poder a partilhar com alguém. O que vale poder ouvir música tão bela sem ter alguém com quem a partilhar? Hoje, dia 20 de Maio, data de lançamento deste  lindo disco, posso finalmente partilhar convosco a beleza que é o Movimento da Aline.

Foi um imenso prazer ouvir este disco. Surgem, inevitavelmente, comparações com o álbum de estreia da Aline, Clave Bantu. Com 12 faixas, todas originais, Movimento tem mais uma música que Clave Bantu e quando chega ao fim deixa-me com água na boca; quero mais. Como sempre, gosto mais de algumas músicas do que outras. Mas tema por tema, geralmente as músicas do Movimento têm melhor lírica, uma melodia mais memorável.  E é mais introspectivo. Ouve-se uma cantora em ascensão, com cada vez mais auto-confiança, mais maturidade, mais segura de si mesmo e do seu talento. Nota-se que a Aline arriscou mais, soltou-se mais um pouco, voou mais alto.

Movimento inicia com As Paredes do Mayombe, que não é das minhas preferidas nem das músicas mais memoráveis. O álbum melhora com Cacimbo, uma linda melodia e letra; a seguir vem Desassossego, uma letra do conhecido poeta e escritor angolano Carlos Ferreira ‘Cassé’. Porém, o trecho mais forte do disco são as faixas 4 a 9; é neste trecho onde são encontradas as melhores músicas deste querido disco.

Para mim, Tanto (a quarta música) tem a melhor letra do disco e acredito ser a melhor música da Aline de sempre. O brilhante vídeo da música, publicado aqui, é quase tão bom como o tema. Foi aqui que parei de ouvir o álbum; fixei-me só no Tanto e só depois de o ouvir um par de vezes consigo continuar. É quase sempre assim. Depois do climax do Tanto vamos ao encontro de Crónica de um (des)encontro, outro bonito tema que merece especial atenção. Também é das músicas mas bem conseguidas do Movimento.

Nossa Festa e Poema em sol poente crescem com o tempo; na primeira audição não me chamaram muita atenção, mas com o passar do tempo apaixonei-me com a letra da Nossa Festa. Hoje é dos meus temas preferidos neste disco. Chegamos então ao Lugar Vazio. Depois de Tanto, esta é a minha música preferida em Movimento. Gosto mais da letra do Tanto, mas em termos de melodia Lugar Vazio ganha. Que música mais bonita. Também aprecio muito a letra d’A cidade que eu habito; Entre as três ultimas, Ronda, Kalemba e A última bossa, o destaque vai para Kalemba, brilhante na sua simplicidade.

No fundo, Movimento faz-me lembrar de Luanda, de casa. Faz-me lembrar da minha família, dos meus amigos, dos amores do passado, e isto faz-me sentir bem. Para mim o Movimento é uma viagem por sonora pela nossa Luanda de hoje, pela voz marcante, familiar, calorosa que é a voz da Aline.

Recomendo. Mesmo.

(Texto originalmente publicado no blog Capirinha Lounge)

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