Em Angola, rock está em ascensão.
Apesar deste estilo de música estar presente em Angola desde os primeiros dias da sua existência como país, e apesar do rock ser o foco principal do programa Volume 10, que passa na Rádio FM/Rádio Escola há 17 anos, talvez só agora é que podemos dizer que o rock está realmente a ganhar espaço e popularidade. O primiero álbum de rock angolano só foi lançado em 2006 – o Innocence Fall in Decay da banda Neblina – e até hoje continua o stigma e a controvérsia acerca deste género musical. Porém, começa-se a notar algumas mudanças nos níveis de aceitação do rock.
De todos os estilos musicais que foram chegando ao país, o rock é o que mais sobrancelhas tem levantado. Ou melhor, levantava. Porque agora, vê-se que o rock está a ganhar o seu espaço. Observa-se isso em Luanda: cada vez mais lugares albergam concertos de rock e cada vez mais gente aparece neles. O Elinga, um espaço cultural único em Luanda, alberga concertos e eventos de rock regularmente (os famosos Elinga Rock Sessions) enquanto que o King’s Club na Vila Alice, que sempre foi o ponto de encontro para os amantes de rock, continua fiel a si mesmo. O blog RockLuanda é paragem obrigatória para todos que queiram saber mais sobre o rock em Angola bem como participar em eventos do género não só em Luanda mas também em Benguela e no Huambo, duas cidades onde o rock angolano respira saúde. Até existe um documentário – Death Metal Angola – sobre os corajosos manos por trás do primeiro festival nacional de rock em Angola (são eles também que gerem o orfanato Okutiuka), com os efeitos da guerra como pano de fundo.
É precisamente neste clima que surge uma nova banda de rock angolano, de nome Café Negro. Composto pelos membros Ary, Eddy British, Jô Batera, Maiô Bass e a surpreendente Irina Vasconcelos nos vocais, a banda lançou o seu primeiro álbum, A Safra, em Abril de 2012. Mas mesmo antes disto, já andavam na boca do público e a partilhar vídeos online; foi sobre eles que a Marissa Moorman do blog Africa is a Country escreveu um pequeno post em Janeiro do ano passado.
A banda define o seu estilo do música como “pop rock alternativo” e A Safra é exactamente isso. O álbum parece ter sido concebido para o público em geral – um público que tem pouca exposição ao rock. Dito isto, os amantes do rock propriamente dito podem achar os ritmos e melodias deste álbum um tanto quanto previsíveis. A maioria das músicas parecem seguir o mesmo padrão sonoro, tornando a sua estrutura um tanto quanto repetitiva. Outro pequeno capricho que tenho com o álbum é facto de várias músicas serem em inglês. Creio que estão no seu melhor quando cantam mesmo em português. Com isto em mente, a melhor faixa do disco é de longe Kilapanga do Órfão. É precisamente nesta música que se vê o grande valor desta banda: nunca antes tinha ouvido, nem sei se alguma vez antes existiu uma mistura de kilapanga (ritmo tradicional do norte de Angola) com elementos de hard rock e letra em português. O resultado é excelente. Outra faixa que bastante aprecio é Incerto – aprecio a letra mas aprecio mesmo a voz da Irina Vasconcelos. Que voz.
Desde mesmo antes do lançamento do seu disco, a banda Café Negro tem sido muito bem recebida em Angola e é presença cada vez mais frequente em concertos de rock mas também de música em geral. Neste momento trabalham no seu segundo álbum. A meu ver, a banda está no seu melhor quando faz música como Kilapanga do Órgão…é algo novo, único…é algo só deles, que só o seu grupo criou – um novo panorama sonoro usando géneros e sons que nunca antes foram misturados. Creio que se continuarem neste espírito e apostarem no novo em vez de repetitivos arranjos sonoros com letras em inglês, deixarão um maior e mais nutritivo legado.
(Texto publicado originalmente no site Caipirinha Lounge)